Festivais de cinema são ótimas ocasiões não só para vermos filmes alternativos, raros e curiosos, conhecer novas pessoas e estabelecer contatos – é também uma grande oportunidade para se visitar lugares que, se fosse de outra forma, você talvez nunca viesse a conhecer. É o meu caso aqui na Cidade de Goiás. Confesso minha ignorância: até ser convidado para o 10º FICA nunca tinha sequer ouvido falar desta cidade! E cada nova descoberta aqui está valendo o tempo e o esforço da viagem!
Meu primeiro impulso turístico aqui na Cidade de Goiás foi visitar o Museu Casa de Cora Coralina (imagem acima), a famosa poetisa nascida aqui nesta que foi a primeira capital do Estado de Goiás. A dica veio de um amigo querido e colega aqui no Papo de Cinema, o Liandro Lindner. Quando disse para ele que estava vindo para cá, foi mais do que rápido em recomendar: “ir à Goiás e não visitar a Casa de Cora Coralina é uma visita incompleta!“. Então tã, lá fui eu!
O tal museu não passa da casa onde Cora Coralina nasceu e morreu – neste meio tempo, morou em São Paulo. Uma guia muito simpática me colocou a par da história desta que é uma das mais respeitadas e reconhecidas escritoras brasileiras.
Ana Lins começou a escrever com 14 anos, mas logo foi proibida pela mãe (estamos na virada do século XX). Decidida a não desistir deste sonho, ainda adolescente foge com o homem que viria a ser seu marido, visando principalmente escapar da guarda materna. Mas ela não esperava que o esposo também iria proibi-la dos ímpetos autorais. Assim, aos 28 anos, começou a publicar numa revista feminina sob o pseudônimo de ‘Cora Coralina’ (“Cora” de “coragem”, “Coralina” de “Vermelho”, do Rio Vermelho que corre ao lado da sua casa). Ficou viúva antes dos 40 anos, mas como tinha 4 filhos para criar, não lhe sobrava muito tempo para a criação literária.
Certo dia o poeta Carlos Drummond de Andrade prestou atenção nos escritos dessa tal Cora Coralina, e resolveu ir atrás para conhecê-la. Esta jornada levou algum tempo – quase 40 anos! – e Cora (não mais Ana) conseguiu, através da ajuda de Drummond, publicar seu primeiro livro aos 75 anos de idade! Como morreu em 1985, aos 95 anos, teve ainda duas décadas para se dedicar somente a produção criativa, período este em que recebeu todas as honrarias nacionais possíveis. Faleceu consagrada, e feliz por ter, finalmente, atingido o tão almejado sonho da infância.
O visitante já se depara com uma Cora na janela, recebendo-o com um sorriso. Dentro da casa podemos observar premiações, livros, objetos, poltronas, vestidos, como ela levava sua vida e o que fazia. Na virada de 2000 para 2001 uma enchente quase acabou com o acervo (o alagamento foi superior a 1 metro de altura!), mas uma restauração cuidadosa conseguiu recuperar a maior parte dos materiais, e hoje saímos do Museu felizes com o estado de sua preservação!
Meu passeio pela Cidade de Goiás continuou no dia seguinte, quando um grupo de jornalistas foi levado para conhecer os arredores da cidade. Chegamos a ir inclusive a uma cachoeira, onde muitos se aventuraram a tomar banho e arriscar uns mergulhos. Muito sol, temperatura gostosa, acima dos 30 graus, e um ambiente gostoso, ao lado de amigos e novos conhecidos. Quer melhor? Venha para o FICA!
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