“A resistência, em Ilhas de Calor, passa pelo afeto compartilhado entre os estudantes secundaristas de uma escola pública alagoana. Diante da atualidade parcialmente desdenhosa do conceito de educação para todos, na qual alguns setores, velada ou descaradamente, pregam a torpe elitização da circulação de conhecimento, o curta-metragem de Ulisses Arthur surge como uma lufada de esperança por valorizar carinhosamente esse lugar. Isso por meio da liberdade da linguagem que privilegia a eletricidade própria da mocidade, algo que perpassa o conjunto. No filme, professores poetas não são utopias e, portanto, figuras inalcançáveis. Estão ali, disponíveis para orientar o percurso dos alunos que têm dinâmicas de interação bastante particulares, entrecortadas por experimentações e doses significativas de doçura transbordante dos gestos e das trocas (…) Fora estritamente do ambiente da sala de aula, no pátio ou nas circunvizinhanças do mesmo, sintomaticamente trajados com o uniforme da escola, os personagens ganham espaço para desvelar seus desejos – vide os olhares trocados que denotam, desbragadamente, um querer mútuo. Ademais, demonstram a infantilidade que gradativamente perde espaço às demandas da vida adulta. Uma das sequências mais bonitas do curta-metragem é a que tem vários e pequenos enfrentamentos, com vassouras substituindo espadas e as tensões sendo representadas numa chave tão lúdica quanto natural. É pungente essa narrativa demarcada por uma intensidade juvenil”.
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