Crítica
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Crítica
O nome pode ser 21 Gramas, mas virou clichê afirmar que o filme é bem mais pesado do que o seu título sugere. Em nenhum momento o diretor mexicano Alejandro González Iñarritu é complacente com o público, indo direto ao âmago das questões propostas sem meias-palavras ou caminhos alternativos. É duro, cruel, impiedoso. E, acima de tudo, verdadeiro. Mais do cinema, melhor se define como uma ‘experiência’. Afinal, é preciso estar preparado para encará-lo no auge do seu potencial. Definitivamente, não se trata de um longa comum, daqueles para se ver num sábado à noite, com muita pipoca e refrigerante – não, nada mais distante disso. É uma obra pesada, concisa e perene, de um cineasta que atinge uma maturidade rara, e logo no seu segundo trabalho.
Um dos alicerces de 21 Gramas são seus protagonistas, três atores que, após uma rápida análise de suas carreiras, não têm medo de assumirem riscos nem de enfrentarem novas situações. Sean Penn é um matemático com os dias contados, pois precisa urgentemente de um transplante do coração. Naomi Watts é uma mãe de família que encontrou seu “eixo”, após anos de excessos (entende-se isso por noitadas regadas à bebidas e drogas), num bom casamento e em suas duas filhas. E Benicio Del Toro é um ex-militar recentemente convertido a um culto religioso, que acredita que o poder da fé pode mudar tudo e todos, bastando para isso acreditar. O que une essas três vidas é um acidente que terá conseqüências trágicas e fortes nos destinos de cada um deles, deixando-os num mesmo padrão: o de corpos imersos num nada, prestes a serem levados pela letargia, desilusão, morte. Nesse ponto, o que faz a diferença?
Há uma teoria (não comprovada) de que, no exato momento da morte, o corpo humano “perderia” 21 gramas – peso referente, acredita-se, a nossa “alma”. Assim, se serão elas que servirão como testemunho diante um eventual “juízo final”, do que as estamos dotando diariamente, de acordo com as decisões que tomamos cotidianamente? Às vezes é a diferença de um “sim” e um “não”, de um “agora” e um “daqui a pouco”; pode ser somente um detalhe para um, e um mundo inteiro para outro. É isso que 21 Gramas quer discutir: estamos realmente sozinhos, ou o que somos e vivemos é resultado direto do convívio e das atitudes daqueles que nos circulam diariamente, sejam conhecidos ou não?
Construído a partir de uma cuidados atenção aos detalhes, 21 Gramas se destaca também pelo minucioso roteiro, que transita de uma camada a outra de leitura com impressionante agilidade. Aliado a uma edição precisa, se propõe a contar essa história de modo aleatório, assumiando o elemento variável tanto em sua forma como conteúdo. São peças de um quebra-cabeça que, aos poucos, são colocadas lado a lado, de acordo com o modo como são dispostas na tela. Assim, ganha-se pontos não só com a forma inusitada e original (não apenas ao reverso, como Amnésia, 2000, mas literalmente fora de ordem), mas também pelo respeito à inteligência do espectador, que é convidado a também fazer parte do processo, se utilizando de suas experiências pessoais para se aproximar e solidificar os diversos pedaços da trama. Sábio, intenso e original, dono de atuações únicas e conduzido com segurança – assim é 21 Gramas, que vale mais do que qualquer cotação poderia sugerir.
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