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Sinopse

Cinco abordagens diferentes sobre os cinco estados que são banhados pelo Rio São Francisco. A fé, as paixões e as lendas que sobrevivem nas suas comunidades ribeirinhas. Os terrenos acidentados que margeiam a gigantesca fonte de água e trabalho, um afluente que permitiu o estabelecimento de mais de 16 milhões de brasileiros na região.

Crítica

A premissa chama atenção: durante cinquenta dias de viagem, cinco diretores de estilos e origens diferentes decidiram acompanhar o Rio São Francisco, desde sua nascente em Minas Gerais e passando pelos estados da Bahia e de Pernambuco até chegar em sua foz, na divisa entre Alagoas e Sergipe. Como se percebe, os números falam alto na gênese do projeto. No entanto, o que 5 Vezes Chico: O Velho e suas Histórias exibe na tela suplanta qualquer disparidade entre os envolvidos em sua realização para se revelar uma obra conjunta, de resultado homogêneo, que vai do pitoresco ao emocional para prestar tributo a um dos maiores bens naturais deste país.

Ainda que não seja o mais famoso – posto que talvez caiba melhor ao Amazonas – é inegável reconhecer a importância do São Francisco para o Brasil, principalmente para as pessoas que são diretamente afetadas pelo seu curso. E numa época como a atual, ainda sob a luz do trágico acidente em Mariana e os reflexos causados ao Rio Doce e às comunidades próximas, é ainda mais necessário ações que possibilitem uma conscientização maior a respeito dos recursos da nossa terra. O longa produzido por Izabella Faya, no entanto, não tem como objetivo ser panfletário ou meramente discursivo. Suas intenções vão além, buscando um entendimento através de um alerta mais urgente, que não só desperte interesse sobre o tema em pauta, como também motive mais do que uma mera insatisfação. Não basta apenas um gesto, uma bandeira que se levante ou um grito perdido no ar. Muito mais forte é saber os motivos por trás desta necessidade, pois uma vez apreendidos, se tornam eternos.

Se esse percurso fluvial já havia rendido o irregular Espelho d’Água: Uma Viagem no Rio São Francisco (2004), que partia da ficção para explorar cinematograficamente esse mesmo cenário, em 5 Vezes Chico o que vemos é um olhar documental, porém com uma sinergia tão forte que por vezes chega a soar como um ensaio bem realizado. O único ator profissional é Claudio Jaborandy, e ainda assim participa apenas como narrador do último episódio. Até lá, a jornada irá levar sua audiência a um caminho similar ao vivido por aqueles decididos a navegar por essas águas calmas, porém vitais. Temos os contadores de histórias de pescador, os de forte influência religiosa, aqueles que tiram do rio seu sustento, os que nele se inspiram para criar seus próprios mundos particulares e, por fim, os que veem no São Francisco tanto ponto de chegada quanto de partida. Dali tudo nasce, cria e se desenvolve, mas sempre com um preço a ser pago: antes de mais nada, respeito.

O pernambucano Camilo Cavalcante, o gaúcho Gustavo Spolidoro e os cariocas Eduardo Goldenstein (Corda Bamba, 2012), Eduardo Nunes  e Ana Rieper (Vou Rifar meu Coração, 2011) foram os selecionados para oferecerem suas visões em 5 Vezes Chico. Não sabemos quem fez o que, qual a ordem e as responsabilidades de cada um dos envolvidos e nem se trabalharam isoladamente ou em conjunto. O filme não se preocupa com isso, nem graficamente – não há interseções gráficas, muito menos créditos, que identifiquem quando um começa e outro termina – e também não tematicamente. Antes de prejudicar, esse detalhe acaba colaborado na sua fluidez, reproduzindo em cena a mesma sensação vivida por seus navegadores.

Em certo momento, um casal que vive dos peixes do São Francisco conversa sobre a possível venda do porco que criam como animal de estimação. Não há mais o que pescar, o marido afirma, e precisamos de dinheiro. Ela até tenta argumentar, mas lhe faltam palavras. E praticamente sem se mover, acaba concordando com um pesar nos olhos. Pois é justamente essa a compreensão que 5 Vezes Chico: O Velho e suas Histórias almeja incutir em sua audiência: silenciosa, singela e resistente. Um belo filme, que comove sem exageros e gratifica pelos detalhes, superando qualquer expectativa contrária e revelando-se superior à soma de suas partes em separado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
7
Roberto Cunha
5
MÉDIA
6

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