FESTIVAL DO RIO (1 a 11 de novembro) – Júri oficial
O Órfão, vencedor do Festival do Rio na seara dos curtas-metragens, aborda, concomitantemente, a situação de orfandade e diversos preconceitos amalgamados. O protagonista é Jonathas (Kauan Alvarenga), menino negro e homossexual que passou por malfadados processos de adoção, como bem sabemos no desenrolar parcimonioso da trama. Mais detidamente, acompanhamos os pormenores de uma nova tentativa, na qual ele provavelmente enfrenta os problemas de sempre, com os novos pais sucumbindo aos próprios preconceitos, imaginando, a partir de seus pontos de vista carolas e restritos, coisas como a cena inundada de purpurina e brilho quando se deparam com o menino passando batom. A cineasta Carolina Markowicz, de maneira sintética e incisiva, coloca em jogo as questões importantes que norteiam o filme, abordando especialmente a personalidade e os anseios de Jonathas, interpretado com muita singeleza e força por Kauan Alvarenga, com bastante sensibilidade. Sobressai, também, a qualidade da direção de arte, que cria espaços simbólicos por si, como os depauperados cômodos do orfanato, a sala da diretora vivida por Clarisse Abujamra repleta de caixas avolumadas na parede lateral – que denotam a quantidade de “casos” –, e a residência dos pais de ocasião, encarnados por Georgina Castro e Ivo Müller, um espaço conservador que determina o rechace ao menino que apenas deseja ser amado e se expressar livremente. Somadas à elegância da câmera de Carolina, as interpretações se encarregam de expor circunstâncias representativas de dramas infelizmente cotidianos.
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