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Mario de Andrade: O Turista Aprendiz (2025) chegou recentemente aos cinemas contando de maneira muito criativa a viagem de Mario de Andrade, um dos principais expoentes do modernismo brasileiro, pelo Rio Amazonas nos anos 1920. Dirigido pelo experiente e conceituado Murilo Salles, o longa-metragem brinca com a própria linguagem para narrar essa jornada em que um dos destaques da Semana de Arte Moderna de 1922 entrou em contato com o Brasil profundo que ele conhecia apenas de ouvir dizer.

Mario de Andrade: O Turista Aprendiz chegou recentemente aos cinemas de SP, RJ, PR e MT, mas a partir desta quinta-feira, 03, ele expandirá seu circuito para mais cidades. E nós listamos cinco (de muitos) motivos para você ir correndo aos cinemas conferir o filme. Lembrando que é muito importante assistir às produções brasileiras nas suas primeiras semanas em cartaz para garantir que elas consigam permanecer mais tempo nas telonas e chegar a mais pessoas.

Mário de Andrade:

1. MARIO DE ANDRADE

Mario de Andrade nasceu em São Paulo e foi poeta, contista, cronista, romancista, musicólogo, historiador de arte, crítico e fotógrafo brasileiro. Trata-se de um dos nossos principais intelectuais do século 20, alguém que revolucionou a poesia com a publicação de Pauliceia Desvairada em 1992. Um dos pilares e forças motrizes da Semana de Arte Moderna de 1922, ele é mais reconhecido por aquela que muitos consideram a sua obra-prima: Macunaíma. Publicada originalmente em 1928, ela conta a história de um “herói brasileiro sem caráter” em tom de fábula. Mario viajou durante as primeiras décadas do século passado pelos interiores do Brasil coletando informações sobre culturas, costumes e folclores, se aprofundando nesse país-continente. Suas andanças renderam um diário chamado O Turista Aprendiz, que foi publicado em capítulos no jornal O Diário Nacional, sendo compilados anos anos 1970 em livro. É disso que fala esse ótimo filme.

2. MURILO SALLES

Alguns dizem que apenas um grande artista pode reconhecer plenamente outro grande artista. E esse parece ser justamente o caso em Mario de Andrade: O Turista Aprendiz. O experiente cineasta Murilo Salles se apropriou não apenas das histórias de Mario de Andrade, mas da linguagem modernista para contar essa jornada em tom de fábula e com notas consideráveis de invenção. Nunca abdicando do bom humor, ele faz uma ode a Mario e a todos que “viajam” em busca do novo. Murilo Salles começou dirigindo curtas-metragens e depois trabalhando como diretor de fotografia, estreando em Tati, a Garota (1973). Depois de diversos trabalhos com fotografia, entre eles Dona Flor e Seus Dois Maridos (1978), ele comandou o documentário Essas São as Armas (1978). Seu primeiro longa de ficção foi Nunca Fomos Tão Felizes (1984), no qual também é roteirista. Desde então, Murilo comandou Como Nascem os Anjos (1996), Nome Próprio (2007), entre muitos outros. Ele foi cinco vezes indicado ao Prêmio Guarani do Cinema Brasileiro – vencendo em quatro oportunidades. Olha o aproveitamento.

3. O FILME É ENGRAÇADO

Toda vez que falamos de um cinema mais experimental, que foge da linguagem naturalista em prol de uma invenção formal, boa parte do público fica com um pé atrás. Será que estamos diante de um daqueles exemplares sisudos que fazem malabarismos e acabam se tornando somente atrativos para quem tiver uma boa noção prévia do protagonista? Nem um pouco. Entre as várias utilizações da estética e da narrativa modernista em Mario de Andrade: O Turista Aprendiz, o bom humor é uma das mais bem-vindas. Murilo Salles preserva essa natureza meio de Chanchada, às vezes quase piadística, de boa parte dos exemplares modernistas. Então, por mais que estejamos vendo um intelectual sendo apresentado a mundos novos ao longo do Rio Amazonas, isso não inviabiliza o humor, as passagens engraçadas que resultam de uma espécie de carnavalização muito comum às Chanchadas brasileiras. Você vai ser surpreender ao ver como esse filme é espirituoso e engraçado, mas não de modo banal. Até porque a comédia faz parte do modo como o protagonista elabora suas experiências.

4. LINGUAGEM CRIATIVA

Mario de Andrade: O Turista Aprendiz não é apenas uma história interessante, mas muito bem contada. Murilo Salles opta por mesclar imagens pré-gravadas com encenação feitas em estúdio, ou seja, temos imagens em que convivem diversas texturas. Isso dá uma dimensão de fábula à viagem do modernista autor de Macunaíma pelo Rio Amazonas em 1927. Nessa jornada repleta de descobertas pelo Brasil profundo, um dos protagonistas da Semana de Arte Moderna de 1922 é transformado e isso está impresso audiovisualmente. O experiente cineasta cria uma narrativa praticamente onírica que impossibilita a dureza do realismo, ou seja, insere os personagens num limiar nem sempre claro entre a imaginação, o sonho e o testemunho, assim atribuindo à viagem um caráter simbólico impressionante e muito criativo.

5. O ELENCO

Mario de Andrade: O Turista Aprendiz conta em seu elenco com Rodrigo Mercadante, Dora Freind, Dora de Assis, Lorena da Silva e Zahy Guajajara. É uma mescla interessante de intérpretes do teatro, do cinema e da TV que funciona muito bem. Tivemos a oportunidade de conversar com Rodrigo Mercadante a respeito de como foi viver Mario de Andrade nos cinemas – e a semelhança física alcançada por meio da caracterização é impressionante. Confira abaixo um trecho da nossa conversa com o protagonista deste filme que, indicamos fortemente, você vá conferir num cinema mais próximo de você. Caso o filme não esteja em cartaz em suas redondezas, pergunte no cinema quando ele estreará aí, assim demonstrando interesse e ajudando que esse belo exemplar brasileiro chegue o mais breve possível até você.

 

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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