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Sinopse

Depois de um encontro casual, Tonho convida Paco para dividir um galpão abandonado. Tonho é tímido, humilde, sincero. Paco é misteriosa, arrojada, agressiva. Fora a condição de estrangeiros, aparentemente não têm nada em comum. Ele está cansado de subempregos e quer voltar para o Brasil. Ela quer virar uma popstar da música. Por necessidade, falta de opção e solidão, Tonho e Paco passam a viver um cotidiano infernal, fruto de ressentimento, frustrações, violência e uma inusitada história de amor.

Crítica

2 Perdidos Numa Noite Suja é um dos textos clássicos do teatro nacional. Escrito no final dos anos 1960 pelo dramaturgo Plínio Marcos (também autor de obras como Abajur Lilás e Navalha na Carne), havia sido adaptado para o cinema uma vez, em 1971, por Braz Chediak. Nessa primeira versão, dois homens (Emiliano Queiroz e Nelson Xavier), Tonho e Paco, se encontravam na periferia paulista para discorrerem sobre suas semelhanças e diferenças em relação à sociedade que os excluía. Nessa versão assinada por José Joffily, as diferenças em relação à obra original são postas logo de cara: Paco, dessa vez, virou uma menina (Débora Falabella, debutando no cinema), e ela e Tonho (Roberto Bomtempo, parceiro habitual do diretor) são imigrantes ilegais nos Estados Unidos, a meca para onde todos se dirigem atrás da realização do “sonho americano”. Entretanto, a ambientação teatral continua presente (o filme se passa praticamente em um único cenário), marcando com força sua origem.

Num galpão abandonado em Nova Iorque, Tonho e Paco se encontram para reavaliarem suas condições. Em comum, o fato de serem brasileiros, estarem no estrangeiro ilegalmente e em busca de suas ambições. Tonho é bobo, ingênuo, pequeno, e esconde o sua condição da família, que continua no Brasil, através de cartas ilusórias que relatam um presente utópico, no qual tudo deu certo. É o modo que encontrou para enganar não só as únicas pessoas que se preocupam com ele, mas também para iludir a si próprio, pois é o primeiro a se considerar, antes de qualquer coisa, um fracassado, prestes a abdicar de tudo para voltar para casa.

Paco, por sua vez, é ousada, marcada pela vida e calcada na malandragem. Disfarça-se de rapaz para se passar por garoto de programa em rodoviárias e estações de metrô, onde ganha a vida através dos trocados que recebe por praticar sexo oral em homens apressados nos banheiros públicos. Quando as máscaras que sustentam com muito esforço caem, resta arrependimento e frustração, sentimentos que aprenderão a trabalhar juntos.

2 Perdidos Numa Noite Suja é um filme tecnicamente primoroso, com um acabamento que chama atenção. Finalizado em equipamento digital, essa clareza de imagem se percebe com facilidade em cena. Filmado em São Paulo (as internas) e em Nova Iorque (as externas), é um exemplo de co-produção internacional que soube apresentar um belo trabalho mesmo contando com poucos recursos, exemplo a ser seguido na nossa cinematografia. Apesar disso, carece de energia, e o que vemos é, na verdade, uma peça filmada, e não um filme por si só. A transposição de um meio para o outro não se deu por completo, o que termina por prejudicar um pouco sua aceitação.

Nada disso, no entanto, chega a atrapalhar o desempenho excepcional de Falabella, que aqui se confirmou como uma das melhores atrizes da sua geração, além do visual plasticamente perfeito do filme. Falta apenas mais paixão, tanto na contextualização da temática quanto do roteiro em si, que por momentos fica auto-referencial demais, afastando-se dos problemas reais caros aos brasileiros que aqui estão – e afinal, são esses que contam para nós, a audiência, não é mesmo? Mesmo assim, 2 Perdidos Numa Noite Suja é um filme digno do reconhecimento que recebeu em festivais como os de Gramado e Brasília, e que merecia ser descoberto por um público que precisa ver a nossa realidade sendo trabalhada com respeito na tela grande.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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