Crítica
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Sinopse
Com a separação dos pais, os irmãos Júlia, Miguel e Bia tiveram de se acostumar a passar o Natal com a família incompleta. Porém, quando a mãe tem um imprevisto de trabalho, os três são deixados sozinhos na véspera da festividade. É nesse momento que a trinca tem uma grande ideia: surpreender os pais com uma ceia organizada por eles e, com isso, tentar reaproximar os dois. Em pleno caos das festas de fim de ano, os irmãos percorrem a cidade para conseguir todos os itens que precisam (presentes, decoração, ingredientes para a ceia).
Crítica
Tão tradicionais quanto as decorações encarregadas de transformar a paisagem das cidades a partir de novembro são os filmes natalinos que mais ou menos nesse período ganham destaque nos cinemas e nas programações televisivas (e agora no streaming). Curiosamente, o cinema brasileiro nunca entrou nessa onda exportada dos Estados Unidos, mas 10 Horas para o Natal – bem como outras produções similares engatilhadas para estrear em breve – pode significar uma mudança de panorama. Dirigido por Cris D'Amato, o filme é contato a partir da perspectiva infantil, o que prenuncia a prioridade de um viés pueril. Julia (Giulia Benite) é a narradora que quebra a quarta parede para nos convidar a testemunhar a tentativa dela e dos irmãos menores no sentido de recolocar a família nos eixos. Seus pais, Marcos Henrique (Luis Lobianco) e Sônia (Karina Ramil), se separaram recentemente, assim rompendo com a tradição das festas de fim de ano. Depois de desencontros típicos, as crianças resolvem consertar o que os adultos não conseguem reparar.
Em 10 Horas para o Natal não se trata de “se”, mas de “quando" e "como”, pois se não coloca em dúvida o sucesso da missão. A estrutura do roteiro é conhecida, mas adequada ao delineamento da trama conduzida pela tarefa nobre que, obviamente, terá pela frente um monte de percalços. Julia, Miguel (Pedro Miranda) e Bia (Lorena Queiroz) embarcam numa jornada improvável no meio do emaranhado de gente e lojas da Rua 25 de Março, um dos redutos comerciais mais apinhados da cidade de São Paulo. Cris D'Amato opta por não desenvolver a possibilidade de um desencontro tão dramático, por exemplo, resolvendo rapidamente a situação quando aparentemente os irmãos vão se separar sem qualquer mecanismo para se juntar novamente. Diferentemente de emblemas natalinos como Esqueceram de Mim (1991), no qual a criança vai precisar cortar um dobrado até poder desfrutar do amparo dos pais, aqui logo Marcos Henrique se junta aos filhos. Todavia, a presença adulta não desgasta a inclinação pelo tom brincante, algo tido no sonho com contornos musicais.
Aproximando-se das convenções do filme natalino, ou seja, se esforçando para reproduzir uma lógica consagrada – com direito a vestimentas de inverno sobressaindo no verão brasileiro –, Cris D'Amato permanece focada em questões simples, tais como a carência das crianças, os contratempos surgidos tão logo pareça que os problemas acabaram, tudo isso para reforçar a mensagem. Para além do apelo consumista de uma data festiva exaustivamente explorada pelo comércio, há o que compete romanticamente ao tal “espírito natalino”, a lógica de fraternidade e de privilégio à comunhão com as pessoas amadas no dia em que o cristianismo escolheu para comemorar o nascimento de Jesus Cristo. Alguns elementos são repetidos mais do que deveriam, principalmente o choro estridente de Bia como forma de persuasão/obrigação. A reiteração é tão sem variações que, de um ponto em diante, essa característica desaparece sem deixar resquícios de saudade. A gente consegue antecipar todas etapas da história, mas por um mergulho voluntário no cânone.
Com relação à parcela infantil do elenco, Giulia Benite sobressai. Destaque de Turma da Mônica: Laços (2019), ela interpreta com desenvoltura a primogênita que, primeiro, tem de assumir a liderança dos irmãos e, segundo, serve de escudeira ao pai infantilizado. Não faltam as piadas com as figuras clássicas do natal, vide o tiozão do Pavê/Pacumê, a avó de cabelo branco adorada pelos netos e uma engrenagem improvável ao sucesso da empreitada fadada ao fracasso. No fundo, 10 Horas para o Natal fala da necessidade de pais separados compreenderem os efeitos da interrupção de determinados rituais aos filhos que permanecem entre dois mundos em conflito. Claro que, como convém a uma típica comédia natalina de vocação e notas essencialmente conciliatórias, a superficial dinâmica familiar conturbada serve somente para mostrar a importância de reatar laços imprescindíveis. Cris D'Amato não se propõe a invenções, seguindo à risca uma cartilha repleta de exemplares que não à toa figuram no nosso imaginário. E o encerramento lúdico é bonito.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 6 |
Alysson Oliveira | 2 |
MÉDIA | 4 |
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