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Sinopse

A correlação entre o racismo e o boom no sistema prisional dos Estados Unidos é feita por estudiosos, políticos e ativistas.

Crítica

No belo Lincoln (2012), o diretor Steven Spielberg e o roteirista Tony Kushner construíram um minucioso estudo das batalhas travadas pelo presidente norte-americano Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis, estupendo) para aprovar, em meio à violentíssima Guerra de Secessão, uma emenda constitucional que aboliria a escravidão nos Estados Unidos. Ao final do filme, o sacrifício (literal, inclusive) de Lincoln deixa como herança esse valioso acréscimo à Constituição daquele país, determinando que “não haverá nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito a sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição de um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado”. No entanto, restou nesse texto uma brecha para que outra forma de violência, por vezes semelhante à escravidão, fosse praticada contra ex-escravos e seus descendentes ao longo dos 150 anos seguintes. É essa brecha que o documentário A 13ª Emenda busca discutir.

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Dirigido por Ava DuVernay, que com Selma (2014) se tornou a primeira diretora negra a ter um filme indicado na categoria principal do Oscar, A 13ª Emenda se estrutura sobre dados assustadores a respeito do sistema prisional norte-americano. Atingindo majoritariamente jovens afro-americanos, tal sistema fez do trecho final da referida emenda constitucional (“salvo como punição de um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado”) o meio para, de acordo com DuVernay, dar continuidade à exploração, sem remuneração, dessa mão-de-obra. Sobretudo em tempos mais recentes, com o boom da indústria de cadeias privadas no país, que depende de uma demanda crescente (de presidiários) para existir.

O filme é muito efetivo na construção de seu argumento. A apresentação de números que mostram o aumento da quantidade de presos nos Estados Unidos desde a década de 1970, relacionando-os às políticas antidrogas cada vez mais agressivas dos governos Nixon (1969-1974), Reagan (1981-1989) e Clinton (1993-2001), deixa clara a ineficácia dessas políticas, mas também quais eram seus reais alvos (sobretudo para Nixon): comunidades negras que, nos anos 60, protagonizaram a luta pelos direitos civis – tema, aliás, de Selma. Nesse sentido, A 13ª Emenda funciona quase como uma continuação do filme anterior de DuVernay, ainda que Selma tenha um poder emocional e uma capacidade de criar imagens cinematograficamente marcantes ausentes nesse documentário.

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Surge aqui, então, o que talvez seja o grande problema de A 13ª Emenda: seu formato. Fazendo uso de uma junção de entrevistas com professores universitários, militantes de movimentos negros e lideranças políticas (inclusive algumas que contribuíram para a construção dessas políticas antidrogas e que agora as veem como equivocadas), imagens de arquivo, grafismos modernos para a apresentação de dados e letras de músicas com forte teor de protesto, o filme é um daqueles típicos documentários feitos para a TV fechada norte-americana. Categorizados pelo pesquisador Fernão Pessoa Ramos como “documentários cabo”, eles têm um argumento sobre determinado tema e se desenvolvem linearmente, da maneira mais expositiva possível, no intuito de comprovar esse argumento, evitando se abrir a contradições que poderiam se manifestar internamente em suas próprias narrativas. Se isso não chega a enfraquecer politicamente A 13ª Emenda, já que o debate proposto por DuVernay é muito relevante e sua posição bastante contundente, serve para torná-lo bem menos interessante do que poderia ser como cinema.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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