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Sinopse

Em pleno dia da independência dos Estados Unidos, Katie descobre que seu irmão, Seth, teve uma recaída com a heroína. Enquanto isso, a filha dela, de dois anos, está sozinha.

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Katie está vivendo um dia importante. Além de ser 4 de julho – data da independência norte-americana – é também aniversário do namorado. Por isso, preocupou-se em reunir a família, amigos e organizar uma festa-surpresa para o amado. E entre a decoração, manter os pais sem discussões e providenciar a comida, ela recebe no colo mais uma preocupação: buscar o irmão, Seth, e sua sobrinha, que estão à espera de uma carona. Não seria nada demais, não fosse uma questão extra a pesar: ele é viciado em heroína, e, como ela logo identifica, está no meio de uma nova recaída. Será a jornada dela, durante este dia, ao seu lado, no que consiste a trama de 6 Balões, um filme bastante bem-intencionado, mas que tropeça em sua realização em soluções óbvias e conflitos clichês, que pouco colaboram em tornar a mensagem com a qual se preocupa em um retrato mais efetivo, comprometendo a eficácia deste discurso.

Nas cenas iniciais, a diretora e roteirista estreante Marja-Lewis Ryan se preocupa em colocar em evidência o perfil controlador da protagonista. Ela é daquele tipo de mulher que odeia ficar perdendo tempo em lojas ao lado da mãe – “você nunca compra nada” – e está sempre insatisfeita com os esforços dos outros – “você vai enrolar novamente os canapés, não é mesmo?”. Por isso, quando o pai chega sem o filho e a neta, prefere ela mesma ir buscá-los do que ficar reclamando sobre o esquecimento. Em cenas rápidas e sequências desenhadas especificamente para proporcionar um melhor entendimento da personagem, a atriz Abbi Jacobson (Vizinhos 2, 2016) se sai relativamente bem, proporcionando uma certa empatia por seus dilemas, sem escorregar no exagero.

O contrário, portanto, do que encontramos ao nos deparar com Dave Franco, que surge no papel de Seth, o drogado. Ainda sem conseguir desvencilhar sua imagem do irmão mais velho (e mais talentoso), James, sua presença neste drama – veículo distante das comédias rasgadas com as quais tem se habituado – até representa uma tentativa neste sentido, mas todo esforço resulta inútil diante da sua incapacidade de provocar qualquer tipo de emoção. A expressão que assume desde o começo, que deveria ser de um homem em plena crise, perdido entre o vício e os compromissos com a família, soa mais como uma ressaca, ou mesmo um simples cansaço. Não há maleabilidade na sua composição, tornando praticamente inviável ao espectador adentrar na situação por ele enfrentada.

Katie assume para si a missão de cuidar do irmão. O roteiro não deixa muito claro os motivos dela não compartilhar dessa preocupação com os pais dos dois. Também não explica a presença da filha pequena dele, usada mais como uma muleta narrativa do que como uma presença determinante – ok, é possível que a mãe da menina a tenha deixado com ele para passar o feriado, mas de qualquer forma é estranho, ainda mais diante do histórico do ex-marido: quando confirma estar sob drogas, a irmã nem chega a reclamar, oferecendo mais uma cara de resignação, mudando sua rota e encaminhando-se direto a uma clínica de reabilitação (de preferência, a mais próxima, para não alterar muito o seu caminho). Quando os planos de interná-lo acabam não dando certo, enfileira-se uma série de episódios um tanto aleatórios – ela vai até uma boca de fumo comprar drogas para ele, os dois acabam criando confusão em uma farmácia – num ritmo próximo a uma comédia de erros. Se a intenção era buscar inspiração em títulos como Depois de Horas (1985), é preciso confessar que o tiro passou longe do alvo.

Dave Franco é o nome mais conhecido do elenco dessa produção original da Netflix inédita nos cinemas, e talvez por causa dele alguns espectadores decidam assisti-lo. Mas, se alguém aguentar mesmo a pouca duração – são apenas 74 minutos – e persistir até o final, será por causa de Abbi Jacobson, a única que parece estar de fato viva, conseguindo ir além do estereótipo fácil encontrado em situações como as aqui descritas. 6 Balões pretende ser poético, singelo e até comovente, mas tudo o que consegue é causar antipatia em relação à doença apontada, como se ele fosse apenas um fraco, carregando consigo os que estão próximos, e não um viciado necessitando de ajuda profissional e supervisão. E ao minimizar o cerne da questão, o que resta é um mero pastiche, tão descartável quanto uma seringa após o uso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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