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Sinopse

James Bond e M realizam o interrogatório do sr. White, responsável pelos eventos do filme anterior da série. Porém uma traição faz com que White seja morto. Para investigar o caso Bond parte rumo ao Haiti, onde conhece Camille, uma bela e perigosa mulher que possui ligações com Dominic Greene. Greene tem planos para a Bolívia, incluindo a deposição do atual governo, o que faz com que Bond entre em seu caminho.

Crítica

O desafio era enorme. Suplantar um filme como 007: Cassino Royale (2006), uma produção redondinha trazendo um novo James Bond, interpretado com propriedade por Daniel Craig, não seria nada fácil. Sabendo disso, os produtores trataram de cercar-se de certezas. Trouxeram a bordo um excelente diretor, Marc Forster, recrutaram os atores do episódio anterior, Craig, Judi Dench, Jeffrey Wright, entre outros, e mantiveram o trio de roteiristas, Paul Haggis, Neal Purvis e Robert Wade. Mas, infelizmente, nem todo esse cuidado conseguiu transformar 007: Quantum of Solace em uma aventura que chegasse perto do seu episódio anterior.

Esta seqüência do sucesso de 2006 sofre do clássico mal das continuações: o filme original era tão bom que, mesmo produzindo um ótimo longa-metragem, ele fica eclipsado pela qualidade do anterior. É complicado não ceder a comparações. E em quase todos os quesitos, Quantum of Solace perde para Cassino Royale (2006). Se deixarmos de lado estes inevitáveis paralelismos, a sequência das aventuras de 007 chega a ser um bom filme, ficando abaixo das expectativas, infelizmente.

Quantum of Solace - o intraduzível título que fora aportuguesado para Quantum de Refrigério em uma antiga edição brasileira do conto – começa em alta rotatividade. Encontramos James Bond poucos minutos depois de ter baleado o Sr. White (Jesper Christensen) em Cassino Royale (2006). Depois de uma perseguição automobilística impactante na Itália, descobrimos que M (Dench) e Bond querem pressionar White a fim de obter respostas sobre a organização misteriosa a qual faz parte. Mas nem tudo sai como planejado e o vilão consegue fugir. Bond decide seguir uma pista que o leva ao Haiti, onde conhece Camille Montes (Olga Kurylenko). A moça, assim como 007, está atrás de vingança e pretende atrapalhar os planos do general Medrano (Joaquin Cosío), homem responsável pela morte de sua família. Para isso, Camille se aproxima do bad guy travestido de ambientalista Dominic Greene (Matthieu Amalric), homem que está planejando um golpe de estado na Bolívia para colocar o general Medrano no poder e, na esteira, ser dono de toda a água do país. Para colocar os pingos nos is, James Bond vai recorrer a parceiros de seu passado recente, como Mathis (Giancarlo Giannini) e Felix Leiter (Wright).

A sinopse é realmente extensa. Mas na hora de colocar no celulóide, parece que algo se perdeu no caminho. A culpa pode ser da abertura bombástica, que não deve nada a um O Ultimato Bourne (2007) da vida. Ao colocar a narrativa em alta rotação logo de início, qualquer cena posterior forçosamente tem um andamento mais lento. O ponto positivo é que o roteiro visivelmente não é apenas um monte de situações ligadas apenas pelas cenas de ação. Ela é colocada a serviço da história. No entanto, a trama acaba não dando espaço suficiente para que a ação ocorra. Por isso, vemos poucas cenas realmente mirabolantes. Temos praticamente uma recriação da cena da perseguição a pé do primeiro filme, só que desta vez durante a Palio Di Siena, tradicional corrida de cavalos italiana; Outra boa cena mostra a fuga de James Bond e Camille a bordo de um caquético avião; E ainda é possível destacar o incendiário momento final de ação do longa-metragem.

O ponto alto de cada uma destas cenas é o fato de Marc Forster ter conseguido trazer para a série um pouco de sua notável predileção por enquadramentos inusitados e movimentos de câmera inspirados. O melhor exemplo disso são as cenas que se passam na Itália, principalmente durante a perseguição a pé, quando podemos perceber o dedo do cineasta, que em filmes como A Passagem (2005) e Mais Estranho que a Ficção (2006) mostrou predileção por diferentes ângulos para contar sua história.

Além do cineasta, merece elogios Daniel Craig, novamente perfeito como James Bond, parecendo estar mais a vontade no papel. Sua dobradinha com Judi Dench é melhor explorada neste longa-metragem, mostrando que a chefe do MI6 começa a confiar mais em seu agente problemático. A forma como Jeffrey Wright constrói seu Felix Leiter também é digna de elogios. Pena que ele não tenha muito espaço para mostrar o que sabe fazer. É de se esperar que em um próximo episódio possa ser mostrada uma parceria mais estreita entre Bond e Leiter – o que não acontecerá em 007: Operação Skyfall, visto que Wright não está listado nos créditos da nova sequência. Matthieu Amalric se sai bem como o vilão Dominic Greene, não tendo nenhuma bengala ou característica grotesca dos demais inimigos de 007. Nem precisava. Seus olhos expressivos e levemente saltados lhe deram uma característica ímpar. Apesar de ter um elenco destacável, Quantum of Solace peca no casting das Bond girls, que empalidecem em comparação as do passado da série. Além do figurino não privilegiar a beleza das atrizes – principalmente de Camille – a atuação não é lá das melhores.

Quantum of Solace até pode ser o capítulo do meio de uma trilogia, já que algumas pontas ainda estão soltas. O filme fecha bem os temas abertos em Cassino Royale, mesmo não conseguindo suplantar seu antecessor, e abre novas possibilidades para mais episódios estrelados por Daniel Craig. Mesmo tendo ficado aquém das expectativas, este capítulo da série James Bond pode ser considerado uma boa pedida para os fãs da série e neófitos de plantão.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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