O início da tarde de sábado (7) foi eleito para o tradicional panorama sobre a atual edição do Cine PE, comandado pelo casal Alfredo e Sandra Bertini, realizadores do festival. Entre considerações de curadoria, burocracias administrativas e outros dilemas e números, Sandra declarou que o perfil do Cine PE está na pluralidade de linguagens das obras que apresenta. Essa afirmação não poderia ser mais evidente neste último dia das mostras competitivas de curtas e longas-metragens, exibidos na tela da Sala São Luiz.
A noite começou com a apresentação dos filmes de curta duração em competição, nas mostras pernambucana e nacional. Os Filmes Que Moram em Mim, de Caio Sales, e Diva, de Luiz Rodrigues Jr., versam em diferentes abordagens sobre o poder transformador da arte. O primeiro é um delicado e muito pessoal projeto que, numa sucessão de sequências desconexas reunidas por uma narração poética, une momentos cinematográficos que sempre habitaram o imaginário de Sales. Diva, por sua vez, não tem a mesma potência, e retrata uma atriz prestes a voltar aos palcos, após cinco anos de afastamento, para representar Medéia. A atriz, o personagem e um terceiro elemento fantástico duelam para definir quem entrará em cena, num roteiro pouco inventivo sobre egos e fragilidades nos bastidores do teatro.
Na seleção nacional de curtas, um forte competidor para os prêmios deste domingo (8): Gramatyka, de Paloma Rocha. Um ensaio sobre a linguagem cinematográfica, o filme se inicia com uma representação à alegoria da caverna de Platão e segue por terrenos bem mais desconhecidos e experimentais. Neles, três mulheres (uma delas Helena Ignez, mãe da cineasta e grande atriz brasileira) dançam em diferentes sincronias, em estilos contemporâneos e inspirados pelo Kabuki, o teatro clássico japonês. É um filme atmosférico e sensorial, que a diretora apresenta como uma experiência estética sobre o delírio, a alma e a inquietação.
Na sequência, a nota dissonante da noite foi Bola Para Seu Danau, documentário que, quando começa a dizer a que veio, termina. A produção carioca de Eduardo Souza Lima narra a história da primeira partida de futebol no Brasil, capitaneada pelo escocês Thomas Donohue no pátio de uma fábrica de tecidos de Bangu, Rio de Janeiro. O filme de seis minutos integra um projeto capitaneado pela Rede Globo que ainda contempla outros nove curtas sobre futebol, então acaba por não funcionar apropriadamente separado de seus semelhantes.
Após um rápido intervalo, o londrinense Rodrigo Grota apresentou o longa-metragem em competição da noite. Leste Oeste, único representante do Paraná na mostra do Cine PE, foi realizado em 15 dias e, segundo Grota, narra a história de um personagem que retorna ao seu passado afetivo. O cineasta dedicou a sessão ao memorável crítico de cinema João Carlos Sampaio, que faleceu dois anos atrás durante este mesmo festival, e que motivou Grota a batizar um de seus personagens com o nome dele.
Encerrada as mostras competitivas de curtas e longas-metragens, o saldo foi positivo; todas as seis obras de longa duração selecionadas eram interessantes e, uma vez justapostas, demonstram a pluralidade que o festival busca retratar em tela. No domingo, noite de premiação que vai evidenciar os melhores trabalhos em diferentes categorias, o Cine PE reserva ainda a exibição dos filmes hors concours Pedrinho e a Chuteira da Sorte, animação pernambucana de Marcos França, e Vidas Partidas, drama carioca de Marcos Schechtman. Acompanhe a cobertura completa do Cine PE, que segue até o próximo domingo (8), aqui no Papo de Cinema!
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