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Sinopse

Xerxes começa uma senda de vinganças após a morte do pai. Ele ruma em direção à Grécia, enquanto os 300 espartanos liderados por Leônidas tentam combater o Deus-rei.

Crítica

Quando a Warner decidiu realizar a continuação do ótimo 300 (2006), o projeto ainda era encabeçado pelo diretor do original, Zack Snyder, e adaptaria a inédita história escrita por Frank Miller, que serviria como prelúdio à saga dos espartanos e exploraria as motivações do deus-rei Xerxes (Rodrigo Santoro). Entretanto, Miller concluiu apenas duas das cinco edições – que nem sequer foram publicadas – que comporiam a base do argumento original e Snyder saiu do barco – não completamente, já que assina como produtor – para dirigir seu filme do Superman, Homem de Aço (2013). Essas informações servem como ponto de partida para compreendermos o que 300: A Ascensão do Império é: um filme sem identidade.

Desviando-se completamente da sua intenção original, o roteiro já não explora mais toda a complexidade de Xerxes – fazendo com que Rodrigo Santoro seja escamoteado sem dó nem piedade na trama – mas, sim, no que acontece nos bastidores da Batalha das Termópilas. Para isso, somos arremessados dez anos antes dos eventos vistos no longa anterior, quando Dário tentou invadir a Grécia e foi impedido pelos atenienses liderados por Themistokles (Sullivan Stapleton). Sua morte desperta o desejo de vingança em Xerxes, filho do rei persa, porém ainda mais na feiticeira da corte, Artemisia – brilhantemente interpretada por Eva Green – que usa de todo seu poder de persuasão para conduzir o príncipe em seu processo de transformação em "divindade" para, assim, poder atacar a Grécia. Então, enquanto Leônidas enfrenta o deus-rei na terra (como visto em 300), Themistokles combate a armada de Artemisia no mar.

O diretor Noam Murro não compreendeu o alcance do primeiro filme na cultura pop. Isso percebe ao vê-lo realizar as piores escolhas para uma continuação. Desde a história que, por englobar um período de mais de uma década, não consegue se aprofundar nos pontos mais relevantes, deixando pontas soltas cruciais para a compreensão daquele período histórico; quanto a perspectiva estética: tirando a proposta das principais batalhas acontecerem no mar – o que é uma grande inovação em se tratando do gênero – há uma exorbitante saturação dos mesmos elementos tão bem utilizados por Snyder no filme original. O slow motion é inoportuno e atrapalha o seguimento dos confrontos. O sangue que jorra dos ferimentos ganha uma proporção exagerada por causa do 3D e não traduz nada; apenas faz com que o filme ganhe ares da série de games Mortal Kombat.

O protagonista Sullivan Stapleton, na pele de Themistokles, tenta, mas não consegue reproduzir a áurea de herói e de líder alcançadas por Gerard Butler, seu antecessor. Os discursos por ele proferidos não empolgam e sua postura não impressiona. Não há carisma algum em sua atuação. Mas podemos dar um desconto. Afinal, seu personagem não é um rei que conta com a completa fidelidade de seus súditos, mas um general que alcançou status político através de um feito já distante. Rodrigo Santoro é outro que some no filme. Porém, graças a uma contraditória escolha do roteiro.

Paradoxal porque erra ao esconder Santoro e seu Xerxes, mas que acerta ao destacar a fabulosa Eva Green, na pele de Artemisia, como principal antagonista do filme. Ela é a responsável por você permanecer no cinema até o final. Personificando todas as características das entidades femininas babilônicas – manipuladora, assassina e promíscua, entre outras coisas – ela serve como peça crucial às parábolas que o longa proporciona: o misticismo do Oriente contra a razão do Ocidente, a limitação dos homens ante ao poder feminino – algo que poderia assumir uma proporção ainda maior se a personagem de Lena Headey, a rainha Gorgo, de Esparta, ganhasse mais espaço na trama.

Se 300 é vivo na memória do público por suas belas cenas e frases de efeito tiradas diretamente das páginas ilustradas por Frank Miller, 300: A Ascensão do Império apenas repete fórmulas. E esse é seu maior pecado: trazer à toda custa a memória do original, enquanto desiste de entregar algo novo. No final fica a pergunta: onde estão os pais dessa criança? Porque, sim, Miller e Snyder fazem muita falta.

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Eduardo Dorneles é estudante de letras, amante de cinema, literatura, HQs e mantém um blog de crônicas e contos (edorneles.blogspot.com) .
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