7 Razões Para Fugir (da Sociedade)
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Gerard Quinto, Esteve Soler, David Torras
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7 raons per fugir
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2019
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Espanha
Crítica
Leitores
Sinopse
A família, o inquilino, o casamento, o empresário, os vizinhos, a pobre criança e o atropelado. Sete histórias de comédia e drama de uma sociedade disfuncional.
Crítica
Esteve Soler teve uma ideia não das mais originais, mas que volta e meia costuma dar certo. Diretor e roteirista, chamou dois colegas – Gerard Quinto e David Torras – para dividirem com ele a condução de sete pequenas histórias que, em conjunto, seriam oferecidas ao público no atraente formato de longa-metragem. Em comum, apenas a tendência ao fantástico e ao absurdo, além de brincarem, no meio de um humor bastante particular – e de forte tendência ao sarcasmo e à ironia – com algumas das piores mazelas enfrentadas pela civilização atual. O resultado é esse 7 Razões para Fugir (da Sociedade), um título que, como já se poderia esperar, é irregular no seu todo, justificando sua existência pelos (poucos) bons momentos, a despeito dos (muitos) percalços que exibe pelo caminho escolhido.
E quais seriam, portanto, os tais motivos para correr para o mais longe possível da realidade contemporânea? Bom, segundo Soler, que é o roteirista de todos os episódios, os maiores males atuais são: família, solidariedade, ordem, propriedade, trabalho, progresso e compromisso. Para ilustrar cada um destes elementos, estão aqui reunidos um verdadeiro dream team do cinema espanhol: Emma Suárez, Lola Dueñas, Sergi Lopez, David Verdaguer, Jordi Sánchez e Alex Brendemühl talvez sejam apenas os nomes mais conhecidos, mas o certo é afirmar que todos estão em uma muito bem apurada sintonia, a despeito das tramas que recebem com o objetivo de defendê-las: algumas não mais do que uma piada solitária, outras com desdobramentos mais interessantes.
Um filho que é acordado no meio na noite pelos próprios pais que desejam que ele saiba que não apenas foi fruto de uma gravidez indesejada, como também que estes estão cansados de carregá-lo como um fardo e que, por isso, consideram que a solução mais prática seja, simplesmente, assassiná-lo. Um casal de idosos, brancos e conservadores, que a partir do momento em que um menino negro sai de dentro da televisão e se coloca sentado diante deles, é obrigado a se confrontar com seus mais profundos medos – e preconceitos. Dois vizinhos, no meio da noite, se questionam: o que há depois do número 6? Na busca pelo apartamento perfeito, quem se incomodaria se esse viesse com um suicida enforcado na sala principal? O último grito da moda pode vir não de casacos coloridos ou sapatos arrojados, mas de trabalhadores explorados. Um acidente deixa uma vítima prestes a morrer, e diante dessa verdade irrevogável, qual o sentido de qualquer esforço? Por fim, na hora do tão aguardado “sim”, o que cada um dos noivos tem, de fato, a dizer para o outro?
É o talento de Suárez e Lopez que fazem que Ordem, muito provavelmente, seja o melhor dos capítulos. Ele sabe contar de um até seis, mas o que vem depois? Ao acordar a moradora do sexto andar, a questiona: ao subir as escadas, o que há lá em cima? O non sense beira o ridículo, e somente os bons diálogos travados entre eles e o completo entendimento da situação é que garantem que o absurdo se sustente. O mesmo, no entanto, não se verifica em Trabalho, por mais que a perua personificada por Lola Dueñas se mostre disposta a defender sua personagem. Família abre bem o conjunto, apenas para se dispersar logo em seguida com Solidariedade, justamente pela caracterização excessiva dos anciões. Por outro lado, Propriedade pode muito bem se posicionar também entre os melhores, muito pelo caráter reflexivo que assume. Diferente do Compromisso, que encerra o discurso resvalando no exagero.
Como se percebe pelo segmento de desfecho, que se passa diante de uma cerimônia de casamento, 7 Razões para Fugir (da Sociedade) é inegavelmente calcado em um outro exemplar de formato similar e sotaque bastante próximo, porém de resultados muito superiores: Relatos Selvagens (2014), que chegou, inclusive, a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pela Argentina. Soler, Quinto e Torras haviam trabalhado juntos antes no curta Interior. Família. (2014), que nada mais é do que a gênese deste projeto – trata-se do conto que abre a narrativa. Com mais espaço para desenvolverem seus olhares críticos, alternam-se entre o ridículo e o curioso, o inquietante e o provocador, o sensível e o ousado, tudo isso sem muito cuidado, indo do desajeitado ao certeiro de acordo com o andar dos fatos. E se assim se dá, é justamente pela ânsia de preencher a responsabilidade assumida, mesmo que na maior parte das vezes não consiga atender com precisão o discurso que buscavam defender.
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