FESTIVAL CURTAS SP (21 de agosto a 1 de setembro) – Prêmio Revelação
O Arco do Medo, de Juan Rodrigues, é um manifesto de reapropriação e insurgência. O protagonista é um homem negro, um corpo negro que com suas atitudes reivindica tudo aquilo que as antepassadas não puderam usufruir. Com a sobreposição de uma narração que contextualiza a imagem num aspecto histórico de resistência, o curta-metragem mostra o homem gradativamente se desvencilhando da figura socialmente aceita, montando a personagem que amalgama os anseios frustrados da mãe, tia, irmã e avó. A afronta vem justamente da disposição por deflagrar as impossibilidades de outrora e transforma-las em artifício de manobra rumo a uma desconstrução bem-vinda, por meio da qual o rapaz se vale de maquiagens, roupas e trejeitos para forjar sua singularidade. Juan Rodrigues é sucinto, um predicado no atual panorama de curtas prolixos. De maneira incisiva, mas também poética, entrelaça elementos para discutir identidade, memória, a fim de perceber as violências que se abateram sobre ascendentes, especialmente as mulheres negras que tiveram negados direitos e vontades. O Arco do Medo traz à tona esse manancial de discussões, não oferecendo respostas, mas indagações de forte carga retórica que remontam, especialmente, à gênese de preconceitos infelizmente enraizados na sociedade brasileira, a nódoas difíceis de apagar, sobretudo nos dias de hoje. É proposto um bem-vindo caminho da resistência e desacato, um direcionamento à insurgência tão necessária.
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