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Crítica


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Sinopse

James Bond recebe a missão de proteger uma herdeira de uma empresa de petróleo. Nessa missão ele vai encarar Renard, um dos principais adversários do agente secreto a serviço da Majestade.

Crítica

O terceiro filme da série estrelado por Pierce Brosnan tinha algumas das melhores premissas após 37 aos de James Bond nos cinemas: um vilão que não pode sentir dor, uma trama que começa com a morte de uma pessoa dentro do M16, uma bond girl complexa e uma M realmente ativa na história, além, é claro, do nosso agente secreto favorito fazendo aquilo que ele sabe melhor. Porém, 007: O Mundo Não é o Bastante acaba caindo em muitos dos clichês do gênero, especialmente com reviravoltas nada surpreendentes devido a várias dicas preguiçosas que são dadas pelo roteiro ao longo da história.

Desta vez, Bond (Brosnan) precisa proteger Elektra King (Sophie Marceau), filha única do bilionário assassinado na própria sede da MI6 após o período em que ela estava sob o cativeiro do terrorista Renard (Robert Carlyle). Vilão havia sido ferido por outro agente britânico e, por conta disso, perde alguns dos sentidos, como a capacidade de sentir dor. É um fiapo de história que, inicialmente, envolve o espectador por tratar não apenas de um simples plano para dominar o mundo, mas também uma vingança pessoal contra o serviço secreto britânico. Uma pena que esta trama acaba se perdendo ao longa da narrativa.

Os problemas começam quando alguns diálogos e situações expositivos demais começam a alertar, já de cara, que um personagem aparentemente inocente envolve muito mais segredos e ambiguidade do que a proposta inicial. É uma das histórias mal desenvolvidas que, se tivesse outro twist ou fosse menos óbvia, já deixaria o filme como um dos melhores da série. Porém, quando a fatídica cena em que tudo é revelado (numa preguiça dos autores em ter que explicar tudo como se o espectador fosse ignorante e não tivesse se dado conta já na metade do longa), a sensação que se dá é de um simples "ah, ok", como se nada demais tivesse acontecido. O que deixa o Renard de Carlyle em maus lençóis, já que um vilão que prometia tanto com um ator talentoso acaba sendo eclipsado por alguém muito mais poderoso que agia nas sombras. Aliás, nem tão nas sombras assim.

Não bastasse o vilão que perde seu posto, o agente 007 tem como parceira uma das piores bond girls de todos os tempos. Denise Richards pode ser linda, mas seu sex appeal se resume à sua beleza. Ela não tem o menor porte dramático para viver uma médica inteligente como sua personagem é apresentada. E vamos combinar que o uso de shortinhos a todo momento é de um machismo perturbador até para quem acompanha a série desde o início e após as próprias bond girls dos dois filmes anteriores estrelados por Brosnan. Além de tudo, ela é um peso morto na trama, não agregando nada de útil à jornada do herói. Pelo contrário, a impressão que dá é que ele se daria melhor sem a presença da moça.

Apesar destes tropeços, 007: O Mundo Não é o Bastante ganha o espectador em outros pontos Um deles é a participação maior da M de Judi Dench, utilizando mais o talento da atriz que os dois filmes anteriores da série, em que ela era apenas a chefe classuda, assim digamos. Aqui seu envolvimento é um pouco mais intenso devido à ligação emocional que a personagem tem com o magnata assassinado e sua filha. Por falar nela, Sophie Marceau é o grande destaque do filme pela complexidade com que encarna Elektra (aliás, nome mais que sugestivo). Mesmo que o roteiro faça questão de ser grosseiro com sua mudança de personalidade, a atriz usa todo seu talento para tornar a sensual órfã em alguém que lança olhares e trejeitos sutis. Dicas interessantes para entendermos como funciona sua complexa personalidade.

As cenas de ação empolgam, ainda que beirem mais do que nunca ao inverossímil, mas são bem conduzidas pelo diretor Michael Apted, que tinha pouca experiência no gênero. 007: O Mundo Não é o Bastante poderia ter sido o melhor longa estrelado por Brosnan na sua fase Bond, mas mesmo com boas ideias, não traz grandes inovações. É apenas mais um exemplar divertido e que acaba sendo esquecido entre os mais de 20 filmes da franquia. Ainda assim, é impossível não ficar com a música tema da banda Garbage. Esta sim, digna de figurar na lista de grandes canções de James Bond.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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