CURTA CINEMA (24 a 31 de outubro ) – Júri oficial
Um grito desesperado que vem da periferia. Pobres sucumbindo diante da sanha desenvolvimentista de endinheirados que não se importam em desalojar, se isso garantir o dito “progresso” que, a bem da verdade, apenas favorece a meia dúzia de afortunados. Estamos Todos Aqui mescla habilmente documentário e ficção, mantendo propositalmente borradas as fronteiras entre os âmbitos narrativos. A protagonista é Rosa, transexual que está construindo um barraco na região de mangue prestes a ser desapropriada para dar lugar a uma rua. O curta-metragem aborda questões de estratificação social, observando situações de vulnerabilidade, perscrutando vielas improvisadas e semblantes carregados por uma opressão de diversas fontes. Rosa, a figura principal, perambula por esse espaço praticamente insalubre tentando entender suas dinâmicas, buscando informações acerca de projetos de realojamento. Despejada de casa por conta de sua identidade de gênero, ela carrega, assim, os estigmas relacionados a diversos preconceitos acumulados. Suas falas são como vociferações virulentas contra os poderes que, primeiro, tentam reger seu corpo, e, segundo, restringem seu espaço de permanência em virtude da falta de dinheiro, o combustível de um mundo essencialmente excludente. Estamos Todos Aqui não demonstra o desejo de esgotar questões, mas de deixar expostas determinadas feridas que sangram a revelia dos machucados. As paredes com marcas de condenação, o corpo vigiado de quem deseja a liberdade, tudo isso se imbrica no curta, criando uma energia de revolta que, por si, já justifica a existência do filme.
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