O filme brasileiro Reis e Ratos, com direção de Mauro Lima, é uma produção que brinca com o clima paranóico e conspiratório que existia no Brasil pré-golpe militar de 1964. Selton Mello é o protagonista, repetindo uma parceria bem-sucedida com o diretor, com quem fez Meu Nome Não É Johnny (2008). Mello interpreta o agente norte-americano Troy Somerset, da CIA, que, para disfarçar sua real missão no país, tem uma loja de sapatos ao lado da esposa (Paula Burlamaqui). Com apoio de um militar brasileiro, o Major Esdras (Otávio Müller), arquiteta planos para tentar “acelerar” o processo do golpe e desta forma facilitar os interesses do Tio Sam por aqui. Com ideias estrambólicas, os dois acabam criando ciladas para arranjar um escândalo que piore a situação recalcitrante do então presidente. A dupla não contaria, contudo, com os dons de adivinhação de um estranho radialista (Cauã Reymond), que tem visões de atentados antes de ocorrerem e acaba falando sobre eles no ar, quando entra em uma espécie de transe.
O destaque fica pelo conjunto do elenco, que reuniu grandes talentos. Cauã Reymond, fugindo de seu estereótipo de galã, se esforça para encarnar um radialista com trejeitos afeminados e esquisitos. Seu Jorge interpreta um marinheiro comunista.
A mais surpreendente atuação é a de Rodrigo Santoro, que encarna Roni Rato, um ex-cafetão que vive drogado, vende alguns livros e dá pequenos golpes. Auxiliado por uma dentadura postiça e por uma maquiagem que o faz parecer não tomar banho há seis meses, ele apresenta uma interpretação impressionante. A reconhecida beleza de Santoro desaparece por trás do personagem, um ser repulsivo.
A trilha sonora conta com uma canção de Caetano Veloso escrita especialmente para este longa-metragem. Homônima ao filme, ela é apresentada por Bebel Gilberto (que aparece ao final da trama como uma vocalista cantando numa casa noturna da década de 60). Esta música, também com versão de Thalma de Freitas, foi a primeira que Caetano lançou na Internet permitindo aos ouvintes seu download gratuito.