Crítica
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Sinopse
Hedi é um jovem introvertido, que não espera muito da vida. Ele permite que todos tomem decisões por ele, como sua autoritária mãe, que planeja seu casamento com Khedija, seu chefe, que o manda para viagens em datas comemorativas, e seu irmão, que sempre diz como deve se comportar. Durante um compromisso de trabalho, conhece Rim, que o intriga sobre sua segurança e liberdade, se envolvendo em uma passional relação amorosa. Agora, durante o tempo em que os preparativos do casamento acontecem, Hedi é forçado a tomar uma decisão.
Crítica
Um pouco de interpretação de texto, antes de mais nada, por favor. Ainda que o título original seja mais direto – Hedi, ou seja, o nome do protagonista – o batismo recebido no Brasil não é completamente absurdo (como alguns já começaram a reclamar). Afinal, não se mudou o foco da discussão. O ponto de vista da trama, por mais que pareça ter sido deslocado, não foi transferido. Rym (Rym Ben Messaoud) só pode ser chamada de A Amante se levarmos em conta sua relação com Hedi (Majd Mastoura). E é nele, enfim, em que se concentram todas as atenções, do primeiro ao último fotograma. É o que ele sente, como ele a vê e aos demais ao seu redor, o que aguenta e, principalmente, será no seu silêncio em que a ação do filme irá se desenvolver.
Claro, alguns poderão afirmar que o nome escolhido por aqui já se trata de um gigantesco spoiler. E isso, de fato, é indefensável. Pois uma mulher só pode ser chamada de ‘amante’ se existir uma outra que se considere a ‘oficial’. Se um homem estiver indeciso entre estas duas, a primeira até poderá deixar esta condição, mas apenas se assumir o lugar da segunda. No entanto, por mais que possa ser essa a vontade dela, cabe a ele tomar o primeiro passo – se desvencilhar da esposa para tentar algo sério com a nova paixão. Por fim, o poder de decisão da que chegou depois, em aceitar ou não essa posição, também não pode ser ignorado. Há um emaranhado de sentimentos em jogo, e nenhum destes três indivíduos – e os seus próximos, como pais e irmãos – podem ser desconsiderados. Ainda mais em uma sociedade de costumes rígidos como a tunisiana.
Hedi é o caçula que levou a vida sendo comparado com os outros. Sua postura, principalmente diante da mãe, é de cabeça abaixada, concordando com tudo. Tanto que seu casamento com uma vizinha, uma garota que mal conhece e com quem nunca teve um contato mais íntimo, está marcado para os próximos dias e ele pouca reação esboça. Assim tem que ser, e assim será, imagina-se. Durante uma viagem de trabalho, a qual ele usa mais como escape da rotina entediante que leva, preferindo passar seus dias na praia do que atendendo aos seus compromissos profissionais, ele acaba se envolvendo com uma garota que trabalha como dançarina no hotel onde está hospedado, entretendo hóspedes e turistas. Ela está de passagem, é uma mulher do mundo, e a ele se entrega sem ressalvas. É apenas uma noite, que pode se tornar também um dia, ou quem sabe uma mudança total de rumo.
O peso do mundo está sobre os ombros de Hedi. O dia do casamento se aproxima, e ele não sabe o que fazer. Aos 25 anos, tudo o que conhece é a concordância e o ficar. Nunca pensou em partir, como o irmão, que foi para Paris e até hoje não trouxe a esposa ou a filha para visitar a sogra/avó. A noiva também tem seus problemas – os pais estão em crise, sonha em se emancipar daquilo tudo – e a mãe dele, que sempre imaginou estar fazendo o melhor para o filho, desde a morte do marido afogou suas mágoas no compromisso familiar, cegando-se dentro dos seus próprios dilemas e angústias a tal ponto que nem mesmo percebeu a infelicidade daquele que foi o único a permanecer ao seu lado.
O diretor e roteirista Mohamed Ben Attia afirmou que começou a escrever este que é seu filme de estreia motivado pela vontade de contar uma história de amor. Quando terminou, percebeu ter ido além, delineado questões e sentimentos que encontram paralelo na jovem e frágil democracia do seu país de origem. O que não deixa de ser um olhar curioso, principalmente para o espectador estrangeiro – como nós, brasileiros. Afinal, A Amante pode ser que por aqui atraia um público em busca de desenlaces de luxúria e segredos, mas o que irá encontrar é um mergulho na alma de alguém que precisa, desesperadamente, respirar. E este, seja um indivíduo ou uma nação, sabe bem que não conseguirá manter-se submerso por muito tempo, e chegará o momento de dizer basta. Mas o que vem depois disso? É aí, e que fique claro, em que as verdadeiras decisões são tomadas, separando os homens dos garotos. Tanto na realidade quanto na ficção.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
MÉDIA | 7.5 |
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