Sinopse
Em 2001, um grupo de voluntários das Forças Especiais dos Estados Unidos é enviado ao Afeganistão, dando início a caça aos Talibãs. Estes 12 heróis formam a primeira força estadunidense a responder militarmente aos ataques terroristas de 11 de setembro.
Crítica
Uma das maiores verdades repetida em qualquer aula de roteiro que se preste afirma que “a realidade pode ser absurda, porém a ficção, não”. Ou seja, quantas vezes nos deparamos com situações que pareciam “incríveis demais para serem possíveis”? Coincidências, tragédias, desastres, golpes de sorte: quem disse que a vida real precisa ter lógica? Porém, ao transpor qualquer um destes fatos para o universo ficcional, a principal preocupação que um realizador precisa oferecer ao episódio escolhido é uma leitura crível, que possa ser compreendida e aceita pela sua audiência. Exatamente o que não demonstra o dinamarquês Nicolai Guglsig em 12 Heróis, filme que até pode ser baseado em um evento que aconteceu realmente, mas que é tão mal construído e aleatório que mais parece invenção de algum desocupado sem os pés no chão.
Logo após os ataques terroristas nos Estados Unidos de 11 de setembro de 2011, um grupo especial das forças armadas norte-americanas, composto por doze soldados, foi até o Afeganistão para oferecer um contra-ataque o mais rápido possível contra o Talibã. Era necessária agilidade, poucos recursos, chamar o mínimo de atenção e se aliar a alguns dos próprios afegãos, interferindo em uma guerra interna em nome de um pretenso “bem maior”. São tantos os episódios similares desempenhados pelo exército norte-americano no Oriente Médio nos últimos dezessete anos que isso já é quase um subgênero dentro do cinema de guerra. Filmes como 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi (2016), O Grande Herói (2013), Sniper Americano (2014), A Hora Mais Escura (2012) ou Decisão de Risco (2015), entre tantos outros, exploraram à exaustão as consequências dessas ações e as repercussões da presença militar dos Estados Unidos neste contexto. Quantos, no entanto, respiraram por um minuto para tentar entender a origem de tudo isso? Praticamente, nenhum. E o mesmo se repete com esse mais recente.
Afinal, 12 Heróis, já pelo título, deixa clara a sua intenção: enaltecer os feitos militares dos Estados Unidos. É curioso, portanto, que tenham escolhido um australiano como protagonista. Chris Hemsworth é ótimo como o herói Thor nos filmes da Marvel, e até tem se saído bem em suas incursões pela comédia, como visto em Férias Frustradas (2015) ou Caça-Fantasmas (2016). Porém, toda vez que tentou reproduzir sua postura heroica em outros contextos, estes supostamente mais realistas, como no thriller Hacker (2015) ou na aventura No Coração no Mar (2015), ele invariavelmente acabou se dando mal. Mais ou menos o que acontece aqui também. Ele deveria compor a presença do líder, capaz de inspirar seus aliados mais próximos a segui-lo em uma missão suicida com pouquíssimas chances de dar certo. No entanto, os que com ele estão mais parecem agirem por uma determinação do roteiro do que por uma motivação construída pela narrativa.
Outro elemento que gera desconforto é a tal diversidade étnica proposta pela adaptação da realidade em fantasia. Ao término do filme, uma foto estampa na tela os rostos destes doze homens que empreenderam essa jornada. O que chama atenção antes de mais nada? Todos são brancos. Então, o que fazem no elenco atores como o latino Michael Peña e o negro Trevante Rhodes (Moonlight, 2016)? Será que estas duas minorias estão, de fato, bem representadas? Ou seria somente mais um elemento artificial disposto em cena? Afinal, teriam elas motivo para se envolverem voluntariamente, como o roteiro de Peter Craig (Herança de Sangue, 2016) e – pasmem! – de Ted Tally (vencedor do Oscar por O Silêncio dos Inocentes, 1991, que estava há 16 anos afastado de Hollywood) tenta convencer a audiência?
E por quê, afinal, esse 12 no título, se em nenhum momento o enredo se preocupa em individualizar cada um destes homens? Ok, como já dito, temos o líder, negro e o latino, além do homem de família (Michael Shannon). E os demais? Apenas bucha de canhão. O desprezo para com os outros é tamanho que chega ao ponto do grupo se dividir ao meio e as atenções da trama se restringirem apenas aos rostos conhecidos, deixando os que partem no esquecimento, apenas para retornarem após tudo se resolver. O que foram fazer, pouco interessa. O que importa é que são heróis e estão lutando pelo bem-estar do mundo livre (ou assim acreditam). Previsível até a raiz, piegas de modo exagerado, exagerado apenas para exacerbar uma visão unilateral dos fatos e constrangedor diante tamanho maniqueísmo, 12 Heróis é um filme que funciona apenas junto àqueles que sabem de antemão exatamente o que irão encontrar. Mas, afinal, qual a graça de pregar apenas para os já convertidos?
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 3 |
Wallace Andrioli | 4 |
MÉDIA | 3.5 |
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