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Sinopse

Indo da zona desmilitarizada entre a Coréia do Sul e a Coréia do Norte até Hong Kong, Cuba, Islândia e Londres, o agente secreto James Bond precisa impedir os planos de Gustav Graves e seu fiel braço-direito Zao. Eles estão desenvolvendo uma arma de alta tecnologia que pode pôr o mundo novamente em guerra.

Crítica

É impressionante como, mesmo tendo realizado produções inegavelmente constrangedoras no final dos anos 1970 e início dos 1980, a série James Bond não acabou se tornando uma piada auto-referencial, como tantas outras deste mesmo período. Por mais que Roger Moore tenha estendido sua permanência como protagonista além da conta e Timothy Dalton não tenha sido um substituto à altura, Pierce Brosnan assumiu a função com empenho e dedicação. Tanto que em 2002 os produtores Michael G. Wilson e Barbara Broccoli – assim como milhares de fãs ao redor do mundo – estava mais do que ansiosos para comemorarem os 40 anos da série cinematográfica em grande estilo. E o resultado deste esforço foi 007: Um Novo Dia Para Morrer, filme lançado exatamente quatro décadas após 007 contra o Satânico Dr. No (1962). A dúvida, uma vez que todas as peças foram reunidas, era se a sequência continha os elementos necessários para tal comemoração. E a resposta é tanto sim quanto não.

Quarto – e último – longa da saga estrelado por Brosnan (que, aos 49 anos, começava a se demonstrar cansado para o papel), 007: Um Novo Dia Para Morrer é um filme que peca justamente por esse excesso de expectativa. Tudo que se espera de um título da franquia está ali: o agente secreto favorito de Sua Majestade cheio de estilo, o Martini batido, mas não mexido, duas bondgirls irresistíveis e um vilão disposto a tudo em nome de vingança. Mas foi-se além, e foi aí que começaram os exageros. Tudo é superlativo, das escapadas alucinantes às perseguições miraculosas, das gadgets incríveis – carro invisível? – aos planos mirabolantes – domínio global através da criação de um ‘segundo sol’?! – e com uma aliada quase ou até mais interessante do que o personagem-título – a Jinx estrelada por Halle Berry fez tanto sucesso que cogitou-se até um spin-off para ela, mas que mesmo com um diretor contratado (Stephen Frears!) o projeto acabou sendo deixado de lado após os fracassos de outros similares de ação femininos lançados na época, como As Panteras: Detonando (2003) e Lara Croft: Tomb Raider – A Origem da Vida (2003).

No vigésimo episódio da série oficial, James Bond está na Coréia do Norte para impedir que um traficante internacional de diamantes adquira armamento nuclear que possa gerar um conflito de proporções espaciais. O problema é que, mesmo dando fim ao inimigo, ele acaba sendo preso por seus comparsas e permanecendo preso por 14 meses. Quando finalmente é solto, percebe que na verdade serviu de moeda de troca com o assassino Zao (Rick Yune, de Invasão à Casa Branca, 2013). Sua moral está em baixa, suspeita-se que ele tenha delatado dados confidenciais e apenas sua superiora imediata, M (Judi Dench, com a autoridade habitual) acredita que ele ainda possa reverter o estrago. Tudo começa a mudar quando uma nova agente, Miranda Frost (Rosamund Pike, já com o visual gélido que tão bem lhe serviu no oscarizável Garota Exemplar, 2014), infiltra-se como braço direito do milionário Gustav Graves (Toby Stephens, cujo maior mérito de sua carreira é ser filho de Maggie Smith). A missão é descobrir quem é esse homem que surgiu da noite para o dia carregando consigo milhões em pedras preciosas e quais seus verdadeiros interesses.

Acontece que não é apenas o MI6 – o serviço secreto inglês – que está interessado na origem de Graves. Os Estados Unidos também estão atrás dele, e após uma passagem idílica por Cuba – onde descobrem uma clínica clandestina de experimentos genéticos – Bond acaba se deparando com Jinx (Berry, mais linda do que nunca e com uma energia que lhe cairia bem em suas aparições na série X-Men). Claro que primeiro ela vai parar em sua cama, mas é depois que nos damos conta de seu real valor – e potencial. Tão hábil ou engenhosa quanto 007, ela é seu contraponto perfeito, e também possui algumas artimanhas guardadas na manga que servirão na medida. Não muito diferente do que a srta. Frost de Pike, uma mulher de habilidades insuspeitas e que também possui alguns segredos para serem revelados apenas na última hora. O duelo que se estabelece entre as duas e tão ou mais interessante do que o travado entre Bond e Graves, gerando uma dinâmica igualitária que demonstra que, enfim, a modernidade chegou à série não apenas nos aparatos tecnológicos.

Muito se falou, também, na aparição de Madonna. Pela primeira vez em toda a saga, a intérprete da canção-tema – interpretada por ela e escrita pela cantora em conjunto com Mirwais Ahmadzaï, uma composição que foge do estilo genérico das demais da saga e propõe algo novo e revigorado – fez uma aparição em cena. Sua personagem, a treinadora de esgrima Verity, fica menos de dois minutos na tela, mas impregnada de tanta personalidade que é tempo suficiente para descobrirmos que (1) foi instrutora do próprio Bond; (2) é lésbica e já teve um caso com Frost; e (3) também tem suas desconfianças em relação a Graves. O impacto foi tamanho que Madonna acabou ganhado – injustamente – a Framboesa de Ouro de Pior Atriz Coadjuvante. A criticada premiação também indicou a música como uma das piores da temporada, o que demonstra sua implicância – Die Another Day, afinal, naquele mesmo ano foi finalista no Globo de Ouro, no Satellite, no Online Film & Television Awards e no prêmio dos críticos de Phoenix. Ou seja, a matemática é simples: os prós são em maior número do que os contras.

Apontado pelo Pierce Brosnan como o pior dos quatro longas que estrelou na série – e desprezado publicamente por Roger Moore007: Um Novo Dia Para Morrer é melhor, por exemplo, do que o anterior, 007: O Mundo não é o Bastante (1999). Mas diante de reações tão intensas, o filme acabou marcado mesmo como aquele que representou o fim de uma era – a partir daquele ponto Daniel Craig seria o convocado para uma espécie de recomeço, como se tudo tivesse sido zerado e nos deparássemos com um novo início pela frente. Lee Tamahori nunca foi um diretor brilhante, mas ele entrega uma aventura competente, que já ganha pontos por evitar maiores constrangimentos e ainda tem a seu favor Halle Berry e uma grandiloquência que talvez tenha soado estranha para muitos, mas que em última instância combinava com o agente secreto que tanto já havia feito – e com fôlego para ainda muito mais.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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