Mesmo que não seja mencionado na lista de diretores internacionalmente conhecidos e premiados, como Fatih Akin, Andreas Dresen e Christian Petzold, Roland Klick é figura-chave na cinematografia alemã. E ele é agora resgatado como figura central da obra de Sandra Prechtel exibida aqui em Berlim.
O documentário Roland Klick: The heart is a hungry hunter (2013) tem estreia mundial hoje na Mostra Panorama, dentro da programação oficial da Berlinale. Num formato de entrevistas do tipo Advogado do Diabo (1997) com a câmera intimista, o filme é composto por vários depoimentos, seja com o porto da cidade de Hamburgo ao fundo, na sala de aula da escola superior de cinema onde leciona e instrui aos alunos a se deixar levar pela emoção e, por final, na sala de estar de sua casa, o que Prechtel interpretou com uma prova de confiança do diretor neste trabalho.
Segundo a diretora, a principal motivação de fazer este projeto foi a ideia de resgatar as obras primas desse realizador que acabou ficando pelo meio do caminho por não concordar com os trâmites do business cinematográfico. A isso soma-se o fato dele ter feito uso, nos anos 1960 e 1970, de um discurso arrojado e sem papas na língua, atípico para a época.
Em entrevista em 1997 em que faz um balanço de sua carreira (veja aqui), ele tocou no ponto-chave da política cinematográfica alemã que, hoje, mais do que nunca, possui um poderoso mercado de produções subvencionadas: “não que eu ache que a subvenção de filmes seja algo errado, de forma alguma. Por outro lado, sempre me disseram que se meu filme fosse sucesso de bilheteria, eu colocaria em risco a possibilidade não ter ajuda financeira institucional para os meus próximos trabalhos. Não é admissível você trabalhar sob essa preocupação”.
Ainda se diferenciando de seus colegas, de ontem e de hoje, Roland Klick fala com entusiasmo da necessidade de topar aventuras quando se embarca em um novo longa: “claro que tenho medo dos riscos, mas se não fossem eles e tivesse tudo de mão beijada, eu seria um cara totalmente acomodado. É importante se divertir: durante filmagens como as que tivemos em Deadlock (1970), mesmo com pouco dinheiro todo mundo estava presente de coração…”, ratifica.
O filme de Sandra Prechtel é muito mais do que um retrato intimista e comovente de um cineasta polêmico. Roland Klick pode não ter sabido lidar com as derrotas que se cristalizaram pelo caminho, mas permanece honesto e absolutamente adorável. E ainda assim, esse não é o melhor efeito de Roland Klick: The heart is a hungry hunter! Depois da sessão, a fome de conhecer todos os seus filmes mostra que a diretora acertou na medida: em forma e em conteúdo.