Como já seria possível antecipar, a segunda noite de programações do Cine PE 2016 foi pontuada pelo sensível movimento político que assola o país. Na ocasião em que o longa-metragem O Prefeito (2015), de Bruno Safadi, era atração principal, o debate sobre o tema não ficou apenas em tela, mas também em muito dos discursos de quem subiu ao palco do Cine São Luiz.
Com quatro curtas-metragens programados para exibição, as sessões se iniciaram com a apresentação dos mesmos, que competem nas mostras destinadas aos filmes com duração de até 30 minutos, pernambucanos e nacionais. Os diretores Houdine Nascimento e Wanderley Silva anunciaram a exibição do documentário O Imperador da Pedra do Reino, mas se valeram também da projeção para recriminar as ações políticas antidemocráticas que ameaçam o governo de Dilma Rousseff. A produção, no entanto, caminhava por terreno bem mais leve ao contemplar um breve panorama sobre o legado do icônico autor Ariano Suassuna. Com entrevistas e entrevistados interessantes, o filme carece apenas de um formato mais apurado para contemplar devidamente o motivo de sua homenagem, especialmente na exposição das obras artísticas de Suassuna.
Na sequência, o jovem cineasta Pablo Polo foi ao palco ao lado de vários membros da produção da dramédia Minha Geladeira Pensa Que é um Freezer, também em competição na mostra pernambucana. Polo aproveitou os holofotes para clamar pelos devidos cuidados ao patrimônio cultural e artístico de Recife, que atualmente carece de maiores manutenções. Seu curta peca por inserir muitos filmes em um só, ainda mais por fazer isso numa pequena duração. No entanto, há força em seus preciosismos estéticos e narrativos, evidenciados principalmente pelo trabalho dos atores Bruno Goya e Norma Moura. A dupla interpreta filho e mãe em uma relação edípica que entra em declínio no mesmo momento que a geladeira da família estraga.
No certame nacional, +1 Brasileiro, do Espírito Santo, apresentou a jornada inglória de um taxista e viúvo que tenta retomar o equilíbrio de sua vida sendo justo e profissionalmente ético. O filme de Gustavo Moraes se arrisca como drama musical e até impressiona em suas primeiras investidas pelo gênero, mas logo este se transforma em um videoclipe convencional que carrega uma mensagem moralista como clímax, previsível e pouco inspirada. This is Not a Song of Hope, de Daniel Aragão, era um dos mais esperados da noite, provavelmente pela projeção que o cineasta recebeu por outros trabalhos, como o longa Boa Sorte, Meu Amor (2012). O cineasta pernambucano não esteve presente para apresentar seu filme, que mostra um recorte na vida de três personagens e suas relações de amor e ódio com eles próprios e a cidade que habitam. O curta não declara exatamente a que veio, enquanto se perde numa profusão de técnicas e experimentações narrativas que talvez (e apenas) funcione como exercício de estilo.
Após o intervalo programado, o diretor carioca Bruno Safadi e o ator Nizo Netto anunciaram a projeção do longa-metragem em competição da noite, O Prefeito. Safadi, figura constante em festivais de cinema brasileiros, amplificou a atmosfera crítica do festival com sua sátira política, na qual um prefeito decide transformar o Rio de Janeiro em um país independente. Netto, filho do saudoso humorista Chico Anysio, aproveitou a ocasião para alfinetar o caótico estado social e político nacional, tanto em seu discurso de abertura quando em tela, onde representa um personagem espelhado em tantas figuras reais, que muitos amam odiar.
Ao fim da noite, o convite para a programação da quarta-feira (4), que terá como ponto máximo a exibição de estreia de Guerra do Paraguay (2015), de Luiz Rosemberg Filho. Antes disso, a 20ª edição do Cine PE ainda apresenta Corda Bamba, História de Uma Menina Equilibrista (2013), na mostra infantil, e os curta-metragens Soberanos do Congo, de Raoni Moreno, e Das Águas Que Passam, de Diego Zon. Acompanhe a cobertura completa do Cine PE, que segue até o próximo domingo (8) aqui no Papo de Cinema!
