Crítica
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Sinopse
Crítica
Dizer que os filmes de terror servem unicamente para amedrontar seria uma enorme simplificação. Esse gênero pode nos levar a experimentar sensações (entre elas o medo, claro) dentro de uma lógica de contemplação estética que frequentemente contém instantes-chave de catarse. De modo similar, seria no mínimo reducionista esperar que uma produção erótica cumpra plenamente a sua função se provocar ereções e lubrificações, ou seja, ao gerar respostas físicas imediatas. Afinal de contas, o sexo é um elemento influente para além do coito em si, podendo ter inúmeras implicações em níveis pessoais e coletivos. Mas, não é o que pensam os idealizadores de 365 Dias Finais, a última parte da trilogia de filmes poloneses que surfaram numa onda iniciada com a saga Cinquenta Tons de Cinza e que tem raízes na saga Crepúsculo. Aliás, retomando a relação entre terror e erótico, podemos estabelecer uma analogia entre as produções mais caça-níqueis da saga Jogos Mortais e essas comandadas por Barbara Bialowas e Tomasz Mandes. Nas histórias encabeçadas pelo sádico Jigsaw, as tramas foram perdendo substância para uma suposta demanda da plateia por mortes cada vez mais elaboradas. Acontece algo muito parecido nas tramas dessa trilogia soft porn, pois o que sobra entre as cada vez mais acrobáticas (bregas e estéreis) cenas de sexo é um fiapo ridículo de enredo. Pena que no cinema comercial contemporâneo, das duas uma: ou o sexo inexiste ou ele existe para (re)vender padrões.
A história de 365 Dias Finais começa exatamente onde tinha acabado a do filme anterior, 365 Dias Hoje (2022). Os cineastas tentam criar mistério em torno da possível morte de Laura (Anna Maria Sieklucka). E isso acontece especificamente numa cena de sepultamento que mais parece uma propaganda de planos funerários, vide os sobrevoos plásticos de drones e os diálogos pobres entre os mafiosos de facções inimigas. Mas, todo mundo sabe que a mocinha dividida entre dois amores está vivinha da silva e...cheia de tesão. Aliás, Laura está subindo pelas paredes na primeira vez em que aparece. E a frustração dessa vontade de fazer amor decorre da "consciência" de Massimo (Michele Morrone) quanto ao resguardo médico. Consciência masculina essa que dura pouco: até a mulher ir ao cabeleireiro, se produzir e interromper uma reunião de gângsteres vestida à lá Jéssica Rabbit. É outra cena em que tudo, absolutamente tudo, está subordinado à construção de uma circunstância que parece retirada de um filme pornô. A suposta tensão da ilegalidade, a hesitação do chefão e a surpresa ocasionada pela chegada voluptuosa da esposa. O conjunto cai inteiramente por terra para que aconteça a primeira transa. E ela vem como as outras dos filmes anteriores: com mais acrobacia do que tesão, repleta de câmeras lentas/planos-detalhes e embalada por músicas pops genéricas. No filme todo é assim. Quando não encontram espaço para inserir o sexo no cotidiano, os roteiristas inventam um sonho caliente.
365 Dias Finais é uma sucessão de clipes eróticos entremeados por crises amorosas e existenciais tão rasas quanto um pires, além de cercada de linguagem publicitária por todos os lados. Provavelmente seguindo a máxima “em time que está ganhando não se mexe”, Barbara Bialowas e Tomasz Mandes continuam apostando num mundo que deixaria corados de vergonha os contos de fadas no quesito idealização: as pessoas são ricas, influentes, ostentam impunemente e se encaixam sistematicamente nos padrões que as propagandas utilizam para criar “necessidades” em seu público-alvo. Laura continua indecisa entre Massimo e Nacho (Simone Susinna), dois homens lindos que esbanjam o que o filme evidentemente considera (e defende reiteradamente) como modelo de masculinidade: viris, onipotentes, dispostos a transar, ricos e, de quebra, sensíveis. O roteiro costura burocraticamente as situações, partindo da pretensa dúvida profunda à demonstração de que a infelicidade é mais postiça do que uma nota de três reais. Conversa mole + clipe com gente trepando loucamente + conversa mole + alívio em cenas descartáveis + gente trepando loucamente, filmada como se estivesse num comercial de camisinha + pessoas dizendo o quanto sofrem. Esse é o esquema básico repetido do começo ao fim desse longa que utiliza o drama como mera desculpa para o gozo de todo mundo.
O comportamento dos personagens é inconsistente, as dúvidas não perduram e as tragédias pessoais são menos importantes do que as coreografias (ruins) de sexo. 365 Dias Finais flerta com a paródia, haja vista as caras e bocas do elenco, a falta de firmeza de enunciados/ações e o quão artificiais são as mirabolantes relações sexuais. O corpo dos atores é exposto ao consumo desprovido de senso crítico, com a câmera passeando livremente por curvas e zonas erógenas, como se fosse previamente incumbida de extrair delas um tesão que nunca atinge o espectador. Do ponto de vista da narrativa, o longa-metragem é ainda mais pobre se pensarmos na construção das imagens. Dentro dessa idealização que beira o grotesco, há sempre uma contraluz, um pôr-do-sol belíssimo emoldurando gente linda “sofrendo” em suas casas nababescas enquanto bebem champanhe e uma câmera que nem consegue existir como se fizesse parte dos jogos sexuais. Note como grande parte dos planos começa do mesmo jeito: os personagens estão a certa distância, o dispositivo avança e a ação inicia apenas quando o movimento finalmente termina. Sempre assim e muitas vezes. O que gera uma repetição que acentua o nosso cansaço. Para encerrar a fatura, os diálogos contêm uma coleção estapafúrdia de frases prontas e chavões. É preciso uma dose considerável de carência para se excitar com algo tão desprovido de qualidades. E se a produção não consegue provocar tesão, quanto menos encarar o sexo de modo adulto.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 2 |
Francisco Carbone | 1 |
MÉDIA | 1.5 |
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