A terceira noite das mostras competitivas de curtas e longas-metragens do Cine PE parecia promissora, com a exibição de dois documentários e um longa-metragem de ficção programados. A cerimônia de apresentação do festival, no entanto, foi iniciada com notas melancólicas, numa homenagem ao crítico de cinema Christian Petermann, que faleceu aos 49 anos na última terça-feira (3) em São Paulo. Membros da diretoria da Associação Brasileira de Críticos de Cinema – Orlando Margarido, André Dib e Luiz Zanin – foram ao palco prestar uma solene e emocionante saudação à Petermann, responsável pela formação de tantos aficionados por cinema.
Apresentadas as devidas homenagens, os espectadores do Cine São Luiz foram convidados para uma imersão no maracatu, ritmo afro-brasileiro que é tema do documentário Soberanos do Congo, de Raoni Moreno, em competição na mostra pernambucana. O filme se dedica a desmitificar o gênero carnavalesco que toma as ruas e praças de Recife e Olinda, numa homenagem aos ancestrais da realeza africana, e o faz entre entrevistas com interessantes personalidades da cultura local e sequências dos coloridos e festivos desfiles de rua. Importante registro sobre um tema de cores tão locais, ainda que apreciado internacionalmente, a produção de Moreno caminha por uma abordagem que beira o didatismo; há muita ponderação e teorias sobre o maracatu e sua importância, mas Soberanos do Congo carece de uma apreciação maior ao espetáculo desta manifestação cultural, que interpõe teatro, música e dança.
Os tambores do maracatu logo foram silenciados pela introspecção de Das Águas Que Passam, produção do Espírito Santo dirigida por Diego Zon que compete na mostra nacional. Um dos mais belos filmes apresentados até o momento nesta edição de Cine PE, o documentário acompanha distante e sem intromissões evidentes a rotina de um pescador da Praia de Regência. Zon, ao apresentar seu filme, teceu críticas e chamou a atenção para o desastre ambiental em Mariana, que entre tantas paisagens naturais também transformou as locações da produção em rios de lama e destruição ecológica. A tragédia ocorreu após as gravações de Das Águas Que Passam, então o filme conquista importância ainda maior ao registrar uma localização tão bonita e poética, numa narrativa centrada em um homem que, entre sua rotina e vivências, representa tantos outros. As perspectivas que compõem enquadramentos do documentário são verdadeiras obras de arte, entrecortadas por areia, mar e nuvens de uma textura quase palpável.
Após a exibição dos dois curtas em competição, a programação reservava a estreia de Guerra do Paraguay (2015), de Luiz Rosemberg Filho. O icônico cineasta brasileiro foi ao palco ao lado de parte de seu elenco e do produtor e diretor de arte Cavi Borges, que apresentou a sessão com perceptível emoção pela seleção do filme à competição de longas-metragens do Cine PE. Rosemberg, inclusive, aproveitou a ocasião para parabenizar o festival e o cinema pernambucano, assim como a beleza e imponência do Cine São Luiz. Seu filme é uma fábula em preto e branco sobre o encontro de uma trupe de teatro decadente e um soldado em meio à guerra do título. Com a linguagem que lhe é característica, o cineasta apresenta uma sucessão de textos poéticos e filosóficos sobre vida, guerra, arte e morte, discursados pelos atores Alexandre Dacosta e Patricia Niedermeier. É um filme difícil, para poucos espectadores, mas que provoca reflexões acerca de seus temas, principalmente a partir de seu apoteótico final.
Encerrada a programação da noite, o Cine PE segue nesta quinta-feira (8) com a exibição de O Menino no Espelho (2014), de Guilherme Fiúza Zenha, na mostra infantil. A noite reserva a exibição dos curtas A Vida em Uma Viagem, de Tauana Uchôa, O Último Engolervilha, de Marão, O Coelho, de Marcello Sampaio, e o longa-metragem de animação As Aventuras do Pequeno Colombo (2015), de Rodrigo Gava. Acompanhe a cobertura completa do Cine PE, que segue até o próximo domingo (8), aqui no Papo de Cinema!