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Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

Após uma terrível tragédia em sua Índia natal, a família Kadam se muda para a Europa em busca de uma nova vida. Acabam fixando residência em uma pequena vila no interior da França, onde abrem um restaurante de comida típica. O problema é que bem em frente ao estabelecimento está o consagrado restaurante de Madame Mallory, reconhecido internacionalmente e frequentado por artistas e ministros. Os dois logo entram em conflito, ao mesmo tempo em que o filho mais velho dos Kadam vai empregando na cozinha todo o aprendizado que teve com a mãe, revelando-se como um chef de mão cheia.

Crítica

Qual é a distância que devemos percorrer para realizarmos nossos desejos mais intensos? Para alguns é o caminho até a escola, a faculdade, a busca por um mestre. Ou o esforço para sobreviver às adversidades da família, da região onde se mora ou das opções existentes ao seu alcance. Para Hassan, protagonista de A 100 Passos de um Sonho, sua jornada exigiu tudo isso, e mais. Afinal, a caminhada indicada no título diz respeito apenas do trajeto final de um percurso muito maior, que teve início ainda em usa terra natal, na ainda distante e exótica Índia, e se estendeu até uma inevitável consagração em pleno coração da França, terra da alta gastronomia e dos sabores mais refinados. Uma especiaria a ser degustada com delicadeza, porém sem maiores espantos, exatamente como o filme que se encarrega de retratar essa história.

Apesar do destaque recebido pela divulgação, a sempre eficiente Helen Mirren não é a personagem principal em cena – ela está mais para uma antagonista que, felizmente, acaba se tornando a maior aliada do nosso herói. Ela dá vida à Madame Mallory, a proprietária de um conceituado restaurante em um pequeno vilarejo francês frequentado por autoridades e ministros. Acontece, para seu desagrado, acaba se mudando para a residência exatamente em frente ao seu estabelecimento uma família de indianos em busca de um lugar para ficar. O pai e seus filhos estavam percorrendo o continente europeu atrás de um novo ponto de partida para suas vidas após terem fugido às pressas da Índia, resultado de uma rebelião política local que, entre outras tragédias, pôs fim à vida da matriarca. Mas os ensinamentos dela – principalmente no que diz respeito à cozinha – seguem presentes, principalmente nas extraordinárias habilidades do primogênito.

Legítimo feel-good-movie, ou seja, daqueles longas feitos para agradar a maior parcela possível da plateia, A 100 Passos de um Sonho tem produção de Steven Spielberg e Oprah Winfrey – dois nomes de peso em Hollywood que já adiantam com precisão o tom adotado pela trama. Para completar, na direção está Lasse Hallström, realizador de alguns dos títulos mais chorosos dos últimos tempos, como Sempre ao Seu Lado (2009) e Chocolate (2000), entre tantos outros. A lógica aqui empregada, como não poderia ser diferente, usa e abusa de velhos clichês, como o poder transformador dos temperos exóticos, a força de uma boa refeição como elemento agregador e o gasto ditado de que quem muito quer e persiste certamente alcançará todas as suas metas. Como bem sabemos, isso está longe de corresponder ao que vemos diariamente na vida real, mas como uma dieta equilibrada de apenas duas horas numa sala escura, o resultado até que satisfaz.

Além de Mirren, outro nome de destaque do elenco é o do veterano Om Puri (ator indiano visto em clássicos como Gandhi, 1982, e indicado ao Bafta por Tradição é Tradição, 1999). Os dois acabam formando um improvável casal, o que gera uma simpatia ainda maior para o projeto como um todo. Mas ainda que seja desprovido de grandes surpresas ou reviravoltas de impacto, A 100 Passos de um Sonho é um filme eficiente em seu propósitos de recriar na tela grande o mesmo ambiente de magia e sedução já percebido no best seller de Richard C. Morais. Típica obra que começa no cinema e termina na mesa, agrada sem exigir demais da audiência, provocando tanto quanto um prato assinado por um chef de respeito: até atiça o paladar, mas seu impacto está mais nos olhos do que na barriga – ou na mente, neste caso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
6
Francisco Carbone
3
MÉDIA
4.5

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