CURTAS BH (10 a 19 de agosto) – Júri Oficial
A reconexão da cineasta Ana Pi em NoirBLUE: Deslocamentos de Uma Dança se dá através do movimento, da coreografia que gradativamente lhe ajuda a desvelar o continente de sua origem. A dança contemporânea estabelece uma ponte com os movimentos ancestrais da África, com as peripécias de jovens que igualmente utilizam o corpo enquanto ferramente da expressão. A narração não se sobrepõe à imagem, mas a completa no sentido de robustecer uma experiência íntima e pessoal. Na medida em que a dançarina-cineasta toma contato com a língua, refletindo acerca das violências colonizadoras, tais como a herança da fluência no idioma francês, há uma clareza histórica intrínseca ao relato da conscientização. O procedimento é essencialmente poético, com os fragmentos de imagem sendo nutridos por palavras distantes do colóquio, pois a serviço de uma reflexão identitária profunda. NoirBLUE: Deslocamentos de Uma Dança é uma performance reflexiva, e nisso estabelece sua singularidade. Sem construir percursos estruturados para oferecer uma experiência retilínea ao espectador, Ana Pi faz de sua jornada íntima um farol de engajamento e ponderação sobre História, memória, herança cultural e projeção do porvir que tem de levar em consideração o ontem. Um belo curta-metragem que convida a sentir o percurso da protagonista-condutora, oferecendo uma nesga de sua experiência definidora no continente africano que acolhe os retornos dos bons filhos.