Crítica
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Sinopse
Poucos meses antes dos Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona, Espanha, o time espanhol de polo aquático tem tudo para fracassar diante de sua torcida. Mas a chegada de um novo técnico com diferentes métodos de trabalho faz com que a equipe comece a sonhar com uma medalha olímpica.
Crítica
Quantos filmes sobre polo aquático já foram feitos? Não muitos, não é mesmo? E isso por um motivo simples: este talvez seja um dos esportes menos “imagéticos” que possa existir. Se o futebol já é difícil, ao menos há o drible, a troca de bola, o pênalti, o passe inesperado... tudo que parece inexistir por aqui. Tanto é que em 42 Segundos, apesar do foco ser a campanha da seleção espanhola desta prática durante as Olimpíadas de 1992 em Barcelona, a trama opta por explorar apenas um dos confrontos: justamente o último, quando houve a disputa com a Itália pelo ouro olímpico. E se o final, para quem não lembra do resultado do jogo, está ao alcance de qualquer um com acesso à internet, chama atenção no longa dirigido pela dupla Àlex Murrull e Dani de la Orden o interesse que demonstram mais pelo durante, do que pelo fim em si. Em uma história de superação cujo desfecho é público e notório, tal opção não apenas revela perspicácia por parte dos realizadores, como também reserva uma ou outra surpresa aos espectadores.
Narrado de forma cronológica e bastante tradicional, 42 Segundos começa poucos meses antes dos 25o Jogos Olímpicos. A Espanha está eufórica, com uma exceção: o treinador da equipe de polo aquático, que parece mais interessado nas turistas mulheres que virão ao país do que na própria performance dos seus atletas, a maioria despreparada e fora de forma. Tanto é que sua substituição será providenciada com rapidez, e no seu lugar chegará um profissional com estilo mais radical e severo, em busca de resultados, e não muito em amizades ou demonstrações de camaradagem. Dragan Matutinovic vinha da Croácia e seguia uma linha dura de treinamento, com exercícios intensos e contínuos. Sua intenção era clara: não ter que ele próprio escolher os melhores, mas fazer com que os mais fracos acabassem desistindo por conta própria. Será por meio desse método que chegará ao time que acredita pronto para, se não digno do ouro, ao menos eficiente o bastante para não fazer feio e se posicionar entre os primeiros do ranking.
Se o título internacional – The Final Game, ou O Último Jogo, em tradução literal – parece ser um tanto forçado (afinal, nenhuma das partidas anteriores será abordada pelo roteiro, fazendo da derradeira também a única a ganhar algum tipo de atenção) o batismo original soa ainda mais despropositado. Seria de se esperar que os tais 42 segundos tivessem representado um momento crucial na jornada destes esportistas e dos torcedores que os acompanhavam, mas essa interpretação é mais subjetiva do que se poderia esperar. Sem querer dar spoilers – afinal, como dito acima, trata-se de um episódio real e amplamente divulgado, ocorrido há mais de três décadas – aos neófitos neste esporte é importante entender que, no caso de um empate, prorrogações podem se suceder, até que um dos dois times, enfim, consiga superar o adversário. Eis o que acontece na decisão, e se o tempo apontado de fato chegou a importar na primeira prorrogação, sua expectativa acaba não se cumprindo, encaminhando o resultado para um segundo – e até mesmo terceiro – adiamento.
Eis, enfim, uma lógica essencial para apreciação desta proposta: o que mesmo importa é quem venceu, pois a diferença está nos participantes e nestes indivíduos que, ao serem somados, formaram o conjunto. E entre estes, dois ganham destaque na abordagem proposta pelo roteirista Carlos Franco (em seu segundo longa, o primeiro após a comédia Blue Rai, 2017): Manel Estiarte (Álvaro Cervantes, em mais um exercício de versatilidade e comprometimento) e Pedro Aguado (Jaime Lorente, reprisando o tipo um tanto selvagem visto nas temporadas iniciais de Elite, 2018-2020, e La Casa de Papel, 2017-2021). Um é o capitão do time, o cara no qual todos confiam e que irá se dedicar ao máximo para que o grupo alcance o seu melhor. Já o outro é o típico ‘rebelde sem causa’, aquele que foge à noite para ir em festas e encontrar garotas e se mostra incomodado a cada ordem recebida. Não causará espanto identificar de imediato que ambos logo estarão em rota de colisão um com o outro. Porém, a maneira como De La Orden (que trabalhara com Lorente na série adolescente da Netflix e com Cervantes na comédia romântica Loucura de Amor, 2021) e Murrull escolhem por tornar deste embate interno na força propulsora de um grupo rumo a um feito em comum é suficiente para fazer diferença.
Mais sobre o processo e menos sobre o destino anunciado como meta desde os primeiros minutos, 42 Segundos é hábil em fazer das suas debilidades – a previsibilidade da trama, o formato por demais tradicional, as dificuldades a serem superadas como pedras em um caminho mais amplo – algo não a ser evitado, mas exercícios de aprimoramento que, uma vez vistos de frente e sem muitos preâmbulos, fazem do todo uma experiência mais rica e inesperada. E se a conclusão poderá surpreender por driblar o óbvio, estará durante os créditos de encerramento a mais valia histórica necessária para comprovar que cada sacrifício, enfim, em algum momento chegou a valer a pena. Deixando de lado recursos desgastados – o técnico enquanto carrasco, o interesse romântico como válvula de escape – e investindo na amizade entre homens e colegas, se alcança uma demonstração de ideal esportivo que provavelmente deixaria o Barão de Coubertin orgulhoso.
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