“Da forma como chega à tela, propositalmente cru, tal um projétil que se estilhaça em direção ao alvo e, assim, causa mais danos, Copacabana Madureira cumpre a função de deflagrar o estrago enorme proporcionado pelas fake news, algo infeliz e absolutamente contemporâneo. Em meio a colagens e justaposições, o realizador encena a famigerada “mamadeira de piroca” sendo apresentada a uma atriz, por exemplo. Ela faz às vezes de “cidadã de bem”, a julgar pelo horror ao receber a informação estapafúrdia via celular e, prontamente, nela acreditar. É fácil reconhecer o discurso absurdo dos anacrônicos, sobretudo os que adoram tachar o que lhes opõe de levante comunista. O filme toma uma posição e a defende (…) O filme vai construindo um discurso indignado, inclusive em certo momento, ainda que brevemente, voltando-se na direção de determinada oposição esquerdista que acredita piamente na efetividade de uma resistência somente por meio de meras hashtags. Há dramatizações pontuais de gente recebendo lorotas no celular, no que pode ser compreendido como reconstituição de um crime eleitoral que passou relativamente batido por nossas autoridades dispostas a fazer vista grossa. Num todo tão incisivo e corajoso, até mesmo o arroubo cômico vem carregado de iconoclastia”.

:: Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller ::

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.