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Sinopse

Elisa tem apenas quarenta anos quando descobre estar com uma doença incurável. Antes que seu coração pare, encontra uma maneira de ficar perto da filha: um presente para todos os aniversários até a idade adulta, 18 presentes para tentar acompanhar o crescimento da criança ano após ano.

Crítica

Certas históricas são intrinsecamente melodramáticas. As de gestantes acometidas por cânceres terminais é um exemplo disso. Cabe ao realizador, então, equalizar os elementos para não deformar o sentimentalismo inerente à circunstância. Infelizmente não é o que acontece na maioria dos filmes dotados de premissas naturalmente lancinantes. A produção italiana 18 Presentes é uma dessas incapazes de se desvencilhar da armadilha de recorrer ao choro fácil ao exponenciar o que, paradoxalmente, teria impacto emocional bem maior caso tratado a partir das nuances, daquilo que não está evidente tão logo a sinopse se apresente. Anna (Benedetta Porcaroli) cresceu sem sua genitora vitimada por um tumor agressivo exatamente no dia em que deu a luz. Durante os 18 primeiros aniversários, a jovem ganhou anualmente presentes deixados pela falecida. Algo que poderia estabelecer um vínculo afetivo forte, mas que acabou também criando uma indignação latente. A recém-maior de idade cresceu revoltada por não ter a presença da mulher que lhe deu a vida.

Todavia, quando imaginamos que o cineasta Francesco Amato vai desviar da tentação que conferir tintas ainda mais saturadas à tristeza, ele recorre a um expediente de gosto duvidoso e certamente não original. Ao fugir da festa que marca a passagem da adolescência à fase adulta, Anna é atropelada e miraculosamente transportada ao passado, num tempo em que convive com as angústias de sua mãe grávida. 18 Presentes é inspirado em fatos, mas a liberdade poética que interliga as dimensões cronológicas se encarrega de abrir a porta à presença dos tons ainda mais pesarosos que sobrepesam o filme. Para começo de conversa, é difícil estabelecer quem é a protagonista do longa-metragem, uma vez que a mudança ocasionada pelo acidente permite à falecida Elisa (Vittoria Puccini) aspirar a esse espaço de destaque. Há uma alternância entre mãe e filha, mas de modo estéril, num movimento fundamentado tão e somente no reforço desse encontro com doses de melancolia.

O dispositivo insondável que leva à “viagem” de Anna ao passado se esclarece apenas no fim. É menos óbvio do que poderíamos supor num primeiro instante. Todavia, 18 Presentes perde pontos valiosos ao ressaltar aquilo que a conjuntura promove organicamente. É contraproducente, por exemplo, o deslocamento da câmera ao rosto choroso da menina assim que sua mãe, ignorante de interagir com a herdeira gestada em sua barriga, menciona o quão lhe dói saber que a doença lhe privará do convívio familiar. Francesco Amato sublinha cada constatação de lamento, todo e qualquer gesto que reforça a angústia de quem está prestes a morrer e daquela que cresceu sem conhecer a mãe. Nessa trajetória, Alessio (Edoardo Leo), o pai, é deslocado a um espaço bastante apendicular. Evidentemente, a jovem adulta passa a entender melhor o homem que a criou nesse contato com sua versão menos amargurada, mas isso é praticamente descartado do escopo principal. Tampouco é valorizada a transformação, por meio da dor, do técnico entusiasmado em pai entristecido.

É confusa a apresentação dos pontos de vista de 18 Presentes. Antes do atropelamento, a perspectiva que nos guia é a de Anna. Depois do evento, somos convidados enxergar pelos prismas da filha ciente e da mãe ignorante. O fato da personagem de Benedetta Porcaroli ajudar na escolha dos presentes a serem dados a ela própria numa realidade alternativa não tem utilidade prática, sendo disposto somente como um artifício para mostrar à cartesiana Elisa a necessidade de levar em consideração a impossibilidade de antever os anseios da menina prestes a nascer. Se o longa fosse montado cronologicamente, com Anna substituída por uma amiga jovial e porra-louca, pouca coisa efetivamente mudaria. E isso é um indício e tanto de como a interação insólita mãe/filha deixa de ser profundamente entendida como única. O melodrama é um gênero vilipendiado, mas complexo como poucos. Dosar as emoções, saber exatamente em que momentos deixar o sentimentalismo fluir e em que partes estancar seu escoamento intenso é uma arte fina. Pena que isso não acontece neste filme.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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