Crítica
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Sinopse
Em 80 For Brady, quatro amigas de longa data empreendem uma viagem inesquecível para assistir ao ídolo Tom Brady jogar o Super Bowl e, assim, viverem uma grande experiência juntas.
Crítica
Jane Fonda, após ter anunciado aposentadoria em mais de um momento, vem experimentando um interessante renascimento de sua carreira desde sua separação do último marido, o empresário e jornalista Ted Turner, no início dos anos 2000. Entre Stanley e Iris (1990) e A Sogra (2005) se passaram quinze anos, mas desde então tem feito de tudo um pouco – dramas e comédias, animações e documentários, séries e sequências. Em comum em todas estas apostas parece estar a decisão consciente de não se levar mais tão a sério e buscar, em última instância, uma brincadeira entre amigas. Uma de suas parceiras mais frequentes nestes tempos tem sido Lily Tomlin, com quem dividiu as sete exitosas temporadas de Grace and Frankie (2015-2022), além de outros projetos. As duas atuaram juntas pela primeira vez no clássico Como Eliminar Seu Chefe (1980), na ocasião ao lado de Dolly Parton. Pois bem, o que dessa vez fazem é investir não mais num trio, nem mesmo numa dupla, mas num quarteto. E as convocadas foram Sally Field e Rita Moreno, além, veja só, do craque de futebol americano Tom Brady. O resultado é esse 80 for Brady: Quatro Amigas e uma Paixão, que atende sem muito esforço o que se poderia esperar de um encontro motivado pela diversão e sem maiores aspirações envolvidas. Entretém, ainda que elas tivessem potencial para irem muito além.
Afinal, entre elas há nada menos do que cinco Oscars – Fonda ganhou por Klute: O Passado Condena (1972) e por Amargo Regresso (1979), enquanto que Field levou os seus por Norma Rae (1980) e por Um Lugar no Coração (1985), ambas como protagonistas, sendo que Moreno conquistou sua estatueta dourada quando tinha apenas 30 anos, por sua participação como coadjuvante do musical Amor, Sublime Amor (1961), enquanto que Tomlin chegou a ser indicada ao prêmio máximo de Hollywood (como coadjuvante por Nashville, 1976), mas ainda lhe devem uma vitória. Essa inversão de status profissional, por assim dizer, se dá na dinâmica estabelecida por suas personagens. Lou (Tomlin) é, de fato, a protagonista do filme dirigido por Kyle Marvin (ator visto na minissérie WeCrashed, 2022, aqui estreando como realizador). Será sua doença que reunirá as amigas de longa data e dará início a uma tradição: as quatro estão sempre juntas a cada novo jogo do campeão Tom Brady, por quem torcem fervorosamente. Uma vez recuperada, o costume não foi abandonado, e seguem unidas a cada nova partida, como sinal de boa sorte.
Porém, os anos passaram, e novos exames se fizeram necessários. Temerosa de ficar ciente dos resultados, que acredita não serem mais tão positivos como da última vez, Lou fará uma investida ousada: mentirá que ganhou em um concurso quatro ingressos para o Super Bowl, não apenas o jogo mais cobiçado de todo o calendário esportivo norte-americano, mas também o momento que tem sido visto como o adeus de Brady dos campos. Mesmo sem saberem das reais intenções por trás dessa armação, Trish (Fonda, a glamorosa), Maura (Moreno, a viúva saudosa) e Betty (Field, a fiel companheira em busca de um grito de independência) aceitarão o convite. E assim partem, ignorando os desafios que lhes esperam pelo caminho. Como um duelo de comida apimentada, o reencontro com uma antiga paixão, a perda dos bilhetes e até mesmo a descoberta de que estes, enfim, são falsos. Como superar todos estes obstáculos? Bom, está nestas manobras grande parte da graça.
Mas se o enredo escrito por Sarah Haskins e Emily Halpern (dupla indicada ao Bafta e ao Writers Guild of America pelo genial Fora de Série, 2019) se mostra aquém do potencial de suas escritoras, ao menos é engenhoso o suficiente para explorar as zonas de confortos de suas protagonistas. Jane Fonda está mais uma vez desfilando perucas e ousadia como uma autora de livros eróticos que tudo que almeja é encontrar o amor verdadeiro, tipo que já visitou em diferentes ocasiões de sua trajetória. Rita Moreno, por sua vez, transita bem entre o fervor latino (a atriz é porto-riquenha) e o carinho de uma avó determinada, ainda que por vezes se entregue a um merecido descanso. As que se destacam um pouco mais, no entanto, são mesmo Sally Field e Lily Tomlin. Se a primeira vai aos poucos permitindo que a insatisfação de uma vida inteira regada por ordens e autocontrole venha abaixo em nome de uma nova experiência – a velha, porém certeira, mensagem de que é preciso ter coragem e correr riscos antes que seja tarde demais – a segunda investiga outras camadas de uma personalidade mais contida, mas não menos aventureira. No final, cada uma a seu jeito irá oferecer as lições de vida que estão ao alcance delas, algumas mais óbvias do que as outras, mas não menos válidas.
Participações especiais de nomes como Billy Porter, Bob Balaban, Sally Kirkland, Sara Gilbert, Ron Funches, Rob Corddry, Harry Hamlin e até mesmo da celebridade gastronômica Guy Fieri vão pontuando a ação como temperos ocasionais, elevando a temperatura, mas nunca a ponto de eclipsar as verdadeiras estrelas. Por outro lado, impressiona a desenvoltura de Tom Brady (também produtor do longa). Por mais que o esportista tenha feito rápidas aparições em Ted 2 (2015) ou na série Entourage: Fama e Amizade (2009) – sempre como ele mesmo – dessa vez se mostra ainda mais à vontade em oferecer uma versão ficcional da própria persona, brincando com sua condição e servindo como foco para essas mulheres que partem em busca de uma nova energia, nem que seja a última. 80 For Brady: Quatro Amigas e uma Paixão – o título é ótimo pela sonoridade, por mais que Field tenha 75 (como chega a repetir em mais de uma ocasião) e Moreno já tenha passado dos 90 (algo que não faz questão de lembrar) – reúne algumas das maiores atrizes do século XX sem, no entanto, oferecer palco para o que de melhor elas são capazes. Por outro lado, entrega entretenimento despreocupado. E se estão satisfeitas com isso, como exigir mais?
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Chico Fireman | 3 |
Maria Caú | 2 |
MÉDIA | 1.7 |
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