O Paulínia Film Festival chega em 2014 a sua sexta edição com um misto de desconfiança e expectativa. Primeiro, porque ele foi realizado ininterruptamente durante os quatro primeiros anos e, com a mudança do prefeito municipal – responsável, aliás, pela criação do festival – o mesmo foi descontinuado em 2012. Retomado no ano passado em um formato menor e sem o caráter competitivo, somente agora é que promove uma volta às origens, com disputas entre longas nacionais, curtas nacionais e uma seleção de títulos estrangeiros exibidos em primeira mão no país. É uma aposta alta, e todos os envolvidos torcem para que, dessa vez, seja para ficar de fato!
A programação oficial começou na terça-feira, dia 22 de julho, aqui no município de Paulínia, interior paulista. A cidade deve suas riquezas à indústria do petróleo, e a iniciativa de investir no cinema – com a criação também de um pólo cinematográfico e do Paulínia Film Comission, para atrair produções para a região – reflete também uma preocupação com o futuro. Afinal, como seguir atraindo os holofotes e manter o atual status se um dia a fonte atual de dinheiro secar?
Com apenas um filme programado para esse primeiro dia, e como convidado especial, fora de competição, o início das atividades tinha tudo para ser bastante tranquilo. A sessão de Não Pare na Pista: A Melhor História de Paulo Coelho (2014), de Daniel Augusto, estava marcada para começar às 20h30. Já passavam das 21h, no entanto, e o Theatro Municipal Paulo Gracindo, local oficial do Paulínia Film Festival, não havia nem aberto suas portas ainda. Todos estavam focados no tapete vermelho – maior e mais ostentador do que o de Gramado, por exemplo, que é reconhecido justamente por esse pretenso glamour – e no desfile das celebridades convidadas. Entre os estrangeiros estavam os hollywoodianos Danny Glover e Michael Madsen, os cineastas Abel Ferrara, Tony Gatlif e Georges Gachot, e a estrela Jacqueline Bisset. Cada entrada de um deles o número de tietes, flashes e repórteres em volta era intenso.
A seleção nacional era composta por nomes de médio porte. Além dos apresentadores Marcos Caruso e Vera Holtz estavam também Martinho da Vila, Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi, Oscar Magrini, Paulo Betti, Felipe Folgosi, José de Abreu, João Gabriel Vasconcellos e João Vitti. Havia também um grande número de diretores, como Murilo Salles, Cao Hamburger, Hector Babenco, Bruno Barreto, Hilton Lacerda e Jefferson De, entre outros. Por fim, do elenco principal do filme a ser exibido, a presença que mais atraiu atenções foi a do protagonista Julio Andrade, que compareceu ao lado do diretor e da equipe.
O Theatro Municipal Paulo Gracindo é enorme, porém havia mais convidados do que lugares disponíveis. Muitos acabaram esperando do lado de fora, no hall de entrada e nos camarotes laterais. A cerimônia de abertura foi bastante burocrática, com discursos do atual prefeito, do prefeito anterior (o primeiro é filho do segundo, e juntos protagonizaram uma cena constrangedora, quando realizaram uma espécie de talk show com uma entrevista simulada apenas para enaltecer o responsável pela realização do festival), do presidente da câmara de vereadores e da secretaria municipal de cultura. Foram bonitas também as homenagem à distribuidora Imovision, que está completando 25 anos de atividades e exibe uma seleção dos seus próximos lançamentos durante o evento, e ao ator Danny Glover por sua atuação em causas humanitárias e sociais.
Não Pare na Pista começou com mais de duas horas de atraso, e dividiu as opiniões do público. Enquanto muitos gostaram de ver na tela a trajetória do escritor Paulo Coelho, seus momentos ao lado de icônico Raul Seixas e o início de sua carreira literária de tanto sucesso, outros apontaram problemas de estrutura narrativa, direção e montagem no filme. Unânime, no entanto, foram as atuações do elenco, principalmente dos irmãos Julio e Ravel Andrade, que interpretam o personagem principal em momentos diferentes de sua vida. Ambos estão fantásticos e valem a obra!
O sexto Paulínia Film Festival começou com tropeços, mas com a clara intenção de reconquistar o brilho dos seus primeiros anos. Há alguns problemas, como a falta de legendas em inglês – uma falha absurda para um evento que se propõe ser internacional e que traz convidados estrangeiros para sua plateia – e o excesso de politicagem envolvida. No entanto, a curadoria do crítico de cinema Rubens Ewald Filho parece ser bastante diversificada, e espera-se o melhor para os próximos dias.
(O Papo de Cinema é um dos veículo convidados oficiais do VI Paulínia Film Festival)
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