À princípio era uma comemoração dos 30 anos de teledramaturgia e, ao mesmo tempo, um teste para ver se o horário das dez horas, tradicional nos anos 70 e 80, ainda geraria audiência nos modernos dias atuais. Na realidade, além de tudo isso, O Astro era uma tentativa de barrar uma possível vitória da Record, emissora concorrente que estreava na mesma época A Fazenda 4, que costuma angariar bons pontos para o canal dos bispos. Com o fim dessa jornada ficou comprovado que o horário é mais que adequado – não só ganhou de lavada do reality show (que amargou o pior desempenho das quatro edições) como foi também um dos melhores trabalhos de teledramaturgia realizado pela vênus platinada. Tudo – eu disse absolutamente tudo – deu certo.
A Globo, que de boba não tem nada, foi beber na fonte da maior autora de novelas até hoje, Janete Clair. Dona de tantos títulos inesquecíveis, sabia que mexeria com o imaginário dos saudosistas de plantão que vibram com as notícias de novos remakes e que quase sempre são sucessos de audiência e repercussão.
httpvhd://www.youtube.com/watch?v=9igK_6mBwEs
O texto da “maga das 8” foi livremente adaptado por Geraldo Carneiro e Alcides Nogueira. Os dois adaptaram e criaram novos motes com muita competência, fazendo um trabalho de filigrana: atualizaram alguns elementos, os diálogos eram inteligentes e rápidos e mantiveram a essência do novelão, com muito suspense, romantismo, pitadas de humor, uma direção de atores excelente e uma rapidez na resolução das tramas que deveria ser regras em todos os folhetins atuais. Uma belíssima abertura com a canção original (chatíssima) deixou os saudosistas mais afoitos ainda.
Mas o grande astro foi o elenco. Impossível citar todos aqui, pois foi uma conjunção astral extremamente favorável, com um ou outro desempenho mais fraco que nem chamou a atenção. Rodrigo Lombardi, mesmo canastrão, usou seu charme e talento para conquistar a mulherada da novela e do país inteiro, todas apaixonadas por Herculano Quintanilha, o anti-herói de caráter duvidoso, dono de ações suspeitas que se desfaziam num simples olhar do ator, que saltou de vez para o primeiro time. Sua química com a absurdamente linda Carolina Ferraz foi intensa e, ao som de Easy, muitas vezes nos arrepiamos. Conforme a própria Carolina declarou à imprensa, até que enfim lhe deram um grande papel – que, diga-se de passagem, ela fez de forma brilhante.
O outro casal romântico também não poderia ter mais química e talento juntos. Thiago Fragoso e Alinne Moraes encantaram e se mostram preparados para grandes papéis. Marco Ricca, sabidamente bom ator, fez do seu Samir um personagem sedutor e malvado com maestria.
Quase todos tiveram seu momento de brilhar. Em papéis maiores ou menores, cada um fez a sua parte em trabalhos dignos de aplausos: Tato Gabus, Carolina Kasting, Vera Zimmerman, José Rubens Chachá, Bel Kutner, Pascoal da Conceição, Reginaldo Faria, Mila Moreira, Daniel Dantas, Simone Soares, Guilhermina Guinle e Antônio Caloni. Dois nomes femininos, porém, tiveram um destaque maior: Rosamaria Murtinho, veterana da tv e dos palcos, que vinha há anos amargando em papéis secundários e sem expressão, aqui com sua tia Magda teve diálogos dignos da grande atriz que é. Já Fernanda Rodrigues, que vimos crescer na televisão, definitivamente amadureceu e tornou-se uma grande atriz – foi dela o papel da virada, e mesmo com carinha de menina a moça já provou que tem estofa e talento para muito mais.
Outros dois nomes causaram burburinho por suas interpretações julgadas como exageradas. Humberto Martins, que vem há alguns anos tentando se livrar do selo de ator descamisado das novelas da sete, finalmente conseguiu atingir suas intenções. Mesmo não gostando do ator, reconheço que ele fez de seu Neco um dos vilões mais asquerosos da teledramaturgia. Gostos à parte, fez muito bem o que lhe foi pedido. Agora, o melhor fica por último: o que falar de Regina Duarte, o nome símbolo de nossa teledramaturgia, nossa eterna namoradinha, com suas clássicas reviradas de olho e suas caretas super expressivas? Clô Hayalla foi um presente, uma homenagem à atriz, que de seus papéis normalmente doces e altruístas dessa vez ganhou essa doida, apaixonada, de caráter duvidoso e repleta de nuances – tipo de personagem raramente oferecido a ela. Não sei se por opção dela ou de direção, mas Clô Hayalla foi histriônica, exagerada e por vezes constrangedora, mas por vezes também foi humana, mãe, e mulher. E sempre de forma muito bem feita pela grande interprete que é Regina. A cena final, em que se revela que Clô era a assassina que todos procuravam, veio coroar esse grande trabalho dessa atriz e definitivamente alforriá-la das donas de casa cheias de boas intenções.
Com um belíssimo último capítulo, O Astro provou que quanto mais curtas as novelas forem, maior serão suas qualidades e o interesse do telespectador. Não foi um estrondoso sucesso de números, mas gerou discussão, consolidou o horário e colocou uma pá de cal nos sonhos da concorrência. Que venha Gabriela, Cravo e Canela.
httpvhd://www.youtube.com/watch?v=-4jQHxZtoUk&feature=related
Avaliação: excelente
Últimos artigos deFábio Morales (Ver Tudo)
- Uma rainha sem majestade - 11 de maio de 2012
- Que a ternura te toque o coração - 9 de abril de 2012
- Palco de uma só atriz - 16 de março de 2012
Brilhante o texto de Fábio Morales. Leve porem completo.Transparente e honesto.Despretencioso e apaixonante.