Crítica
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Sinopse
Conhecido como Galinho de Ouro por ter sido eleito o maior peso galo da história do boxe, Eder Jofre é considerado um dos maiores boxeadores brasileiros de todos os tempos. Nem a infância difícil no bairro do Peruche, em São Paulo, conseguiu detêm-lo, que se consagrou campeão mundial em 1961, nos Estados Unidos.
Crítica
O início dos anos 1960 foi um período particularmente feliz para os brasileiros. O Golpe de 64 ainda não se anunciava, Juscelino Kubitschek renovara as esperanças de toda a nação com a construção de Brasília, a seleção era bicampeã na Copa do Mundo de futebol em 1958 e 1962 e Maria Esther Bueno era apontada como a tenista número um do mundo em 1959 e em 1960 (alcançaria o mesmo feito ainda em 1964 e em 1966). E se não faltavam motivos de orgulho, mais um se somou a esses no começo da década: em 1960, Éder Jofre se consagrou campeão mundial de boxe – na categoria ‘peso galo’, que lhe valeu o apelido de Galinho de Ouro. Se muitos destes ícones nacionais, no entanto, parecem hoje esquecidos,10 Segundos para Vencer assume a tarefa de resgatar ao menos esse último, em um filme que compartilha tanto da garra do lutador, como também dos altos e baixos de uma carreira que cedo alcançou a glória, mas muito precisou resistir para fazer jus aos méritos conquistados.
Ao contrário do que poderia ser o senso comum, Éder Jofre não foi um homem que se fez por si só. E este é o diferencial que o diretor José Alvarenga Jr propõe sobre sua história. A alma do projeto está tanto na entrega de Daniel de Oliveira como o protagonista, compondo um dos personagens mais complexos de sua carreira – em uma filmografia que conta com nomes como Cazuza, Stuart Angel, Frei Betto, Santinho, Hiroito, Zolah e Rubens, entre outros – como na seriedade e obstinação de Osmar Prado, que finalmente recebe na tela grande um papel à altura do seu talento. Aparecendo como Kid, o pai, ele é a fúria, o homem responsável não só pela construção do herói que o filho se tornou, como também por tê-lo dotado dos valores que perseguiu durante sua trajetória como esportista, ao mesmo tempo em que ia se afastando do garoto justamente por não conseguir lidar com a complexidade daquilo que havia gerado.
Ainda que Alvarenga Jr por vezes demonstre uma insegurança a respeito de qual caminho seguir – a persona pública que Jofre assumiu ao longa da carreira ou o drama familiar que enfrentava tanto com o pai como com a esposa – 10 Segundos para Vencer é feliz em mais de um âmbito ao qual se debruça. Com cenas impressionantes de lutas, de deixar qualquer um de queixo caído, seja pela vertigem que provoca como também pela adrenalina que estimula, colocando o espectador literalmente no meio do ringue ao lado daquelas figuras acostumadas a depositar suas vidas na força de um golpe e na agilidade de um desvio, o que acompanha também é um conto moral, sobre alguém que precisou ir ao céu e ao inferno para se encontrar, muito por ter levado sua vida atendendo mais aos anseios dos outros do que procurando ouvir o que estava batendo forte dentro de si.
Daniel se sai bem como o jovem inseguro que não sabe o que quer – ele acaba seguindo a tradição familiar de dedicar-se ao esporte por uma questão de urgência, a não necessariamente por uma aspiração vocacional – mas se revela de forma definitiva ao assumir a maturidade do personagem, defendendo tanto suas inseguranças em casa – ele quer agradar a todos, ao ponto de se tornar um infeliz – como a garra que precisa demonstrar frente a cada adversário, posicionando-se como um ídolo que nunca aspirou tal posição, mas que também se ressente por não ser reconhecido na medida que acreditava ser justa. Prado, por outro lado, praticamente desaparece sobre a pele de um patriarca ressentido, que depositava nos outros a realização dos seus sonhos. Ele é ação e reação, energia em estado de constante ebulição, sempre pronto para o ataque, ensinando o necessário para o enfrentamento, mas mostrando mais no momento em que se afasta do que durante cada embate. Um é luz, o outro é escuridão. E nem sempre essas divisões entre eles são muito claras.
Há, basicamente, dois caminhos a se seguir ao se realizar uma cinebiografia: traçar a vida inteira do homenageado, do início ao fim, ou escolher uma passagem específica para que, a partir dela, possa se lançar um reflexo sobre o antes e o depois. Em 10 Segundos para Vencer, Alvarenga Jr fica no meio termo entre um extremo e outro, oferecendo uma abordagem mais ampla quando preciso, mas também se dedicando com afinco a cada situação que pareça exigir um cuidado mais detalhado. Como resultado, tem-se uma narrativa que funciona em proporcionar esse resgate, mas também é instigante a ponto de deixar o didatismo de lado, baseando mais nas quedas e nas reviravoltas, no ocaso de um vencedor esquecido e no mérito que se esconde por trás de coisas mais simples, mas igualmente fundamentais para uma existência completa. Os talentos aqui reunidos sabem que há muito a ser dito e que uma personalidade como Éder Jofre não se encerra em 120 minutos. Por isso mesmo, abrem todas as portas, deixando tintas expostas. A partir de agora, cabe a cada um fazer bom uso delas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Francisco Carbone | 7 |
Alexandre Derlam | 8 |
Thomas Boeira | 7 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
Chico Fireman | 1 |
MÉDIA | 6.3 |
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