Documentário é um tipo de filme ainda muito pouco popular no Brasil. São poucos os lugares onde você consegue apreciar um bom longa do gênero sem que ele tenha sido vastamente premiado ou patrocinado antes. Por isso, preciso admitir que essa é uma das coisas boas aqui nos Estados Unidos, os documentários estão por todos os lados! O acesso do público a eles acontece a qualquer momento, já que entram em cartaz nos grandes cinemas e chamam atenção nas bilheterias. Graças a Deus tenho incorporado o gênero cada vez mais na minha vida, e não há experiência mais prazerosa.
Escrevo aqui pra falar sobre dois lançamentos recentes que me tocaram muito, mas de formas diferentes. O primeiro nem bem é um documentário. É, na verdade, um telefilme sobre um documentário que só fui assistir depois, mas que nem por isso é menos genial. Grey Gardens (2009), ambos o filme e o documentário (1975), são obras obrigatórias na lista de todas as pessoas, não apenas pelos personagens fascinantes que retratam, mas também pelo brilhantismo da execução e da riqueza da vida dessas pessoas. As distâncias que as mentes dessas duas célebres mulheres percorreram chega a ser inacreditável! Foram pessoas de extrema importância para a alta sociedade americana (não que isso mude a vida de alguém) e que deixaram suas mentes caminharem por lugares muito estranhos e carregá-las ao ponto mais deprimente que um ser humano pode atingir. A beleza da história dessas duas mulheres é que elas nunca deixaram de ter esperança em atingir seus sonhos, vivendo intensamente e sonhando constantemente. E sonharam tanto e com tanta força que em um certo momento suas vidas praticamente não mais existiam. Elas, naquele ponto, habitavam um mundo que existia exclusivamente nelas mesmo.
O filme que foi feito mais de trinta anos depois do lançamento do documentário original conta com performances brilhantes de Jessica Lange e Drew Barrymore (que interpreta, aqui, o que provavelmente é um dos melhores papéis de sua carreira). O filme, completamente fiel à história dessas duas mulheres, mãe e filha, tem a intenção de contar como foi a vida das duas personagens do documentário original, e o que as levou a viver daquele modo e como se tornaram personagens tão emblemáticas e fascinantes na cultura americana.
O nível da produção do telefilme é tão superior que se você assiste ao documentário na sequência ficará embasbacado com como é possível que algo tenha sido tão incrivelmente realizado. Drew Barrymore é realmente uma dádiva, e sua personagem brilha e se faz verdadeira, tão real que poderia estar sentada ao seu lado contando aquelas histórias dos tempos de glória, em que sua casa, a emblemática Grey Gardens, nos Hamptons (litoral de Nova York), era o centro das atenções da alta sociedade americana pelas grandes festas ali realizadas. O mesmo lugar que mais tarde voltou a ser o centro das atenções pela decadência quase irrecuperável que atingiu.
Outro filme que deu o que falar e permanece em cartaz por mais de três meses é Valentino: The Last Emperor (2008), que acompanha as últimas coleções do icônico estilista Valentino Garavani à frente de sua histórica grife de mesmo nome. Não apenas somos levados para dentro de sua Maison, onde alguns dos vestidos mais célebres da história foram criados, mas somos também convidados a conhecer todo processo criativo do mestre da moda e os tramites das negociações que levaram ao final de uma era da moda, a dos grandes estilistas, quando Valentino foi o último de toda uma geração.
Por mais que o assunto soe bobo, à medida que você assiste entende porque essa obra foi tão reverenciada por onde passou. É um filme que fala sobre uma das coisas mais essenciais ao ser humano, que é o amor. Valentino é um homem movido por sua paixão pela alta costura, pela vontade de fazer das mulheres seres mágicos e belos, encantadores e desejados. Valentino, como ele mesmo diz, nasceu para fazer com que as mulheres fiquem mais bonitas.
A paixão que transparece na tela e que vemos ser arruinada aos poucos pela ganância corporativa é verdadeira. Eu, que trabalho nessa indústria, assim como os muito poucos que tiveram o privilégio de conhecer e conversar com esse homem, sabem que o que acontece ali é pura e simplesmente a invasão do capitalismo fazendo seu trabalho e se impondo sobre a arte até que chega o momento em que o artista não tem mais força pra impor sua voz e decide se calar.
Valentino, como as mulheres de Grey Gardens, viveu seu sonho. É verdade que ele, de fato, conseguiu realizar estes desejos, diferente das meninas. Mas, em comum, todos eles tinham a paixão pela vida e por suas ambições. Além de documentários geniais sobre suas vidas e meu sincero aplauso e admiração.
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