Crítica
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Sinopse
James Bond tenta evitar a destruição de Miami por meio de uma super bomba, roubada pela SPECTRE, que exige um pagamento de 100 milhões de dólares em diamantes, para não cumprir a ameaça de explodir a cidade.
Crítica
Após três filmes de sucesso, um ano após o outro, os produtores do agente secreto mais famoso do mundo decidiram que era hora de inovar. 007 Contra a Chantagem Atômica foi lançado como o longa mais ambicioso da série até então, com várias inovações, de técnicas e ação à própria mitologia do personagem. Com Sean Connery mais uma vez sob o terno do espião, a produção contem elementos muito interessantes sob o ponto de vista inédito da época, mas ainda falha em outros, especialmente pela história, onde é visivelmente ao seu antecessor, 007 Contra Goldfinger (1964).
O filme começa com James Bond (Connery) no funeral do assassino de dois de seus colegas, Jacques Bouvar. Mas o vilão não está morto e se passa por uma mulher até o agente matá-lo. 007 foge do local com uma "mochila foguete", numa sequência que mistura humor, bizarices e invenção tecnológica, já dando o tom do que se esperar do filme nas próximas duas horas. De férias, o agente britânico está de férias e se vê envolto com a SPECTRE, que volta a agir. O segundo homem por trás da organização criminosa, Emilio Largo (Adolfo Celi), é o vilão da vez e seu plano ambicioso consiste em roubas duas bombas atômicas da OTAN, escondê-las no oceano e chantagear o governo britânico em troca de cem milhões de dólares. Bond e o M16 tem quatro dias para impedir a explosão dos artefatos.
É a primeira vez de muita coisa neste filme. Já começa pelos créditos inicais, com Connery apontando a arma para a tela pela primeira vez (antes um dublê realizava o trabalho), no clássico tiro com sangue escorrendo pela tela. Há Bond em trajes de banho no mar, em um spa, em uma sauna. Para quem estava acostumado a ver apenas mulheres seminuas nos longas do espião, esta acabou por ser mais uma inovação na série, ainda que de conteúdo mais sexual, mas não menos interessante de se constatar. A produção também é a única da série a mostrar todos os agentes 00 em uma convenção. Inclusive Bond aparece sentado na sétima cadeira.
Mas vamos ao que interessa: e a história? Se por um lado o roteiro é notável por não tratar da temática da Guerra Fria (que se tornaria uma questão corrente e monótona em muitos longas posteriores da série), por outro falha ao trazer um vilão que não parece tão ameaçador, ainda mais se lembrarmos do fantástico Goldfinger do sucesso anterior. Largo chega a ser caricato demais com seu tapa-olho preto e a predileção por tubarões, mas é ofuscado toda vez que aparece em cena, não oferecendo muito perigo além de seu engenhoso plano. O líder da SPECTRE, único da organização que não mostra o rosto, é muito mais aterrorizante, mesmo que aparecendo em apenas uma cena, apenas por matar um dos integrantes da equipe na cadeira em uma reunião após a descoberta de desvio de dinheiro, já mostrando o grau de perigo que apresenta. Por outro lado, as bondgirls da vez são bem mais interessantes. Patricia (Molly Peters) aparece pouco, mas Fiona (Luciana Paluzzi) é perigosa o bastante e a melhor de todas, Domino (Claudine Auger), é a mais ambígua, deixando o público em dúvida sobre suas intenções até boa parte do desenrolar da história, causando um suspense mais envolvente.
O diretor Terrence Young voltou à franquia, mas este foi seu último trabalho na série. Talvez sua megalomania não tenha agradado muito aos produtores e até o público, mesmo este tendo sido o filme mais visto em 1965 com uma altíssima bilheteria, a maior de 007 até então. Ainda por cima, rendeu um Oscar de Efeitos Especiais. E, realmente, há pontos extremamente positivos, ainda que sejam muito pontuais. Em uma ótima cena, vemos a morte de um personagem sob o olhar do próprio. Ele é jogado aos tubarões de uma piscina (dê um desconto para a "licença poética" inventiva da série) e, como se a câmera fossem seus olhos, vemos a água adquire uma tonalidade avermelhada. Por sinal, este é um dos filmes mais "aquáticos" da saga, com várias sequências filmadas sob o mar. E o melhor de tudo: com Connery dispensando ao máximo o uso de dublês. Ainda mais na cena em que o agente confronta os já citados tubarões. Afinal, o ator realmente nadou no tanque com os animais e teve que ser retirado às pressas para evitar um acidente.
Se as cenas sob as águas são um grande trunfo, por outro lado também são o calcanhar de Aquiles da produção. A maior parte delas é demorada demais, causando monotonia em muitos momentos. E num filme de ação, ainda mais de James Bond, isto pode ser fatal. A batalha final, por exemplo, dura mais de vinte minutos. Grandiosa sob vários aspectos, pois é filmada inteiramente no fundo do mar com vários agentes de ambos os lados digladiando. Inclusive, há muito sangue, coisa que até então era quase inexistente na franquia. Tendo como cenário Paris e as Bahamas, a fotografia alterna tons opacos da ação em terra firme com cores mais vivas quando em alto mar. Especialmente também pelo figurino, que opta por cores quentes para contrastar com o azul da água.
Este era para ter sido o primeiro filme de Bond nos cinemas, mas devido a uma disputa judicial entre Ian Fleming e o co-autor da história, Kevin McClory, a SPECTRE não podia ser usada até então. Inclusive por conta desta questão, foi feito uma remake da história anos depois com 007: Nunca Mais Outra Vez (1983), filme estrelado por um Connery mais velho, porém fora da franquia oficial. Apesar das suas falhas, 007 Contra a Chantagem Atômica ainda é um longa divertido e que não mancha a reputação do herói. Aliás, se torna ainda interessante em uma maratona para quem quiser se preparar para o próximo filme da saga a ser lançado ainda em 2015. Afinal, a SPECTRE aparece em toda sua estrutura na história, o que pode ser referenciado no novo longa, que leva o nome da organização no título.
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