CINE CEARÁ (4 a 11 de agosto) – Júri oficial
No sertão, o menino Leandro (Juan Calado) sente falta da mãe que se fora. Durante a lida na lavoura com o pai, encontra uma caixinha de música e se encanta com a melodia enigmática que dela emana. A professora, vivida por Hermila Guedes, esclarece a ele que as notas vêm do musical Cats, encenado na longínqua Big Apple norte-americana onde, segundo ela, todos os sonhos são possíveis. Nova Iorque, vencedor do Cine Ceará, é um belíssimo drama sobre a afeição que se desenvolve entre duas carências, a da criança que enconde seus tesouros no terreno arenoso da região, recorrendo a eles ocasionalmente a fim de aplacar suas tristezas, e a da mulher que vela a mãe acamada, cujas aspirações já passaram pela capital longe daquela secura. O cineasta Leo Tabosa confere espaço ao lúdico, colocando em cena um gato marionete toda vez que Leandro está cabisbaixo ou diante de um infortúnio. O garoto, ele próprio um possível decalque dos protagonistas da famosa peça da Broadway, tal e qual um felino, confia à terra seus pertences importantes, distanciando-os da vista de quem porventura possa danifica-los e, por conseguinte, fazer mal a ele. Essa trama realista com toques de fábula e lirismo é marcada, ainda, por constantes males acometendo o protagonista, seja os provenientes dos meninos briguentos que nele batem ou mesmo a febre que aparece frequentemente. Nova Iorque ainda conta com Marcélia Cartaxo, como uma mulher drenada, tornada emocionalmente inóspita, provavelmente, pelos mesmos poderes nefastos dos quais a professora escapa em busca de uma vida melhor, com espaços generosos para a realização de desejos e anseios.
