Crítica
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Sinopse
Repleto de dívidas contraídas pela cantina herdada, Pedro decide cometer suicídio. O que lhe impede? A final do campeonato de futebol no qual seu time pode sagrar-se vencedor. E ele vai contar com a ajuda dos seus amigos.
Crítica
Tudo em 45 do Segundo Tempo existe para uma mensagem prevalecer: quando as coisas estão ruins, se agarre às amizades para vencer qualquer obstáculo. E, como um típico filme que almeja sincronizar alguns ensinamentos, ele acaba enfraquecendo vários aspectos (psicológicos, emocionais, existenciais, dramáticos, etc.) para as peças se encaixarem adequadamente à sua finalidade. O protagonista é Pedro (Tony Ramos), dono de um restaurante italiano falido que parece encontrar resquícios de alegria somente na boa fase do Palmeiras no campeonato brasileiro de futebol. O roteiro assinado por Vinicius Calderoni, Rafael Gomes, Luna Grimberg, Laura Malin, Leonardo Moreira e Luiz Villaça (este que também dirige a produção) prevê em seu primeiro terço a construção dessa situação desesperadora. Quase sem amigos, devendo na praça, incapaz de honrar compromissos, o sujeito bonachão opta pelo suicídio – não sem antes conferir se o time do coração poderá ser campeão desbancando o arquirrival Corinthians. Mas, não há um interesse real na situação psicológica dele, no que o leva a decidir por algo tão definitivo e drástico quanto a interrupção da própria vida. Uma vez compreendido que a crise sustenta a parte inicial desse caminho que claramente prevê uma curva ascendente/redentora, a mensagem se impõe como destino. Desde o começo há a previsibilidade confortadora.
Logo se instaura um falso dilema. Falso, pois ele não sustenta dúvidas quanto ao resultado: se Pedro aprender o que precisa, receberá como prêmio a renovação do gosto pela vida. No entanto, verdade seja dita, 45 do Segundo Tempo tem lá o seu charme. A começar pelo ótimo desempenho de Tony Ramos como o protagonista na berlinda. Pedro utiliza palavrões como vírgulas/interjeições. Então, vemos um ator consagrado na televisão, principalmente em papeis de bom moço, proferindo expressões como “caralho”, “filho da puta”, “vai se foder” sem o mínimo constrangimento. Porém, até essa natureza praguejante e intempestiva de Pedro é um indício de sua peculiaridade adorável, uma das caraterísticas da personalidade que transforma em cativante até mesmo a pronúncia quase ininterrupta das palavras de baixo calão. Em meio ao caos que toma conta de sua vida, Pedro reencontra Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França). O primeiro é um advogado que vendeu seu tempo e sua inteligência para salvar corruptos da cadeia e está passando por uma crise terminal no casamento. O segundo virou padre e se debate com as dúvidas religiosas que o assolam, bem como hesita diante da paixão pela bela ministra de sua paróquia. Portanto, não temos apenas um personagem que precisa evoluir a fim de sair da pegajosa lama, mas três. É presumível o que acontece nesse filme que não desvia dos lugares-comuns.
Um aspecto interessante de 45 do Segundo Tempo é a busca de algo bom das memórias. Pedro, Ivan e Mariano, amigos que não se viam há mais de 30 anos, resgatam das lembranças os instantes compartilhados da juventude inesquecível. O diretor Luiz Villaça não elabora o “em busca do tempo perdido” de modo determinante, se contentando com os marmanjos remontando a glórias efêmeras na tenra idade enquanto ilustra os devaneios com flashbacks em câmera lenta. Somente adiante é que alguém tem coragem de questionar o "mar de rosas" defendido como “a melhor fase da vida”. Porém, nada que chegue perto de causar rachaduras num escudo cunhado com a liga da nostalgia. O reencontro com a ex-xodó dos três personagens poderia acentuar a frustração dessa estratégia de localizar a solução na reconexão com o passado. Porém, não é o que acontece. A cena com a personagem vivida por Louise Cardoso serve como um minúsculo obstáculo (que sabemos ser um contratempo quase ínfimo) para as mensagens serem assimiladas, devida e burocraticamente, por todos envolvidos. Especialmente o talento de Ary França é boicotado pela fragilidade de um personagem (o padre) que tinha tudo para ser um elemento tragicômico de vital importância. Já Cássio Gabus Mendes se destaca apenas quando Ivan é incumbido de expor o anacronismo de homens que precisam...aprender.
As angústias de Ivan diante da orientação sexual do filho e do abandono da esposa; as dúvidas do padre que nem tem certeza se acredita no deus ao qual serve; e mesmo esse idealismo sonhador do protagonista que decide colocar um fim na própria vida são situações amenizadas durante o percurso compartilhado em que a amizade se torna muleta e razão para sobreviver. Problemas complexos são atenuados por sugestões fáceis, vide os vínculos ressurgindo das cinzas após três décadas de completa ausência e falta de interesse nos antes melhores amigos. E sobre o futebol, ele é pouco utilizado como argamassa para unir os personagens e menos ainda como disputa repleta de variáveis que pode, de alguma forma, conter em si alguns dos grandes dilemas existenciais do ser humano. O simbolismo poderia/deveria ser melhor aproveitado se diluído ao longo da trama. Isso provavelmente faria o esporte ser, de fato, essencial para o tecido narrativo. Contudo, a simetria jogo/vida está concentrada numa única cena próxima do encerramento. Então, no fim das contas, pouco importa se o Palmeiras será ou não campeão, mas sim o que Pedro, Ivan e Mariano aprenderão para prosseguir após chegarem simultaneamente a encruzilhadas angustiantes. Os pontos perdidos nesse jogo cinematográfico não dizem respeito necessariamente ao ataque (a supremacia das mensagens), mas à retranca armada por Luiz Villaça que, em termos cinematográficos, reprime a consistência em prol das simplificações.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 5 |
Robledo Milani | 8 |
Alysson Oliveira | 6 |
Ailton Monteiro | 7 |
Alex Gonçalves | 8 |
Celso Sabadin | 7 |
MÉDIA | 6.8 |
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