Crítica
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Sinopse
No interior da França, uma jovem de 18 anos alega ter vista a Virgem Maria em pessoa. A notícia do acontecimento logo se espalhou, e milhares de peregrinos se deslocaram até o local da suposta aparição. Jacques, um repórter cético de um famoso jornal francês, é convidado pelo Vaticano para participar da comissão responsável por investigar o caso.
Crítica
O título do longa do diretor Xavier Giannoli, mais conhecido no Brasil pelo biográfico Marguerite (2015), pode dar a impressão inicial de se tratar de uma história de suspense ou terror – inclusive, há um homônimo do gênero lançado em 2012 e estrelado por Sebastian Stan que não deve ter marcado a memória de muita gente. No entanto, este A Aparição, ainda que não seja necessariamente baseado em fatos reais, segue por um caminho mais concreto, apostando num viés que investe na verossimilhança e no crível. Por outro lado, não deixa de lado as possibilidades do religioso e do sobrenatural. E é justamente por não se decidir entre um caminho ou outro que o filme percorre durante grande parte da sua (longa) duração mais dúvidas do que respostas, o que tanto pode ser uma escolha inteligente quanto um resultado frustrante.
No começo de A Aparição, encontramos o jornalista Jacques Mayano (Vincent Lindon) em um momento crítico: o fotógrafo que costumava acompanhá-lo em suas principais reportagens foi morto em uma emboscada em um território de guerra. O repórter está, portanto, sem saber como continuar, um tanto perdido na vida. A pessoa perfeita para receber um telefonema do Vaticano, chamando-o para uma conversa privada com um dos mais altos bispos da Igreja. E o pedido deste é simples: no sul da França, uma garota afirma ter presenciado uma ‘aparição’ – que é como chamam quando alguém alega ter vislumbrado a imagem da santa Maria, mãe de Jesus Cristo. Sem terem como investigar a declaração por conta própria, pedem agora que o profissional vá até o lugar apontado e funcione como um elo independente, analisando os fatos e os testemunhos para verificar a autenticidade do que teria ali ocorrido.
Declaradamente ateu – ele, inclusive, chega a se afirmar como tal na conversa com o clérigo – Mayano é daquele tipo que mais observa do que questiona, ainda que saiba a importância da pergunta certa, no momento apropriado. É por isso que consegue se aproximar de Anna (Galatéa Bellugi, de Coração e Alma, 2016), a jovem no centro dessa questão. Ao seu redor está o padre local (Patrick d’Assumçao, de Um Estranho no Lago, 2013), que proíbe qualquer questionamento – e até interrompeu as comunicações com o Vaticano – e outros que atendem com perfeição ao perfil de aproveitadores. Mas, seriam mesmo? Não seria um reducionismo bastante simplista investir neste contexto, uma vez que o assunto abre muitas outras oportunidades?
Esta é exatamente a leitura que Giannoli imprime ao comportamento de Mayano. Tanto que ele passa a tratar o caso como mais uma investigação policial, indo atrás de provas e elementos que eliminem suas dúvidas, ao invés de apresentá-lo a novas contradições. Assim, acaba escavando o passado de Anna, revirando seu histórico, confrontando-se com sua trajetória como órfã, o desejo de se tornar freira e os laços e amizades que a conduziram até aquele momento. Tudo isso colabora para A Aparição se aproximar do público, pois as reviravoltas são bem pontuadas, as descobertas realmente colaboram com o andar da trama e os mistérios, quando surgem, não se posicionam de forma gratuita, atendendo a um propósito pertinente. E este diz respeito ao principal debate da obra: a cegueira que a fé pode proporcionar e a ausência de explicações para episódios que vão além dos assuntos terrenos. Dois âmbitos conflituosos, mas que rendem boas discussões.
Amparado por mais uma atuação segura e resistente de Lindon, um dos atores mais confiáveis do atual cenário francês, e pela presença hipnotizante da jovem Bellugi, que surge como uma verdadeira revelação, A Aparição peca apenas no seu terço final, quando o realizador – também um dos responsáveis pelo roteiro – decide abandonar o campo das sugestões e oferecer respostas até mesmo àquilo que não se fazia necessário. Esta nítida vontade por entregar mais do que o suscitado esvazia muito da força do filme, ainda que não a esgote por completo. E no final, por mais que a sensação seja de que o esforço exigido até aquele momento tenha sido em vão – afinal, por que tantas voltas se era para escorregar no óbvio? – há de se fazer válidas as lembranças angariadas até aquele instante. Afinal, o importante não é apenas o fim da jornada, mas, também – e talvez até mais – os passos dados que conduziram até aquele ponto.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
MÉDIA | 7 |
Perfeita a crítica do Milane. Exatamente a sensação que eu tive no final do filme, respeito! Respeito pelo que é visto além do que todos vêem e se antecipam a concluir. Assim fica marcada da importância dos "detalhes profundos" da vida.
Excelente filme para discutir com os amigos., final surpreendente, gostei bastante. Imperdivel.