Ator, roteirista e diretor, Harold Ramis era um profissional de Hollywood dedicado a fazer o público rir. Talvez por isso não tenha recebido em vida os louros que merecia. Sabemos que artistas que apostam nas piadas em detrimento do drama não são vistos com a seriedade que poderiam. No dia 24 de fevereiro de 2014, Ramis perdeu a luta contra uma rara doença autoimune e deixou Hollywood menos alegre. A morte do cineasta, aos 69 anos de idade, gerou diversas homenagens da comunidade artística (dentre eles, Judd Apatow, Dan Aykroyd, Bill Murray falaram sobre o amigo) e até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, publicou uma mensagem lembrando o artista.
Nascido em 21 de novembro de 1944, em Chicago, Illinois, Harold Ramis teve seu início de carreira como roteirista de televisão, no programa Second City TV, show que revelou nomes da comédia como John Candy, Rick Moranis e Eugene Levy. Para passar ao cinema foi um pulo. Entrando no grupo National Lampoon, Ramis assinou o roteiro de filmes de sucesso como O Clube dos Cafajestes (1978), Almôndegas (1979) e Recrutas da Pesada (1981). Neste último, estreou como ator no cinema, fazendo dupla com Bill Murray, amigo com quem faria diversos filmes no futuro – incluindo seu papel mais conhecido nas telonas, o doutor Egon Spengler, de Os Caça-Fantasmas (1984) e Os Caça-Fantasmas 2 (1989), filmes em que dividia o trabalho no roteiro com o também amigo Dan Aykroyd. Como ator, faria algumas pontas em Os Cabeça-de-Vento (1994), Melhor é Impossível (1997) e Ligeiramente Grávidos (2007). Mas sua atividade principal eram os roteiros e a direção. Por isso, o Papo de Cinema presta homenagem ao já saudoso Harold Ramis compilando os cinco melhores trabalhos de sua filmografia como diretor, em ordem cronológica. E se o seu favorito não consta na lista, use os comentários abaixo para fazer justiça a sua comédia predileta.
Primeiro longa-metragem dirigido por Harold Ramis, Clube dos Pilantras tem no elenco de estrelas da comédia seu maior destaque. Chevy Chase, Rodney Dangerfield e Bill Murray estão à frente do cast desta produção que consegue fazer o golfe algo divertido. Na trama, um “caddy” (figura que leva os tacos para os jogadores) sonha em se formar na faculdade e precisa do dinheiro deste trabalho para seus objetivos. Quando acontece uma verdadeira batalha entre membros do clube de golfe e um ricaço que pretende transformar todo aquele espaço em condomínios de luxo, tudo pode mudar. Inclusive a vida deste caddy, vivido por Michael O’Keefe. Sucesso moderado na época, com o tempo, Clube dos Pilantras ganhou status de cult, como uma das grandes comédias da sua geração.
Com roteiro do saudoso John Hughes, Férias Frustradas foi o segundo sucesso seguido de Harold Ramis como cineasta. Novamente com Chevy Chase no elenco, o filme conta a história da azarada família Griswold, na tentativa de chegar a um parque de diversão famoso chamado Walley World – qualquer semelhança com Disney World, não é mera coincidência. As desventuras dos Griswold vão desde serem passados para trás por um picareta vendedor de carros, passando pela morte de uma velha tia até chegar ao tão esperado local, inevitavelmente um parque que não respondia às expectativas da família. Férias Frustradas conta no elenco com Beverly D’Angelo, Michael Antony Hall, Eugene Levy, John Candy e Randy Quaid.
Sem dúvidas, o melhor filme assinado por Harold Ramis, Feitiço do Tempo parte de uma premissa fantasiosa para mostrar a mudança no comportamento de um homem cínico. Bill Murray é Phil, o “homem do tempo” de um canal na Pensilvânia que precisa ir até o condado de Punxsutawney para cobrir o Dia da Marmota. Detestando a tarefa, Phil vai até a cidade e, surpreendentemente, começa a viver o mesmo dia a cada nova manhã. Ramis e o co-roteirista Danny Rubin foram indicados e venceram o Bafta (principal premiação do cinema britânico) com seu roteiro original, mas foram completamente ignorados pelo Oscar. Uma lástima, visto que o script, além de divertidíssimo, coloca diversas situações que nos colocam a pensar: o que faríamos em uma situação dessas? No elenco, Andie McDowell, Chris Elliott e Stephen Tobolowsky.
Não tão conhecido com os demais desta lista, Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias ganha pontos pelo inusitado. Na época em que todos falavam da ovelha Dolly e da polêmica da clonagem, Ramis resolveu fazer uma comédia na qual brincava com o conceito. Para isso, chamou Michael Keaton, que se divide em quatro para viver Doug, um homem atolado em trabalho e cheio de responsabilidades com sua mulher e filhos que, depois de um encontro de oportunidade, contrata um serviço de clonagem. Com Doug 2, ele teria tempo para descansar enquanto o outro trabalharia em seu lugar. Os planos não dão muito certo e ele precisa fazer um terceiro Doug, que dê conta dos afazeres da casa. E um quarto acaba sendo criado para fazer companhia aos demais, este não saindo tão bem como deveria. Com uma ótima performance de Michael Keaton, divertidíssimo como o protagonista, e com um roteiro original e cheio de boas idéias, Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias deveria ser mais conhecido. Tem bons efeitos visuais para a época e a presença de no elenco de Andie McDowell e Eugene Levy, ambos dirigidos anteriormente por Ramis.
Ainda que Robert De Niro tenha estreado no gênero com Martin Scorsese em O Rei da Comédia (1983), o ator viria a fazer graça realmente em Máfia no Divã. No filme, o eterno Jake LaMotta interpreta o mafioso Paul Vitti, homem que passa por problemas psicológicos e não consegue mais fazer seu trabalho. Para resolver isso, Vitti recorre aos trabalhos do psiquiatra Ben Sobel, interpretado por Billy Crystal. O humor fica por conta da disparidade entre as personalidades do doutor e do mafioso. Este se vê obrigado a abrir sua intimidade, enquanto o primeiro passará por apuros quando a máfia começar a perceber que algo não está certo com seu cliente. A química entre De Niro e Crystal é ótima, rendendo uma continuação que, infelizmente, não repete a qualidade do original, também dirigida por Harold Ramis.