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Sinopse

Jill Parrish chega em sua casa à noite, depois do trabalho, e descobre que sua irmã, Molly, foi raptada. Jill, que já havia escapado de um sequestro um ano antes, está convencida de que o mesmo serial killer que a perseguiu está de volta e é responsável pelo rapto de sua irmã. A polícia acredita que Jill está louca e a instituição não está disposta a usar seus recursos para ajudá-la. Com medo de que Molly seja morta até o por-do-sol, ela inicia uma caça solitária para achar o assassino, expor seus segredos e salvar sua irmã.

Crítica

O cineasta brasileiro Heitor Dhalia tem em sua filmografia dois filmes excepcionais e bastante diferentes entre si: O Cheiro do Ralo (2006) e À Deriva (2009). Tudo o que o primeiro tinha de cínico e de estranho o segundo ganhava em lirismo e reflexão. Uma pena que este cuidado com seus trabalhos nacionais não pode ser repetido em sua estreia em Hollywood. 12 Horas é um thriller padrão, sem grandes novidades ou qualidades, produção parecida com aquelas feitas diretamente para a televisão.

O roteiro de 12 Horas é assinado por Allison Burnett (do rasteiro Anjos da Noite: O Despertar, 2012) e acompanha a jovem Jill (Amanda Seyfried), garota traumatizada por ter sido sequestrada há alguns anos. Ou não. Nunca foi provado que Jill realmente tenha sido abduzida por um criminoso, já que ele nunca foi encontrado e as investigações não encontraram provas de que a moça falava a verdade. Internada em um sanatório por algum tempo, Jill agora mora com a irmã, Molly (Emily Wickersham, de Eu sou o Número Quatro, 2012), e vive em estado de vigília perene. Quando retorna do trabalho certo dia, Jill não encontra Molly em casa e assume que sua irmã foi capturada pelo mesmo sujeito que a sequestrou no passado. Desacreditada pelos policiais, a moça agora precisa provar para todos que sempre esteve certa.

Além de ser incrivelmente batido o fato de a personagem central precisar resolver tudo por conta própria, o roteiro (e a própria atriz) não faz o trabalho bem feito em convencer o espectador de que estamos vendo alguém levemente desequilibrado. Para que 12 Horas funcione, precisaríamos ter dúvidas se Jill foi sequestrada ou não. Fora o fato de a moça ser uma mentirosa compulsiva – o fazendo para conseguir investigar o caso, diga-se – nada que nos é mostrado conseguiria convencer o público de que ela não fala a verdade para a polícia. Talvez com uma atriz mais talentosa, que transmitisse um senso de paranoia mais agudo, o suspense funcionasse. Não é o que acontece. Amanda Seyfried melhorou bastante desde que estourou em Mamma Mia! (2008), mas ainda tem muito a aprender. A cena em que ela, supostamente desesperada, conta do sequestro de sua irmã para uma bancada de policiais chega a ser triste de tão mal executada.

Pode-se argumentar que Jill, em dados momentos, parece maluca. Mas isso não prova que ela não foi sequestrada. Daria até mais indícios que ela teve uma experiência traumática no passado. A ação dos policias no filme beira o irresponsável, passando para o risível no decorrer da trama. Em primeiro lugar, não acreditam na moça (e tem seus motivos para tal), mas não chegam a averiguar em momento algum as alegações da garota. Se os policias acreditam que Jill é desequilibrada, mandá-la para casa depois de ela ter feito seu relato é incrivelmente insensato. Com o desenrolar dos fatos, chega a ser engraçado que uma frágil mulher consiga desbaratar um bando de policiais. Inverossímil é pouco.

Heitor Dhalia é um bom diretor dada a sua ficha corrida, mas patina nos clichês em 12 Horas. Em dado momento, Jill está investigando um apartamento vazio e, ao abrir a porta do closet, um gato pula a assustando (e ao público). Sério. O susto mais barato de histórias de suspense é incluso, fazendo com que não tenhamos nenhuma esperança de que o filme melhore a partir dali. Existe ainda um bando de personagens descartáveis, colocados na trama apenas para aumentar o número de possíveis suspeitos. Incrível como Jennifer Carpenter, atriz que vive a irmã de Dexter no seriado homônimo, aceitou viver pelo segundo filme consecutivo (depois de O Pacto, 2011) a melhor amiga da protagonista, aparecendo em apenas duas dispensáveis cenas.

Com uma conclusão tão morna quanto todo o resto do filme, 12 Horas é uma estreia infeliz de Heitor Dhalia em Hollywood. Difícil acreditar que o mesmo cineasta criativo dos seus longas anteriores tenha assinado um produto tão medíocre quanto este aqui. O que aconteceu com Dhalia, no entanto, não é inteiramente sem precedentes. Walter Salles, por exemplo, havia dirigido o premiado Central do Brasil (1998) e o belo Abril Despedaçado (2001) no Brasil para depois estrear no cinemão norte-americano com um arremedo de suspense chamado Água Negra (2005). O afã para conseguir uma inserção dentro da grande indústria cinematográfica mundial não fez bem para ambos os diretores. Salles ainda conseguiu a volta por cima, assinando o ótimo Linha de Passe (2008). Espera-se que Dhalia também consiga se recuperar deste embaraço.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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