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Sinopse

Ao aterrissar inesperadamente num planeta desconhecido, um astronauta logo percebe que não está sozinho.

Crítica

É de se perguntar o que teria levado a um ator como Adam Driver a aceitar o convite para estrelar um filme como 65: Ameaça Pré-Histórica. Por um lado, é importante estar atento que, por mais que tenha se tornado conhecido por trabalhos sérios, como os vistos em longas como Infiltrado na Klan (2018) e História de um Casamento (2019) – que lhe renderam suas duas indicações ao Oscar – não se pode desconsiderá-lo como um nome de presença no cinema de ação, visto que é ninguém menos do que o temido Kylo Ren na mais recente trilogia Star Wars. Porém, é fato que suas atuações de maior repercussão são geralmente aquelas minimalistas e conscientes dos detalhes, como as que se encontram em Paterson (2016) ou Annette (2021), talvez não tão conhecidas, mas verdadeiras pérolas a serem descobertas. Portanto, alguém acostumado a esse tipo de composição – também presente no recente Ruído Branco (2022), que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro – o que poderia acrescentar a um conjunto escapista e imediato como o do longa os diretores Scott Beck e Bryan Woods? Não muito, pelo que se vê em cena, é a mais evidente conclusão.

Mais conhecidos pelo roteiro de Um Lugar Silencioso (2018) – na continuação, Um Lugar Silencioso: Parte II (2020), no entanto, foram substituídos, permanecendo creditados apenas pela criação dos personagens – do que por terem comandado o genérico A Casa do Terror (2019), Beck e Woods emulam dessa vez muitos dos elementos já presentes no maior sucesso da dupla – a velha lógica do “time que está ganhando não se mexe”. O cenário é amplo, mas igualmente claustrofóbico pela ausência de muitos personagens. Ao mesmo tempo, há também uma ameaça constante (já antevista pelo próprio batismo brasileiro) da qual precisam se proteger a todo custo, mesmo não tendo plena ciência de quando ou como. Por fim, há ainda a questão da incomunicabilidade: na maior parte do tempo há apenas duas figuras em cena, e uma simplesmente não entende o que a outra tem – ou teria – a dizer. Assim, decidem permanecer quietos, não por não terem o que expressar, mas por não saberem como. Mímica, desenhos e outros esforços estão no cardápio, nenhum atingindo o nível de satisfação almejado.

Mills (Driver, que apesar do olhar sensível, tem porte e físico adequado às exigências que aqui se apresentam) é um astronauta que, durante uma viagem de rotina, tem sua nave atingida por uma chuva de meteoros, o que o obriga a um pouso forçado em um planeta desconhecido. Aqui, porém, cabe uma engraçada curiosidade: o sobrenome do ator, Driver, em português pode ser traduzido como Motorista, e esta é justamente a função que desempenha em cena – ele é somente o condutor de uma tripulação acomodada em cápsulas criogênicas indo em busca de um novo destino a ser colonizado. Com a queda, no entanto, todos morrem – ou quase isso. A única sobrevivente é a pequena Koa (Ariana Greenblatt, de Amor e Monstros, 2020), que por ter uma origem diversa da dele, se expressa em uma língua que o protagonista desconhece. Os dois terão que confiar um no outro, enquanto descobrem não apenas onde estão, mas os perigos que esse lugar inóspito os reserva.

A partir deste ponto, resolvido em menos de quinze minutos de trama, o fiapo de texto que se esforçava em se sustentar desaparece, e o que resta é um filme sem história, munido apenas de um argumento: como esses dois irão sobreviver? Assim como no mais básico dos videogames, eles possuem uma missão a cumprir: a nave-reserva, indicada para situações de emergência, se perdeu da nave-mãe, e eles a localizam a quilômetros de distância. Tudo o que precisam fazer é chegar até ela são e salvos. Essa, obviamente, não será uma tarefa das mais fáceis. E tudo se resume ao 65 do título. Afinal, se dar conta da relevância desse numeral não se trata de um spoiler, uma vez que é anunciado do cartaz de divulgação aos créditos de abertura: tratam-se de 65 milhões de anos atrás. Essa data, para quem tem um pouco de noção a respeito da evolução da Terra, faz referência a um importante marco: o fim do período Cretáceo, quando acredita-se que milhares de corpos celestes se chocaram com a nossa superfície, levando a uma série de explosões que teve, entre outras consequências, a extinção dos dinossauros. Ou seja, Mills e Koa atravessaram uma fenda temporal e vieram parar no passado do próprio planeta, e precisam correr contra o tempo não apenas para fugir dos lagartos gigantes que a qualquer momento podem acabar com eles, mas descobrir como fugir dali a tempo antes que o fim de tudo se abata também sobre eles.

Como visto, é não mais do que um genérico da saga Jurassic Park, porém com um orçamento limitado. Isso fica evidente, por exemplo, na demora para que o maior predador – o T-Rex, obviamente – se manifeste, por mais que indícios dele sejam visíveis desde a aterrisagem forçada. Outra comprovação é o embate final, que apesar de ter início em plena luz do dia, rapidamente se vê envolto pelas sombras noturnas – quanto mais escuro, mais fácil é para disfarçar as imperfeições digitais. E por mais que percorra a trilha facilmente antevista para situações como as aqui descritas, 65: Ameaça Pré-Histórica falha mesmo é em não oferecer as condições necessárias para que Adam Driver possa explorar sua conhecida versatilidade, se vendo restrito a situações triviais, como obrigado a lidar com areias movediças ou fugas por túneis apertados. É, enfim, não mais do que um mero jogo de sobrevivência, do qual todos sabem como irá terminar. E para deixar o retrato um pouco mais constrangedor, há a inserção de um discurso meloso sobre culpa e perda, a respeito dele ter abandonado esposa e filha, enquanto a menina tem que lidar com a morte dos pais. Eis, portanto, uma dinâmica que tem sido bastante explorada – e dramas como o apocalíptico A Estrada (2009) ou a série The Last of Us (2023) o fizeram com mais competência, entre outros – e que aqui se mostra em pleno desgaste, sem nada de novo a oferecer.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
4
Chico Fireman
5
MÉDIA
4.5

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