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Sinopse

Maziar Bahari foi detido no Irã enquanto desempenhava sua função de jornalista no país. Suspeito de ser espião, foi interrogado e passou por várias sessões de tortura. Detido por exatos 118 dias, na maior parte deles com os olhos vendados, conseguia distinguir seu torturador dos demais pela fragrância de água de rosas.

Crítica

Para quem achava que o Oscar 2015 tinha esgotado a temporada dos filmes baseados em fatos reais, 118 Dias chega para quebrar essa ilusão. Escrito pelo jornalista da BBC Maziar Bahari, o best-seller Then They Came for Me: A Family’s Story of Love, Captivity, and Survival (Então eles vieram me buscar: uma história familiar de amor, de cativeiro e de sobrevivência, em tradução literal) foi a base da (boa) estreia do apresentador Jon Stewart como roteirista e diretor no cinema. E para quem não conhece o trabalho dele no satírico The Daily Show, vale o aviso de que este filme pode ser uma experiência, no mínimo, diferente.

Na história, Gael García Bernal interpreta esse repórter iraniano que foi cobrir as eleições de 2009, em Teerã, para a revista americana Newsweek. O clima de tensão entre apoiadores do então presidente Mahmoud Ahmadinejad e a oposição era evidente, e após o controverso anúncio da reeleição, o jornalista filma o assassinato de um civil durante uma manifestação popular. Com a imagem enviada para o Ocidente, ele vai parar numa solitária e começa a ser torturado (durante os tais 118 dias) para assumir a condição de espião americano. Além do passado familiar com forte contexto político, a acusação contra ele ganha força por conta de uma entrevista sacana concedida por ele, antes do pleito, para o já citado programa do canal Comedy Central.

Como se percebe, eis aí a conexão com o novo cineasta, que se encantou pelo livro, incentivou a adaptação, mas impaciente com a demora, tirou uma licença do programa e acabou se envolvendo até o pescoço com o projeto, que tem no elenco uma de suas forças. Bernal está muito bem, assim como o dinamarquês Kim Bodnia no papel do interrogador. Os cinéfilos mais atentos, em especial os admiradores do cinema iraniano, deverão reconhecer Golshifteh Farahani (A Pedra de Paciência, 2012). Entre as curiosidades, cenas reais da época e a presença de Jason Jones interpretando ele mesmo na tal "entrevista" vista como suspeita. Do ponto de vista visual, destaque para uma simpática aplicação das hashtags e outros símbolos sobre a tela, assim como o momento bem impactante em que ele recorda a infância com a irmã e o espectador vê um série de imagens projetadas em fachadas, vitrines, bandeiras etc.

Assim, se por um lado a produção agrada, por outro, Rosewater (título original alusivo ao cheiro exalado pelo algoz) tem problemas em sua narrativa. Talvez (ou exatamente) pela origem de seu condutor, o filme parece não ter um norte. Enquanto seu protagonista sofre em seu isolamento compulsório, o longa mistura humor, drama, suspense etc de maneira insatisfatória, perdendo a chance de aprisionar o espectador. Existem, claro, momentos de denúncia contra a tortura e a falta de liberdade de expressão, mas uma pequena dose de fantasia e outras generosas de sarcasmo em cenas e diálogos quase kafkanianos (seriam verdadeiros?) acabam por atenuar o impacto da mensagem. De qualquer maneira, é fato que Bahari foi libertado em função da forte pressão exercida pelo The Daily Show e a imprensa internacional. Resta saber agora se o público vai se identificar com essa trama regular (quase boa) cheia de absurdos, movidos por um fanatismo assustador e real.

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é publicitário, crítico de cinema e editor-executivo da revista Preview. Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, filiada a FIPRESCI - Federação Internacional da Crítica Internacional) e da ABRACCINE - Associação Brasileira dos Críticos de Cinema. Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 2014.
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