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Crítica


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Sinopse

Dominguinhos da Pedra vive há praticamente quatro décadas numa caverna no interior do estado de Minas Gerais. Aos 71 anos, esse homem singular possui hábitos e comportamentos curiosos.

Crítica

Um filme vencedor do festival É Tudo Verdade é uma atração a parte, não é mesmo? Diria que não. Necessariamente diria que não. Afinal, o grande vencedor da edição de 2004, A Alma do Osso, é na verdade um filme árido e de difícil compreensão. Ele foi prestigiado e credenciado pelo júri por sua narrativa e linguagem inovadora – inclusive, consta no seu material promocional o seguinte texto: “Representa a sinalização da chegada de uma única voz no mundo do cinema” (assinado pelo júri do Festival).

Bem os jurados nem sempre tem critérios claros, e muitas vezes são pra lá de polêmicos. Lógico que a observação e a forma como trata o tema é meticulosa e foi planejada para ser a de um cinema autoral. Mas como o filme só chegou seis anos depois aos cinemas, acabou perdendo parte de seu poder de impacto. Seu formato foi utilizado por muitos outros documentários que vieram de carona e que acabaram incorporando mais agilidade na montagem e na narrativa. Tudo é lento demais em A Alma do Osso, e em grande parte entediante. Sua fotografia crua carecia de mais cuidados e atrativos. A qualidade da imagem também deixa a desejar. A captação tem problemas excessivos de foco, enquanto que a imagem é muito pixelada, de um gosto duvidoso. Fui conferir sua exibição inédita em Porto Alegre e confesso ter ficado um tanto decepcionado frente à expectativa que nutria. O documentário dirigido pelo mineiro Cao Guimarães retrata o cotidiano de um eremita (chamado Dominguinhos da Pedra), um homem de 71 anos que mora em cavernas há mais de 41 anos. Vemos durante o filme seu cotidiano entre uma infinidade de latas e sacos numa falsa desordem. Os 10 minutos iniciais apresentam longos planos repetitivos no interior da caverna, enquanto o eremita prepara seu café. Ele cata latas de cerveja, cata plástico, coloca água, tira, coloca de novo, procura mais e nada acontece. E lá se foram DEZ minutos. Para então depois tomar um café. Isso tudo em uma organização caótica de objetos espalhados por todo o espaço. Espaço que durante toda esta introdução só vemos internamente. Ele vive em uma sujeira, uma condição indigna para um ser humano.

Este é um retrato real e chocante de uma pessoa que se isolou da sociedade e mergulhou na solidão. Me fez lembrar de um vídeo de Fernando Meirelles nos anos 80 (ele era o cinegrafista da produtora Olhar Eletrônico) entrevistando mendigos nas ruas de São Paulo. Acontece que o registro feito por Meirelles tinha uma dinâmica mais próxima do espectador. Os mendigos surpreendiam em respostas, em alguns casos até elaboradas. Diferente do ritmo adotado por A Alma do Osso. O filme propõe contemplação, e falha ao não contar história nenhuma. Não sabemos de onde ele veio, como chegou ali, como sobrevive, quase nada. Lá pelas tantas, entre dificuldades para pronunciar as palavras e para desenvolver o pensamento, o eremita conta um sonho confuso e depois a história da Alma do Osso que originou o título da obra. Uma história fantasiosa de um viajante que enterrou um cadáver e foi salvo pelo espírito do mesmo, dos raios fatais de uma tempestade. Ele ainda toca um violão e canta uma música precariamente. Depois destes momentos mais interessantes fiquei refletindo: ‘será que o filme não poderia explorar em mais estas situações diversas? Ou apenas isso foi selecionado?’ Quase no final, o homem ouve um rádio de pilha e recebe jovens de um ônibus escolar cuja estrada fica uns 500 metros da caverna. Depois conta uma história que nos leva a crer que tenha sido paciente de um hospital psiquiátrico. Repito. Será que não havia uma história melhor por se descobrir?

Em minha opinião, o fato de não haver aparente interferência da equipe com o eremita limita o resultado do que é apresentado. Além disso, no último instante do filme, a equipe apresenta ao velho suas imagens na câmera, você percebe a sua emoção se reconhecendo. Então ficamos pensando: ‘foi ele quem escolheu a solidão ou ela teria escolhido ele?’ Não espere respostas. Não em A Alma do Osso.

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é diretor de cena e roteirista. Graduado em Publicidade e Propaganda com especialização em Cinema (Unisinos /RS). Dirige para o mercado gaúcho há 20 anos. Produz publicidade, reportagem, documentário e ficção. No cinema é um realizador atuante. Dirigiu e roteirizou os documentários Papão de 54 e Mais uma Canção. E também dois curtas-metragens: Gildíssima e Rito Sumário. Seus filmes foram exibidos em vários festivais de cinema e na televisão. Foi diretor de cena nas produtora Estação Elétrica e Cubo Filmes. Atualmente é sócio-diretor na Prosa Filmes.
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