O último dia 10 de abril marcou exatos 40 anos que o grande mestre do cinema mudo recebia o mais importante prêmio da sétima arte dedicado a uma vida inteira de trabalho. Charles Spencer Chaplin estava prestes a completar os seus 83 anos de idade quando recebeu o prêmio Honorário no 44ª Academy Awards, em 1972. O prêmio carregava o nobre intuito de homenagear o cineasta pelo “efeito incalculável que obteve em fazer do cinema a forma de arte deste século”. Naquele ano os grandes vencedores do Oscar foram os atores Gene Hackman e Jane Fonda. O cineasta William Friedkin levou a estatueta de Melhor Direção por Operação França, que também levou o prêmio de Melhor Filme.
Chaplin estava exilado na Suíça e voltou para os Estados Unidos especialmente para receber a honraria. Ao ser anunciado, foi ovacionado pela plateia durante 12 minutos, tempo recorde na história da premiação. “Palavras são tão fúteis e fracas” disse por fim, ao tentar expressar a gratidão pela homenagem.
O cineasta de origem britânica teve uma infância complicada. Filho de artistas divorciados, que além de lutarem contra a miséria, tinham a barreira do alcoolismo e da doença mental. Seu pai faleceu de cirrose e sua mãe teve de ser internada em um asilo para loucos.
Em mais de 50 anos de pura dedicação ao cinema, de 1914 até 1969, somaram-se cerca de 90 filmes, entre curtas e longas, dos quais Chaplin se dividia entre atuação, roteiro, direção e música. Tanta versatilidade lhe rendeu seu primeiro prêmio honorário da Academia, pelo filme O Circo (1928), que atuou, dirigiu e escreveu. Seu memorável personagem de O Vagabundo (1916), que aparece novamente em vários de seus filmes e encantou e divertiu milhares de pessoas por diversas gerações, foi o grande impulsionador da sua carreira. Por trás daquela figura cômica havia também um protesto silencioso, contra uma sociedade, uma política. Seus filmes eram mudos, mas tinham muito o que dizer.
Exemplos do posicionamento esquerdista do artista podem ser vistos em várias de suas obras, como Tempos Modernos (1936), em que faz uma crítica ao uso exploratório da mão de obra humana em pleno auge da revolução industrial, e O Grande Ditador (1940), em que dispõe de recursos audiovisuais para fazer uma sátira escrachada de Adolf Hitler nos primórdios da Segunda Guerra Mundial.
Dono de um sorriso simpático e de um discurso poderoso, Charles Chaplin mudou o sentido de fazer filmes em uma época de poucos recursos. Assim, ganhou voz nos tempos do cinema mudo, deixando uma herança imensurável para a humanidade.
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- Um Memorável Vagabundo - 9 de julho de 2012
Memorável mesmo, por muitos o tema continua relevante, infelizmente... mas com a leveza de Charles Chaplin é impossível não compreender, ele ainda faz refletir muito.