O filme Priscilla, A Rainha do Deserto chamou a atenção do público e da crítica no ano de 1994 ao contar a história de três amigos, duas drag queens e um transexual, que embarcam numa louca viagem pelo deserto australiano. O objetivo é levar Tick, um dos amigos, até o filho que teve em algum deslize no passado e que ainda não conhece. Com o pretexto de fazer um show na cidade de Alice Springs, as (os) três embarcam rumo à essa aventura, abusando de músicas do universo gay com referências a ícones como Abba e Village People. Como não poderia deixar de ser, o longa virou um musical e estreou em Sidney no ano de 2006. Atualmente, além de estar em cartaz no Brasil, é um dos musicais mais disputados na Broadway.
Nos palcos, o fio condutor é exatamente o mesmo do filme, fraco e sem espaço para muitas inovações e efeitos especiais. Não bastando isso, a referência ao Abba foi trocado de forma equivocada por Madonna, e as músicas, um pout pourri de clássicos universais, não contam exatamente uma trama, e é aí que a peça deixa de ser teatro e passa a ser um show. Os figurinos das personagens já são caprichados como de hábito, pois com muito dinheiro em jogo os musicais tem apresentado um padrão altíssimo, e estes são absolutamente lindos, caprichados e muito coloridos. O cenário é o mais fraco de todas as franquias vindas ao Brasil até hoje, com a exceção, é claro, do “Priscilla”, nome dado ao ônibus que carrega “as meninas” na viagem. Priscilla é a estrela do espetáculo, aguardado com ansiedade, e não decepciona, disfarçando a falta de beleza do restante.
O elenco brasileiro é o que há de melhor na montagem, com merecidíssimo destaque para Ruben Gabira no papel da transexual Bernadete, além do ótimo trabalho de André Torquato como Felicia. Luciano Andrey, por outro lado, é o mais fraco do trio, mas se esforça para acompanhar os colegas, principalmente cantando. Nada, no entanto, que o apelo das músicas não encubra. E é esse ponto forte que faz com que os equívocos dessa montagem sejam apagados, fazendo com que as pessoas saiam achando o musical incrível. Outro grande erro é reservar a grandes atores especializados no gênero, como Saulo Vasconcelos (Bob), Simone Gutierrez (Diva) e a ex-ídolos Priscila Borges, papéis pífios e sem grande destaque. Mesmo assim, esse trio em cena sempre engrandece e cumpre com competência o que lhes é oferecido.
Priscilla, A Rainha do Deserto, o musical, é divertido e agrada à plateia, mas, sinceramente, não passa de um amontoado de clichês. É um “set list” de músicas que tocam diariamente em rádios e de um show de drag queens (profissionais essas de absurdo talento) turbinado com muito dinheiro.
Priscilla, Rainha Do Deserto
Cotação: Regular
Em cartaz em São Paulo no Teatro Bradesco por tempo indeterminado.