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Crítica


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Sinopse

Vinte anos da vida de Colombo, desde quando se convenceu de que o mundo era redondo, passando pelo empenho em conseguir apoio financeiro da Coroa Espanhola para sua expedição, o descobrimento em si da América, o desastroso comportamento que os europeus tiveram com os habitantes do Novo Mundo e a luta de Colombo para colonizar um continente que ele descobriu por acaso, além de sua decadência na velhice.

Crítica

Realizado meio que a toque de caixa em função das comemorações dos 500 anos do descobrimento da América, 1492: A Conquista do Paraíso é um projeto que naufragou sob os mais diversos aspectos, revelando-se uma experiência tão frustrante quanto a própria jornada conduzida pelo genovês Cristóvão Colombo há mais de cinco séculos. Seu maior problema, no entanto, é o fato do diretor Ridley Scott ter confundido História – com H maiúsculo, aquela que diz respeito a tudo que já vivemos e possui relevância – com história – ou seja, com um enredo que entretém, envolve e surpreende. Afinal, este filme tem como pano de fundo um dos episódios mais marcantes da humanidade, mas não possui um roteiro bem amarrado que justifique sua existência. Não há, aqui, nada que o diferencie  daqueles relatos possíveis de serem encontrados em qualquer livro didático.

Produzido do próprio bolso de Scott – nenhum grande estúdio de Hollywood aceitou embarcar nessa canoa furada – 1492: A Conquista do Paraíso é o longa de pior desempenho nas bilheterias de toda a carreira do cineasta, tendo arrecadado em sua passagem pelos cinemas pouco mais de US$ 7 milhões (apesar de ter custado quase sete vezes este valor). Este resultado foi ainda aquém do alcançado pelo similar Cristóvão Colombo: A Aventura do Descobrimento (1992), lançado no mesmo ano e estrelado por um Marlon Brando muito acima do peso, por uma Catherine Zeta-Jones desconhecida e por um tal de Georges Corraface no papel-título. Se o concorrente amargou 6 indicações às Framboesas de Ouro – inclusive à Pior Filme – ao menos deixava claro em cada frame seu caráter improvisado, diferente da obra estrelada por Gerard Depardieu, que aspirava uma eternidade e uma reverência histórica que não é alcançada em nenhum momento.

A trama de 1492: A Conquista do Paraíso é contada exatamente como qualquer um deve lembrar dos bancos escolares: Cristóvão Colombo é um navegador que acredita ser possível chegar até às Índias (Ásia) por um outro caminho além de por terra, pela Turquia, ou contornando o continente africano. Sua proposta é simplesmente ir em frente pelo oceano, pois se o planeta é redondo, um círculo perfeito se dará e ao outro lado será possível alcançar. Com o apoio da Rainha Isabela, da Espanha, ele parte com três caravelas – Santa Maria, Pinta e Nina – e após mais de um mês em alto mar encontra, finalmente, terra firme. Só que não se tratava do destino por ele esperado, e sim de um novo mundo ainda bravio e pronto para ser explorado: a América. Porém, sua falta de tato em lidar com os nobres da corte espanhola e a inabilidade em gerenciar e governar as cidades que estavam sendo construídas do outro lado do Atlântico rapidamente determinaram sua desgraça, ao ponto de ser mandado de volta para a Europa em algemas, perdendo tudo que havia conquistado até então.

Gerard Depardieu é um ator que nasceu para interpretar Cristóvão Colombo, seja pela semelhança e porte físico como pela afinidade com a grandiosidade. No entanto, em 1492: A Conquista do Paraíso, esta percepção serve mais para esconder as fragilidades do filme do que para enaltecê-las. Os demais nomes do elenco, como Sigourney Weaver (voltando a trabalhar com o diretor, 13 anos após Alien: O Oitavo Passageiro, 1979), Armand Assante, Loren Dean, Angela Molina, Tchéky Karyo, Frank Langella e Kevin Dunn, são meros coadjuvantes, quando muito participações especiais, que em nada influenciam ou se destacam. E se passa da metade do filme para que um antagonista se desenhe – o Moxica de Michael Wincott – e ele é descartado tão rapidamente que apenas indica a falta de paciência do realizador em narrar um fato, quando o que verdadeiramente lhe preocupava era pintar um quadro – amplo, belo, porém desprovido de reais emoções.

Há outros percalços evidentes, como no que diz respeito às passagens de tempo e de lugares, geralmente confusas – em certos momentos há um excesso de legendas na tela, situando as ilhas descobertas, enquanto que em outros se fazem necessários diálogos explicativos que apontem os anos que compõem os intervalos entre uma viagem e outra. Mas nem tudo são tropeços nessa jornada, e se há algo definitivamente marcante em 1492: A Conquista do Paraíso é a trilha sonora de Vangelis, que voltava a trabalhar com o mesmo diretor dez anos após outro belo trabalho – Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982). Mais do que a fotografia grandiosa, os tons pastéis que dominam cada cena, os cenários dispendiosos e os gestos teatrais, sem mencionar a direção despersonalizada de Ridley Scott, são as composições do grego vencedor do Oscar por Carruagens de Fogo (1981) – e indicado ao Globo de Ouro por este trabalho – que ressoam até hoje, mais de vinte anos após seu lançamento, como ponto de maior identificação popular. Um feito e tanto, mas ainda pequeno diante das pretensões que a obra como um todo continha.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
4
Francisco Carbone
3
MÉDIA
3.5

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