O currículo de Woody Allen é de causar inveja em qualquer cineasta. Já ganhou 96 prêmios e foi indicado a outros 108 nos seus 60 anos de carreira. Só Oscar então, foram três: dois de roteiro original e um de direção, por Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977). A lista aumentou ainda mais nesta terça, 24 de fevereiro, quando foram anunciados os indicados ao prêmio máximo da Academia em 2012. Isto porque Meia-Noite em Paris, lançado no ano passado, foi indicado a Melhor Filme e Allen pelo Roteiro Original e Direção, um feito inédito nos últimos 17 anos. A última vez que o “noivo neurótico” acabou nomeado na categoria de direção foi em 1995, por Tiros na Broadway (meu preferido dele).
Por sinal, este filme, assim como boa parte de Meia-Noite em Paris, também se passa na década de 1920. Na época foram sete indicações nas categorias principais, só faltou Melhor Filme. Quem levou a melhor na época acabou sendo Dianne Wiest, que ganhou como Melhor Atriz Coadjuvante, prêmio também disputado por outra colega de elenco de Tiros…, Jennifer Tilly. Detalhe: Wiest já havia ganho o Oscar, também de Coadjuvante, por outro filme do diretor, Hannah e suas Irmãs (1986).
Aliás, se tem algo que nunca falta na filmografia de Woody Allen são personagens excêntricos, que parecem fugir da realidade, mas ao mesmo tempo se tornam tão críveis que acabam por conquistar o público, a crítica e arrancar atuações impecáveis de seus intérpretes. Não é à toa que, sempre que um ator ou atriz indicado por um filme de Allen concorre, acaba sendo considerado um dos favoritos. Em 2009 tivemos Penelope Cruz arrebatando diversos prêmios, incluindo o Oscar, por sua louca Maria de Vicky Cristina Barcelona. No ano anterior, muitos torceram o nariz pela falta de Colin Farrell nas premiações por sua ótima interpretação em O Sonho de Cassandra. Talvez a não indicação tenha ocorrido pois quase ninguém viu o filme. Outra que também acabou esquecida foi Scarlet Johansson por Match Point, de 2005, talvez na melhor atuação de sua carreira.
Anos antes, em 1999, Poucas e Boas, outro filme de Woody Allen a explorar o início do século XX, também ganhou muitos prêmios para Sean Penn e Samantha Morton, respectivamente, protagonista e coadjuvante do filme, que também concorreram ao Oscar. Seguindo nesta retrospectiva, ainda temos vários indicados e ganhadores, como Mira Sorvino, que arrebatou praticamente todos os prêmios aos quais foi indicada em 1996 pela sua divertida prostituta sem noção de Poderosa Afrodite, Michael Caine (Hannah e suas Irmãs), Martin Landau (Crimes e Pecados, 1989), Judy Davis (Maridos e Esposas, 1992), Diane Keaton (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) e por aí vai.
Porém, a musa da maior parte dos filmes de Woody Allen, Mia Farrow, não foi indicada ao Oscar sequer uma vez, muito menos pelos filmes do diretor. Injustiça, principalmente se pensarmos em obras como A Rosa Púrpura do Cairo (1985) e Hannah e suas Irmãs, nos quais ela está fantástica.
Uma pena que nenhum dos astros de Meia-Noite em Paris esteja concorrendo ao Oscar deste ano. Owen Wilson está ótimo como o protagonista, mas seria o azarão caso fosse lembrado. Rachel McAdams, que vive sua noiva, está brilhantemente irritante e poderia ter ocupado uma das vagas de atriz coadjuvante, assim como a queridinha da Academia Marion Cotillard ou a excepcional Alison Pill, com a sua ensandecida Zelda Fitzgerald. O pedante pseudointelectual vivido por Michael Sheen também renderia uma indicação, assim como Corey Stoll por seu visceral Ernest Hemingway ou ainda um dos “coadjuvantes do ano”, Tom Hiddleston, que dá vida a F. Scott Fitzgerald de uma maneira pouco imaginada (o ator também merecia outra indicação por seu magnífico Loki de Thor).
Resta saber se Woody Allen vai levar algum(ns) do(s) prêmio(s) para casa no próximo dia 26 de fevereiro, data da cerimônia de entrega do Oscar. Alguma aposta?
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Concordo... Tom Hiddleston merecia mesmo por ter tido um ano tão bom nos cinemas. Agora, será que o tio Woody não vai mesmo ou (por um milagre) vai dar as caras na cerimônia? Podia ocorrer uma surpresa daquelas de deixar todo mundo de queixo caído e Meia-Noite em Paris levar tudo... porém, sendo mais realista, deve ficar pau a pau na disputa de roteiro original com O Artista.
Muito boa a tua análise! Lembraste dos principais momentos do genial Woody Allen na maior premiação do cinema mundial, seus grandes filmes e reconhecimentos. Deu vontade de revê-los mais uma vez! Uma curiosidade que poderia ter sido apontada é o fato de Allen nunca ir à festa do Oscar - em todos estes anos ele foi apenas uma vez, e para entregar um prêmio especial, não para buscar as estatuetas que ganhou! Ou seja, as chances de vê-lo esse ano no evento são mínimas, novamente! E entre os coadjuvantes de "Meia-Noite em Paris", a minha aposta seria no Tom Hiddleston, que também está ótimo em "Cavalo de Guerra", e poderia muito bem ter sido lembrado, ao menos pelo "conjunto da obra", hehe! ;-)