Sinopse
Crítica
Segundo Glauber Rocha, para fazer Cinema basta ter uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Tal frase notória, a mais lembrada de sua carreira, poderia muito bem ser aplicada a 7500, longa de estreia do diretor Patrick Vollrath. Afinal de contas, este suspense nada mais é que uma ideia até simples, mas muito bem executada, dentro das limitações que a própria história exigia.
Antes de tudo, é relevante notar que praticamente todo o filme se passa em dois cenários, ambos dentro de um avião: a cabine dos pilotos e o espaço existente logo após a porta a este local, antes da cortina que leva às poltronas ocupadas pelos passageiros. Tamanha delimitação traz duas consequências imediatas: uma, financeira, já que barateia demais o orçamento; outra, narrativa, por exigir do roteiro um certo malabarismo para segurar não só a história, mas especialmente a tensão, por 92 minutos. Consegue, por mais que haja um facilitador embutido.
Com uma sinopse que poderia ser sintetizada em apenas uma linha, "grupo de terroristas tenta tomar o controle de avião em pleno vôo e enfrenta a resistência do copiloto", salta aos olhos como Vollrath e Senad Halibasic, a dupla de roteiristas, manipula seus poucos personagens de forma a pontuar tensões, lidando não apenas com os atos de cada um mas, especialmente, com o tempo. Por mais que não haja qualquer referência a que 7500 seja um filme em tempo real, esta é a sensação transmitida ao espectador diante da aflição e dos apuros vividos, construídos paulatinamente à medida que a tentativa de sequestro tem início. Para tanto, o roteiro abusa da verborragia e da simbologia de seus parcos recursos cenográficos: a câmera de dentro da cabine, por exemplo, sintetiza tanto a segurança quanto a frustração, ao mesmo tempo em que serve também como elo de contato entre Tobias Ellis, o copiloto ferido que resiste dentro da cabine, e os demais sequestradores que ameaçam passageiros e tripulação.
Completando a ambientação tão importante a esta dramaturgia, a trilha sonora é retirada de cena e a fotografia busca uma imagem realista, que ratifica a tensão a partir de sua viabilidade. Além disto, 7500 trabalha bem o não-visto, especialmente em seu ato final, quando o que não está enquadrado influencia a narrativa. O foco, sempre, é no que acontece nestes dois ambientes do avião e manter tal proposta até o fim, resistindo às tentações de momento, não só mantém sua coesão narrativa como traz ao filme uma solidez intrínseca, no sentido da proposta bem executada.
É neste aspecto que o trabalho aqui feito por Vollrath, na dupla função de diretor e roteirista, remete à máxima de Glauber Rocha: 7500 nada mais é que uma ideia na cabeça bem executada, sem recorrer a exibicionismos tão comuns aos filmes do tipo. Guardadas as devidas proporções, lembra o trabalho feito no ótimo Culpa (2018), suspense dinamarquês que exibe as mesmas características em sua narrativa, só que ainda mais potentes. Em parte pela riqueza do roteiro, mas também por certos deslizes aqui cometidos.
Um deles atende por Joseph Gordon-Levitt. Não devido à qualidade de sua atuação, longe disto, ele até compõe bem o papel do copiloto que precisa lidar com uma situação extremamente tensa sem ter o preparo necessário - e alguém estaria? -, mas a simples presença de um ator de renome nesta função já assegura uma expectativa junto ao público sobre o que virá a acontecer. Para esta história, no formato em que é contada, um elenco desconhecido seria mais adequado, até mesmo no sentido de potencializar a narrativa. Outro revés é em relação a uma súbita reviravolta ocorrida em plena cabine, um tanto quanto inverossímil diante do contexto, a qual não será aqui exposta por motivos de spoiler.
Ainda assim, 7500 é um filme bastante interessante não só pela tensão provocada mas, especialmente, pela forma empregada para atingi-la. Patrick Vollrath demonstra qualidades como realizador ao, habilmente, entregar um filme bastante acessível ao grande público que não se contenta em ser, apenas, mais do mesmo.
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Intenso até próximo do final, apesar da inabilidade dos sequestradores. Comparável é a um prazeroso coito, que é interrompido sem prévio aviso.