Crítica
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Sinopse
Em julho de 1976, um voo da Air France de Tel-Aviv à Paris foi sequestrado e forçado a pousar em Entebbe, na Uganda. Os passageiros judeus foram mantidos reféns para ser negociada a liberação dos terroristas e anarquistas palestinos presos em Israel, na Alemanha e na Suécia. Sob pressão, o governo israelita decidiu organizar uma operação de resgate atacar o campo de pouso e soltar os reféns.
Crítica
Em seu segundo projeto cinematográfico em Hollywood, quatro anos após o remake RoboCop (2014), o brasileiro José Padilha revisita o notório episódio do sequestro do voo da Air France de Tel-Aviv à Paris, ocorrido em 1976. Na ação, realizada por guerrilheiros da Frente Popular para Libertação da Palestina, com o auxílio de dois revolucionários alemães do grupo Baader-Meinhof, os passageiros, muitos judeus, foram mantidos reféns no aeroporto de Entebbe, Uganda – com a conivência do ditador Idi Amin - para a negociação da libertação de presos políticos palestinos, resultando na decisão do governo de Israel por coordenar uma arriscada operação de resgate. Um evento de grande repercussão midiática, já retratado anteriormente, ainda no calor dos acontecimentos, em dois telefilmes norte-americanos, Vitória em Entebbe (1976) e Resgate Fantástico (1976), bem como no longa israelense Operação Thunderbolt (1977) - indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro -, dirigido pelo famoso produtor Menahem Golan.
Tendo em mãos detalhes divulgados apenas em anos recentes sobre o ocorrido, o roteirista Gregory Burke constrói uma trama bastante didática e expositiva, visando dar espaço a todos os lados envolvidos. A abertura sugere uma tomada de partido favorável a Israel – com os letreiros relembrando a criação do Estado, e os ataques por parte dos palestinos sofridos desde então, inseridos sobre as imagens do ensaio de um grupo de dança local. Algo que volta a ressoar no desfecho, tendo mais uma vez o espetáculo concebido pelo coreógrafo Ohad Naharin como elemento-chave. No desenrolar da narrativa, entretanto, Padilha parece adotar uma postura mais neutra, expondo as motivações políticas, culpas e excessos cometidos por ambas as partes. Há um foco particular nas contradições que cercam os revolucionários alemães, Wilfried Böse (Daniel Brühl) e Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike), “os burgueses combatendo burguesia” – Böse era dono de uma editora.
O cineasta não deixa de apontar certa ingenuidade nos ideais da dupla, chegando a contestá-los – a cena em que o engenheiro de voo francês afirma ao alemão que “um encanador vale por dez revolucionários” exemplifica essa visão. Ainda assim, no geral, busca humanizar os personagens, como ao deixar clara a discordância dos mesmos em relação à ideia dos palestinos de isolar os passageiros judeus – sentindo o peso dos ecos do holocausto que envolvia o ato. Espelhando o conflito histórico central, todas as dinâmicas do filme são calcadas no atrito entre partes: Böse e Kuhlmann se sentem deixados de fora das decisões pelos palestinos que, por sua vez, não têm plena convicção no comprometimento dos dois. Entre os próprios alemães existe uma oposição – ele mais hesitante, ela mais disposta a encarar as consequências. Do lado israelense, temos a divisão dentro da cúpula do poder entre o primeiro-ministro Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi), considerando a negociação com os palestinos, e o ministro da defesa Shimon Peres (Eddie Marsan), defendendo a ação militar imediata.
Esse jogo de confrontos logo se mostra repetitivo e sem grande aprofundamento nas questões levantadas, fazendo com que a narrativa soe burocrática e pouco imersiva. A empatia despertada pelos personagens é limitada, já que sua construção é extremamente funcional, especialmente no que diz respeito aos passageiros. Sendo os nomes mais conhecidos do elenco, Brühl e Pike ganham o protagonismo e exibem sua habitual competência, porém, as figuras dos revolucionários também carecem de peso, e todas as tentativas de conceber algum estofo dramático a elas parece artificial – a cena de Pike no telefone do aeroporto, ou quando corta os cabelos, a passagem em que Brühl nota o número tatuado no braço da mulher judia. Há ainda um último núcleo, composto de um jovem soldado israelense e sua namorada bailarina, que acaba servindo apenas para justificar a inclusão da dança contemporânea na história.
Resultando convencional como drama, 7 Dias em Entebbe também falha ao empolgar como thriller. Padilha não consegue replicar a tensão e o senso de urgência de seus melhores trabalhos - mesmo contando com a montagem de Daniel Rezende e a fotografia de Lula Carvalho, além da trilha de Rodrigo Amarante - fazendo com que a noção de corrida contra o tempo e do risco de tragédia sejam abafados. Apenas na sequência do resgate, no ato final, o cineasta extrai o melhor do trabalho dos profissionais envolvidos para alcançar alguma intensidade, retornando ao número de dança do início como uma ferramenta dramática, mas, acima de tudo, plástica. A montagem paralela do espetáculo e da ação dos soldados, sobre o ritmo marcante da canção hebraica Echad mi Yodea, gera um inegável impacto. Seu efeito, contudo, se esvai, e ainda que a mensagem final reforçando a necessidade do diálogo para alcançar a paz seja bem intencionada, a sensação que permanece é a de uma obra aquém de sua potencialidade. Seja como registro histórico, exercício de gênero ou mesmo em suas pretensões alegóricas.
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